Is 40,1-5.9-11; 2Pd 3,8-14; Mc 1,1-8
Caríssimos Irmãos e Irmãs em Cristo.
“Envio meu mensageiro à tua frente, para preparar o teu caminho” (Mc 1, 2)
O Tempo do Advento, durante o qual celebramos esta Ordenação Diaconal, evoca em nós muitos sentimentos e nos faz vários apelos. Advento é tempo de “espera”. É tempo de memória da longa espera do Povo Escolhido pela vinda do Salvador. Esta espera é a alma de todo o Antigo Testamento. Advento é tempo de espera da futura vinda, definitiva, vitoriosa e gloriosa de Jesus-Messias. Advento é tempo de esperança que alimenta a Igreja – o Povo de Deus em estado de constante peregrinação rumo à meta definitiva: Maranatha – Vem, Senhor Jesus! Mas também é tempo de intensa reflexão e aprendizagem de encontrar Jesus no nosso dia-a-dia: nas pessoas e nos acontecimentos que nos envolvem. É convite forte para a missão: apressar o encontro de tantas pessoas com o Salvador que ainda não é conhecido ou conhecido de forma insuficiente para sentir a alegria da comunhão com Ele.
Neste momento de Ordenação podemos tecer alguns paralelos entre o desenrolar da História da Salvação e a missão de todos nós e de modo especial destes nossos irmãos que hoje a Igreja chamará do meio do povo para o seu serviço.
Ser profeta.
Neste segundo Domingo do Advento a liturgia acentua o profetismo dos homens do passado e a dimensão profética da própria Igreja. O profetismo, entre outras definições, é uma alegre e animadora tensão entre a situação atual e uma nova realidade mais justa e mais feliz. As leituras bíblicas nos apresentam os eminentes profetas: Isaías, João Batista e São Pedro. A Igreja, por essência, é um corpo profético que anuncia constantemente e em todos os tempos o amor de Deus e a vida segundo a sua vontade.
Fomos constituídos profetas desde o nosso Batismo. Na unção pós batismal, o ministro diz: “para que participem da missão de Cristo, sacerdote, profeta e rei”.
Cada um de nós batizados, e de modo especial os ministros ordenados, temos como tarefa viver a incorporação batismal em Cristo de forma clara, convicta, transparente, autêntica, de tal forma que se torne visível em quem pusemos a nossa esperança.
O profetismo nos dias de hoje exige um profundo conhecimento da verdade e a sensibilidade com os “sinais dos tempos”, tanto positivos, quanto negativos. Vivemos cada vez mais uma cultura de laicização e distanciamento dos valores humanos perenes e dos valores espirituais. Mesmo as práticas religiosas são consideradas inúteis ou direcionadas para proveito próprio. Ser profeta é ter um claro discernimento e equilíbrio entre o que é passageiro e o que imutável. Em cada época há realidades que de alguma forma estão em contraste com o plano de Deus. Diante destas contrariedades os membros de Cristo não podem ficar nem indiferentes nem omissos. Com toda certeza, na realidade de hoje, marcada pelos pluralismos e relativismos de todo tipo, é mais difícil viver e testemunhar a sua fé do que numa cultura onde tudo era cristão e convergia para o reto relacionamento do homem com Deus. Por isso, há urgência de uma fé mais convicta e atitudes corajosas, ao ponto de se tornar de fato, diante das determinadas realidades, “sinais de contradição”: “levanta com força a tua voz, tu, que trazes a boa-nova a Jerusalém, ergue a voz, não temas”.
“Preparai (…) na solidão a estrada de nosso Deus”.
O profeta Isaías, antecipando o estilo austero de vida e a missão de João Batista, fala que para poder anunciar a Boa-nova com autoridade é preciso primeiro crescer na intimidade com Deus, mergulhado em Deus, disposto a fazer muitas renúncias.
