Aproxime-se da luz
Neste Domingo Laetare a fonte da nossa alegria é a bondade de Deus, que “amou tanto o mundo, que deu o seu Filho Unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas, tenha a vida eterna” (Jo 3, 16).
No Evangelho de hoje, contemplamos a parte final de um diálogo oculto, ocorrido entre Jesus e Nicodemos. Era noite quando Jesus foi procurado por Nicodemos, pois ele estava impressionado com os sinais que Jesus fazia, mas, ao mesmo tempo, preso pela penumbra que não o deixava contemplar a verdade em plena luz do dia. Nicodemos é aquele que busca a luz em meio às trevas, talvez como muitos, que ainda não tiveram a coragem de fazer o novo nascimento, a passagem das trevas para a luz, o abandono do homem velho para permitir a vida do homem novo, como é o convite constante do tempo quaresmal.
Em Jesus vemos com alegria a iniciativa do Deus que nos amou por primeiro (Cf. 1Jo 4, 19), e que agora chama a cada um dos seus a viverem também a dinâmica desse amor. O maior dos negacionismos é ir contra este amor que, diferentemente do modo humano de amar, ama sempre gratuitamente. O amor do homem tem sempre algo de egoístico, enquanto o amor de Deus é sempre puro dom.
O primeiro passo para um amor mais desinteressado, à semelhança do amor com o qual somos amados por Deus, é crer no Cristo e ser movido pelo Espírito Santo. Por isso, mais do que nunca, é preciso permitir que Deus seja Deus em nossas vidas, realize em nós a sua obra, e que nos abramos a um sincero conhecimento sobre Ele, deixando definitivamente de lado os protótipos de Deus que vamos criando, muitas vezes baseando-nos em pseudo-categorias que só nos levam àquilo que Deus não é.
Deixar Deus ser Deus em nós é, portanto, abandonar os preconceitos impostos por uma sociedade que muitas vezes o despreza, reconhecendo que Deus é amor e permitindo que esse amor nos mova o coração. Tudo isto se traduz em vida eterna e salvação, e esta é a nossa completa fonte de felicidade, pois nisto está o cumprimento perfeito do plano de amor do Pai: salvar-nos em Cristo Jesus.
É claro que depois de muito tempo nas trevas, abrir os olhos diante da luz não é uma tarefa fácil, há um ofuscamento inevitável, talvez comparável com aquele que teve São Paulo ao contemplar a luz daquela misteriosa visão do ressuscitado (Cf. At 9, 3-9). Mas, assim como Nicodemos foi dando passos em direção à luz, que cada um de nós também saiba reconhecer a presença do Cristo que nos chama e encoraja para nos aproximarmos dele, a fim de que em sua luz contemplemos sempre mais a luz (Cf. Sl 35, 10).