Reverência, lembrança, saudade daqueles que não estão mais entre nós. O Dia dos Fieis Defuntos, mais conhecido como dia de Finados é celebrado pelos católicos para lembrar daqueles dos fieis defuntos que foram morar na eternidade, e, consequentemente rezar por aqueles que padecem no purgatório.
Muitos gostam de visitar os cemitérios para deixar flores, acender velas por seus mortos, outros preferem assistir a Santa Missa ou apenas fazer uma oração/prece. O importante nesse momento não é o ritual ou a forma, mas a lembrança que habita o coração de todo ser humano.
O dia de finados, celebrado neste sábado, 2 de novembro, não é para ser um dia triste, mas um dia para olhar para trás e lembrar dos bons momentos que ficaram registrados no coração. Mas também é momento para refletir o que se professa todos os Domingos no Credo: “Espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há de vir”. Afinal, o curso natural da vida é a morte. Para os cristãos, essa passagem para a vida eterna, na qual estaremos em plena comunhão com Deus.
O arcebispo de Belo Horizonte e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Walmor Oliveira de Azevedo, gravou uma mensagem especial de esperança e fé para o dia dos fieis defuntos.
“No dia de finados, dediquemos a oração a pessoas já falecidas reavivando nossa fé. Permaneçamos assim em comunhão com os que nos precederam na experiência da morte certos de que nos reencontraremos pela Graça de Deus Pai”, ressalta em um trecho do vídeo (disponível no final da matéria).
Em um artigo publicado no portal da Conferência nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o arcebispo do Rio de Janeiro, cardeal Orani João Tempesta, explica que desde a época do cristianismo primitivo os cristãos rezavam por seus mortos, em especial pelos mártires, no local onde estes eram frequentemente enterrados: nas catacumbas subterrâneas da cidade de Roma.
“A oração pelos que já morreram é uma prática de várias religiões e que o cristianismo manteve. Documentos e monumentos dos primeiros séculos da nossa era já testemunham a prática entre os cristãos. Há túmulos cristãos dos séculos II e III que trazem orações pelos falecidos ou inscrições como: ‘Que cada amigo que veja isso reze por mim’”, destaca no texto.
Ainda de acordo com artigo de dom Orani, o costume de rezar pelos mortos foi sendo introduzido paulatinamente na liturgia da Igreja Católica. “O principal responsável pela instituição de uma data específica dedicada à alma dos mortos foi o monge beneditino Odilo da Abadia Beneditina de Cluny, na França”.
O catecismo da Igreja Católica diz que graças a Cristo, a morte tem um sentido positivo. “Para mim, a vida é Cristo, e morrer é lucro” (Fl 1,21). “Fiel é esta palavra: se com Ele morremos, com Ele viveremos” (2Tm 1,11). A novidade essencial da morte cristã está nisto: pelo Batismo, o cristão já está sacramentalmente “morto com Cristo”, para Viver de uma vida nova; e, se morrermos na graça de Cristo, a morte física consuma este “morrer com Cristo” e completa, assim, nossa incorporação a ele em seu ato redentor. (§1010)
Visitas aos cemitérios
Em todo o Brasil, os cemitérios recebem milhares de pessoas que farão visitas aos seus entes queridos. Celebrações eucarísticas durante todo o dia estão programadas. Esta prática está grafada no parágrafo 2300 do Catecismo: “Os corpos dos defuntos devem ser tratados com respeito e caridade, na fé e esperança da ressurreição. O enterro dos mortos é uma obra de misericórdia corporal (Tb 1,16-18) que honra os filhos de Deus, templos do Espírito Santo”. O arcebispo de Belo Horizonte (MG) e presidente da CNBB, dom Walmor Oliveira de Azevedo, vai celebrar a Santa Missa, às 9h, no cemitério Parque da Colina, no bairro Nova Cintra, em BH.
Sepultura e cremação
Desde outubro de 2016, a Igreja católica no mundo passou a adotar uma nova instrução da Congregação para a Doutrina da Fé sobre propósito da sepultura dos defuntos e da conservação das cinzas no caso de cremação. A instrução ‘Ad resurgendum cum Christo’ da Congregação para a Doutrina da Fé foi apresentada pelo prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal Gerhard Müller. Segundo o documento, “a prática da cremação difundiu-se bastante em muitas Nações e, ao mesmo tempo, difundem-se também novas ideias contrastantes com a fé da Igreja”.
Código de Direito Canônico
A norma eclesiástica vigente em matéria de cremação de cadáveres é regulada pelo Código de Direito Canônico: “A Igreja recomenda vivamente que se conserve o piedoso costume de sepultar os corpos dos defuntos; mas não proíbe a cremação, a não ser que tenha sido preferida por razões contrárias à doutrina cristã”.
Conservação as cinzas
“Quaisquer que sejam as motivações legítimas que levaram à escolha da cremação do cadáver, as cinzas do defunto devem ser conservadas, por norma, num lugar sagrado, isto é, no cemitério ou, se for o caso, numa igreja ou num lugar especialmente dedicado a esse fim determinado pela autoridade eclesiástica”.
Segundo o documento, a conservação das cinzas em casa não é consentida. Somente em casos de circunstâncias graves e excepcionais, o Ordinário, de acordo com a CNBB ou o Sínodo dos Bispos das Igrejas Orientais, poderá autorizar a conservação das cinzas em casa. As cinzas, no entanto, não podem ser divididas entre os vários núcleos familiares e deve ser sempre assegurado o respeito e as adequadas condições de conservação das mesmas.
Para evitar qualquer tipo de equívoco panteísta, naturalista ou niilista, não é permitida a dispersão das cinzas no ar, na terra ou na água ou, ainda, em qualquer outro lugar. Exclui-se, ainda a conservação das cinzas cremadas sob a forma de recordação comemorativa em peças de joalharia ou em outros objetos.
“Espera-se que esta nova Instrução possa fazer com que os fiéis cristãos tenham mais consciência de sua dignidade de filhos de Deus. Estamos diante de um novo desafio para evangelização da morte”, disse o Cardeal Müller, no lançamento da instrução ainda em 2016.
Fonte/foto: CNBB