Esta dimensão, no caso dos ministros ordenados, a Igreja quer que seja vivida, entre outras coisas, em forma de celibato. O celibato, que os diáconos prometerão como a sua forma de vida, não se limita à abstinência dos atos da sexualidade humana. É muito mais! O celibato brota de uma mística, de intimidade com Jesus Cristo e do amor à sua Igreja. É Cristo e o bem das almas que devem preencher a solidão do consagrado, muitas vezes pesada e até dolorosa. O celibato não é apenas uma exigência da Igreja para ser ordenado, mas uma escolha livre e pessoal para um apostolado frutuoso. Sem esta mística, é impossível viver o celibato. O ministério se torna profissão e a pessoa se desorienta na primeira dificuldade ou tentação. É por isso que a Igreja considera os votos religiosos de pobreza, obediência e Castidade e o celibato sacerdotal como sinal profético dos bens superiores.
É triste ver um consagrado triste. Pode ser uma crise passageira, da qual ninguém é livre, e precisará da sensibilidade e da caridade dos que o rodeiam. Pode ser também um vazio interior que já se tornou visível em forma de tristeza e não tem mais remédio.
“Consolai o meu povo”
O mesmo profeta Isaías indica a forma e missão do convertido e do consagrado: “consolai o meu povo”. De que consolo fala o profeta? Não é um consolo de “fazer cócega” na vaidade ou minimizar o pecado. O profeta fala que o consolo é anunciar que a “servidão acabou e a expiação de suas culpas foi cumprida”. Dizia um filósofo moderno que nos tempos de hoje as pessoas têm a cabeça cheia de conhecimentos, mas não sabem o que fazer com eles. Falta-lhe o sentido da vida. Buscam a felicidade onde nunca encontrarão. Enganam o seu coração agitados entre tantas coisas para não sentir a angústia do sentido perdido ou nunca encontrado.
Consolar, a partir de Deus, é mostrar a verdadeira dimensão da vida e revelar o verdadeiro sentido da vida, tanto na dimensão sobrenatural como na dimensão humana. Mostrar que mesmo na dor e no sofrimento é possível ser feliz e sentir uma paz interior, com amor no coração.
Quando os bispos da América Latina na Conferência de Aparecida falam da “conversão pastoral”, entre outras coisas se referem a nossa forma de fazer pastoral. é preciso falar do mal e do bem. Mas lembremos que o bem atrai mais que o mal, gera alegria e esperança. Dá forças para superar as fraquezas e o pecado. Ter uma paciência pastoral, como diz São Pedro na segunda leitura: “Ele está usando de paciência para conosco, pois não deseja que alguém se perca”.
“Envio meu mensageiro à tua frente”.
O trecho do Evangelho que ouvimos hoje fala de João Batista, chamado precursor do Messias, aquele que vai à frente e anuncia a iminente chegada do grande Esperado. Como nós admiramos a humildade de João Batista diante da consideração que a sociedade tinha dele ao ponto de confundi-lo com o próprio Messias: “eu nem sou digno de desamarrar a correia das suas sandálias”! Quanta coisa podemos aprender para a nossa vida e apostolado dessas palavras.
A característica do diaconato é servir, como a própria palavra o define. Esta dimensão permanece sempre: no sacerdócio e no episcopado, porque Cristo se fez servo da humanidade. Quem sabe, entre tantas formas de servir a mais importante é esta: desaparecer depois de um serviço bem feito. Desaparecer para que Cristo permaneça: desaparecer dos holofotes, desaparecer do reconhecimento e dos aplausos do povo, desaparecer do “querer ser alguém”, desaparecer da própria vontade e do próprio orgulho, desaparecer da paróquia… Desaparecer, porque Ele deve ficar. Se Cristo fica nos corações, somos mais que satisfeitos porque fizemos o que devíamos fazer.
Queridos eleitos para o diaconato. Vocês são corajosos porque ouviram e atenderam a voz de Deus e da Igreja. O mundo precisa de vocês. Continuem corajosos como profetas, anunciadores do amor de Deus e da sua verdade. Continuem corajosos na doação a esta causa dia após dia.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
+ João Wilk
Bispo de Anápolis
04/12/2011