Diocese de Anápolis

Diocese de Anápolis

Diocese de Anápolis

Reflexão deste domingo aborda o perigo dos julgamentos e rótulos

“Etiquetar”

Nas conversas alheias, nas rodinhas com os amigos, nos comentários das redes sociais, de uma maneira natural nos sentimos no direito de criticar, julgar, etiquetar as pessoas, definí-las como são. O nosso olhar clínico examina as pessoas, perfura sua personalidade, transpassa seus defeitos, e com muita facilidade, damos o diagnóstico, etiquetamos segundo o nosso parecer, catalogamos à nossa medida, e não damos espaço às mudanças, desacreditamos no melhor dos demais. O problema de rotular pessoas é que nos colocamos como medida, nos exaltamos demasiado e menosprezamos os demais, desconfiamos que eles podem melhorar ou que a graça de Deus possa transformá-los.

No Evangelho, Jesus conta uma parábola para falar do Reino de Deus, chama a atenção que as propostas de trabalho são em diferentes tempos, mas que o resultado são os mesmos. Na realidade evangélica, os diferentes tempos que se expressa no trabalho da vinha significam as diferentes etapas em que Deus vai conduzindo o seu povo e suscitando trabalhadores para ela (a vinha possuía um simbolismo profético que expressava o povo de Israel cfr. Is.5). Contudo, de maneira próxima, a parábola mostra a liberdade do dono da vinha de chamar quem quiser, no tempo em que quiser e pagar da forma que quiser.

Na vinha da Igreja, a liberdade divina não fica condicionada aos quereres humanos, à vontade do povo ou aos critérios do padre. Deus tem um tempo específico para tocar nos corações, para suscitar conversões, para transformar vidas; e o tempo de Deus nem sempre é o nosso tempo e as formas de agir tampouco são conforme a nossa vontade. Nós não somos a medida da conversão dos demais. Quando começamos a julgar e a criticar os outros, quando catalogamos e etiquetamos os demais, é porque nos colocamos como medida de santidade, mermamos a liberdade de Deus, restringimos sua onipotência e o cristianismo se transforma na “minha vinha” pessoal.

O trabalho abnegado de seguir a Jesus, de sermos inseridos no seu Reino, nos compromete com o exemplo, com a vida e nas atitudes mais banais. Trabalhar na vinha do Senhor é nos transformarmos em instrumentos da graça, do amor e da misericórdia, e através da compreensão, do acolhimento e da paciência expressar que somos trabalhadores e não donos, não temos a pretensão de converter ou convencer (é Deus quem converte), mas ser sinal da presença de Deus na vida dos nossos irmãos e irmãs. No sincero trabalho comprometido silenciamos os julgamentos, acreditamos no melhor das pessoas, deixamos de etiquetar, confiamos na graça.

O compromisso com o nosso trabalho na vinha do Senhor não nos faz sermos melhores que os outros ou nos coloca como medida para os demais. O cristianismo não é a junção de uma elite de pessoas perfeitas, é a união de pessoas que buscam a conversão pessoal, que respondem ao chamado do divino Mestre, que estão tão inseridos no trabalho da vinha que não tem tempo para as críticas alheias ou etiquetas vãs. É no calor do trabalho, na sinceridade do esforço, no empenho da batalha e na labuta da vinha que esquecemos das críticas alheias e nos alegramos pela fraternidade do resultado.

Pe. Carlito Bernardes Oliveira Júnior
Diocese de Anápolis

Rolar para cima