2. Cristo – centro da vida cristã
Qual é o centro da vocação cristã? Cristo. É desde Cristo que aparece toda a nossa visão horizontal e nele encontramos aberto o horizonte da esperança nesse céu cinzento (cf. Homilia, 19/03/2013, no início do ministério petrino). Através de Cristo entramos em diálogo com o Pai e o Filho. A vida cristã consiste especialmente nesse relacionamento com as Pessoas divinas (cf. Homilia, 05/05/2013, no dia da piedade popular). Noutro momento, pregando às crianças, afirmou: “E é esta é a vida cristã: falar com o Pai, falar com o Filho e falar com o Espírito Santo” (Homilia, 26/05/2013, na solenidade da Santíssima Trindade).A insistência do Papa na pobreza não obedece a critérios de teologia marxistas da libertação. Explicou aos movimentos eclesiais durante a vigília de Pentecostes que a pobreza que ele tem na cabeça é uma categoria teológica: Cristo se fez pobre, se fez um de nós, veio ao nosso encontro. O cristão deve ir ao encontro dos demais, vivendo desta maneira a pobreza de Cristo. Um filho de Deus e da Igreja deve procurar a carne de Cristo, também no irmão que sofre. A Igreja, não sendo uma ONG, não pode esquecer que oferece o Evangelho de Cristo pelo testemunho e pelo anúncio (cf. Discurso, 18/05/2013, na vigília de Pentecostes).Como Cristo – o Vivente, o “hoje” de Deus – está no centro da vida do cristão, é preciso deixar-se guiar por ele, por sua verdade, suas sugestões, suas novidades nas nossas vidas. É preciso evitar o envelhecimento interior abrindo-nos às surpresas de Deus no nosso dia-a-dia (cf. Homilia, 30/03/2013, na vigília pascal). A novidade da vida cristã nos faz ter forças para ir contra a corrente quando for preciso, mas também o ir contra a corrente nos dá força e coragem, pois é preciso toda uma ginástica que treina a nossa vontade e o nosso desejo de aproximarmo-nos mais do Senhor (cf. Homilia, 28/04/2013, na crisma). Não podemos permanecer sempre nas nossas estruturas, por vezes caducas, nos nossos esquemas de sempre, frequentemente manchados pelo nosso egoísmo; Deus nos impulsiona a abrir-nos a essas novidades que ele vai apontando para nós. As surpresas de Deus nos tiram do nosso comodismo, mas fazem muito bem à alma, pois, neste caso, “não se trata de seguir a novidade pela novidade, a busca de coisas novas para se vencer o tédio, como sucede muitas vezes no nosso tempo. A novidade que Deus traz à nossa vida é verdadeiramente o que nos realiza, o que nos dá a verdadeira alegria, a verdadeira serenidade, porque Deus nos ama e quer apenas o nosso bem” (Homilia, 19/05/2013, no dia de Pentecostes).O Papa Francisco gosta muito de falar da misericórdia de Deus, cujo rosto concreto é o de Jesus (cf. Homilia, 07/04/2013, na posse da Catedral de Latrão). Na cruz do Senhor, olhando-o a entregar-se por nós, encontramos a sua misericórdia e o seu amor. O Papa Francisco chegou a afirmar que a misericórdia é a mensagem mais forte de Jesus. Segundo S. Faustina Kowalska, a misericórdia é o maior atributo de Deus. Nesta linha, o Papa afirmava que o Senhor “O Senhor nunca Se cansa de perdoar, nunca! Somos nós que nos cansamos de Lhe pedir perdão. Peçamos a graça de não nos cansarmos de pedir perdão, porque Ele jamais Se cansa de perdoar” (Homilia, 17/03/2013, na igreja de Sant’Ana, no Vaticano). Essa misericórdia infinita caracteriza o que o Papa chama de “estilo de Deus”, que vai moldando paulatinamente o nosso estilo: “este é o estilo de Deus: não é impaciente como nós, que muitas vezes queremos tudo e imediatamente, mesmo quando se trata de pessoas. Deus é paciente conosco, porque nos ama; e quem ama compreende, espera, dá confiança, não abandona, não corta as pontes, sabe perdoar” (Homilia, 07/04/2013, na posse da Catedral de Latrão).Os cristãos são pessoas que estão em movimento rumo aos céus. É preciso continuar sempre, sem nos determos. Na vida cristã não podemos ficar parados, neste caso regressaríamos. Nesse movimento é necessário caminhar com a cruz do Senhor, ela é a resposta que Deus dá ao problema do mal (Discurso, 29/03/2013, após a Via Sacra). Também os cristãos devem estar bem unidos à Cruz do Senhor, caso contrário não estaríamos cumprindo a nossa missão: “Quando caminhamos sem a Cruz, edificamos sem a Cruz ou confessamos um Cristo sem Cruz, não somos discípulos do Senhor: somos mundanos, somos bispos, padres, cardeais, papas, mas não discípulos do Senhor” (Homilia, 14/03/2013, aos cardeais). Quem quiser viver seguro é só refugiar-se nas chagas de Cristo (cf. Homilia, 07/04/2013, na posse da Catedral de Latrão).Para sermos cristãos em movimento é preciso deixarmo-nos conduzir pelo Espírito Santo que cria em nós o dinamismo próprio de uma vida de filho de Deus. Diz o Papa: “O cristão é uma pessoa que pensa e age de acordo com Deus na vida quotidiana, uma pessoa que deixa que a sua vida seja animada, nutrida pelo Espírito Santo, para ser plena, vida de verdadeiros filhos. E isto significa realismo e fecundidade. Quem se deixa conduzir pelo Espírito Santo é realista, sabe medir e avaliar a realidade, e também é fecundo: a sua vida gera vida em redor” (Homilia, 16/06/2013, no dia da “Evangelium vitae”)O Papa insiste que é preciso viver o Evangelho no dia-a-dia, em primeiro lugar com as nossas ações, mas também com as palavras. A credibilidade da Igreja fica minada quando os cristãos não vivem com coerência a sua fé. Para fortalecer esse testemunho é preciso que nos convertamos cada vez mais ao Senhor: “Há uma pergunta que eu queria que ressoasse, esta tarde, no coração de cada um de nós e que lhe respondêssemos com sinceridade: Já pensei qual possa ser o ídolo escondido na minha vida que me impede de adorar o Senhor? Adorar é despojarmo-nos dos nossos ídolos, mesmo os mais escondidos, e escolher o Senhor como centro, como via mestra da nossa vida” (Homilia, 14/07/2013, na basília de São Paulo extra-muros).