“No caminho destes nossos encontros sobre a oração, hoje nos deparamos com a figura da Virgem Maria como mulher orante”, disse o Papa Francisco no início de sua catequese na Audiência Geral, desta quarta-feira, 18, realizada na Biblioteca do Palácio Apostólico.
O Santo Padre recorda que enquanto Maria era uma simples jovem futura esposa de um homem da casa de Davi, ela rezava. “Podemos imaginar a jovem de Nazaré recolhida em silêncio, em contínuo diálogo com Deus, que logo lhe confiaria a sua missão. Ela já está cheia de graça e imaculada desde a concepção, mas ainda não sabe nada de sua surpreendente e extraordinária vocação e do mar tempestuoso que terá de enfrentar”, aponta Francisco.
Uma coisa é certa, afirma o Pontífice: Maria pertence à grande multidão daqueles humildes de coração que os historiadores oficiais não inserem em seus livros, mas com quem Deus preparou a vinda de seu Filho.
Maria espera que Deus tome as rédeas de seu caminho e a guie para onde Ele quiser sublinha o Papa. Francisco recorda que a mãe de Jesus estava em oração quando o arcanjo Gabriel trouxe-lhe o anúncio em Nazaré. O Santo Padre prosseguiu frisando que não há melhor modo de rezar do que colocar-se como Maria em atitude de abertura, coração aberto a Deus:
“’Senhor, aquilo que quiser, quando quiser, e como quiser!’ O coração aberto à vontade de Deus e Deus responde sempre. Quantos fiéis vivem deste modo a sua oração! Aqueles que são humildes de coração rezam assim, com humildade essencial, com humildade simples. ‘Senhor, aquilo que quiser, quando quiser, e como quiser!’ Eles rezam assim não irritando-se porque os dias são cheios de problemas, mas indo ao encontro da realidade e sabendo que no amor humilde, oferecido em cada situação, nos tornamos instrumentos da graça de Deus”.
A oração “Senhor, aquilo que quiser, quando quiser, e como quiser!” é simples, sublinhou o Papa. De acordo com o Pontífice, com ela, homens e mulheres colocam suas vidas nas mãos do Senhor para que Ele os guie. “Todos nós podemos rezar assim, quase sem palavras, simples. Deus. ‘Senhor, aquilo que quiser, quando quiser, e como quiser!’”.
O Santo Padre prosseguiu afirmando que a oração acalma as inquietudes, mas o ser humano é inquieto, quer as coisas antes de pedir, quer rápido. Francisco lembra que a vida não é assim, que a inquietude faz mal e que a oração acalma a inquietude, sabe transformá-la em disponibilidade.
“Estou inquieto, rezo e a oração me abre o coração e me torna disponível à vontade de Deus. A Virgem Maria, naqueles poucos instantes da Anunciação, soube rejeitar o medo, apesar de ter previsto que o seu ‘sim’ lhe teria dado provações muito duras. Se na oração entendemos que cada dia doado por Deus é um chamado, então alargamos os nossos corações e acolhemos tudo”.
O Pontífice frisou que é preciso aprender a dizer: “Aquilo que quiser, Senhor. Prometa-me apenas que estará comigo a cada passo do meu caminho”. Isso é importante, segundo Papa, pedir ao Senhor a sua presença a cada passo, pedir que ele não deixe ninguém sozinho, que não abandone seus filhos na tentação, que não os abandone nos momentos difíceis. O final do Pai-Nosso foi recordado pelo Santo Padre. Segundo ele, é assim, a graça que Jesus ensinou homens e mulheres a pedirem ao Senhor.
“Maria acompanha em oração toda a vida de Jesus, até sua morte e ressurreição; e no final acompanha os primeiros passos da Igreja nascente. Maria reza com os discípulos que passaram pelo escândalo da Cruz. Reza com Pedro, que cedeu ao medo e chorou de remorso. Maria está lá, com os discípulos, entre os homens e mulheres a quem seu Filho chamou para formar sua Comunidade. Maria não se comporta como um sacerdote entre eles, é a mãe de Jesus que reza com eles, em comunidade, como uma da comunidade. Reza com eles e por eles. E, mais uma vez, a sua oração precede o futuro que está prestes a acontecer: por obra do Espírito Santo tornou-se Mãe de Deus e, por obra do mesmo Espírito, torna-se Mãe da Igreja.”
Rezando com a Igreja nascente, Maria torna-se mãe da Igreja, acompanha os discípulos nos primeiros passos da Igreja, aponta o Santo Padre. “Na oração esperando o Espírito Santo e depois nos primeiros passos, em silêncio, sempre em silêncio. A oração de Maria é silenciosa”. Foi então que Francisco recordou o Evangelho que relata uma oração de Maria, em Caná, quando pede a seu filho por aquelas pessoas que estão cometendo uma gafe na festa. “Imaginamos fazer uma festa de casamento servindo no final chá e leite porque acabou o vinho. Mas que gafe! E ela reza e deixa o filho resolver o problema. A sua presença é uma oração e a sua presença no Cenáculo em oração com os discípulos deu à luz a Igreja.”
“Na Virgem Maria, a intuição feminina natural é exaltada por sua união singular com Deus na oração. Por isso, lendo o Evangelho, notamos que às vezes ela parece desaparecer, para depois ressurgir nos momentos cruciais: Maria está aberta à voz de Deus que guia o seu coração e seus passos onde sua presença é necessária. Presença silenciosa de mãe e discípula”.
Por fim, o Papa sublinhou que Maria está presente porque é mãe, mas também porque é a primeira discípula, porque aprendeu por primeiro as coisas de Jesus. Maria nunca diz, “vem que eu vou resolver as coisas”, recordou. “Façam o que Ele lhes disser. Ela sempre indica Jesus. O discípulo faz assim e ela é uma discípula. Reza como mãe e como discípula. Como seria belo se nossa vida de oração fosse mais semelhante à de nossa Mãe! Com o coração aberto à palavra de Deus, com o coração silencioso, com o coração obediente, com o coração que sabe receber a palavra de Deus e a deixa crescer como uma semente para ao bem da Igreja”.