Diocese de Anápolis

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Quinta-feira Santa 2013

Cuidar da fé

Queridos, em Cristo, Irmãos e Irmãs.
Queridos sacerdotes, diáconos, seminaristas.

Após cinco semanas de Quaresma, tempo de reflexão, penitência e conversão, iniciamos intenso caminho espiritual do Tríduo Sacro: da celebração da Páscoa do Senhor e nossa Páscoa.

A Páscoa deste ano tem um marco especial. Nós a celebramos dentro do Ano da Fé e dos 50 Anos do início do Concílio Vaticano II, que nos pediu a transmitir ao homem de hoje as imutáveis verdades da fé de forma adequada e compreensível. Neste Tríduo Sacro queremos colher os significados dos mistérios da nossa salvação e, a partir daí, fundamentar e fazer crescer a nossa fé.
O Papa Francisco, na sua homilia da solenidade de São José falava de São José como homem escolhido para “cuidar”. Nós também, dizia o Papa, somos chamados a sermos os que “cuidam”. Entre outros cuidados é preciso cuidar de modo especial pelos dons que recebemos de Deus. São José era “homem justo”. Este apelido se refere, em primeiro lugar, ao seu lugar diante de Deus, homem que está no lugar certo, homem voltado para Deus. Podemos dizer que ser justo significa ser homem de fé convicta e praticada.

1. Cuidar da nossa fé.

A fé é um dom gratuito. É graça que recebemos de Deus que se antecipa no amor por nós. Nós o recebemos pelo intermédio da Igreja, no sacramento do Batismo. Antes de nos tornarmos conscientes desse dom, outros cuidaram dele: nos educaram, criaram clima de piedade em família, nos ensinaram o caminho da comunidade paroquial, nos inseriram na vida paroquial e ensinaram a participar como irmãos, nos ensinaram as verdade da fé. Graças a eles nós estamos aqui: temos fé. A eles manifestamos agora a nossa gratidão: Deus lhes pague.

Agora, é a nossa vez de cuidarmos pessoalmente da nossa fé, com dedicação e responsabilidade. Se, de um lado, a fé é dom de Deus reconhecido na sua grandeza e na sua beleza, de outro, é também a nossa escolha e a nossa resposta. Crer é aceitar. Crer é aderir. Acho que a palavra aderir é a mais adequada para definir o mistério da fé na nossa vida: aderir a Deus, ao seu amor, à sua paternidade, à sua misericórdia, à sua salvação. No encontro de Jesus com o jovem rico o evangelista Marcos (10,21) usa expressão: “Jesus, olhando-o com amor, lhe disse: só te falta uma coisa: vai vende tudo…. Ao ouvir isso, ele ficou pesaroso por causa desta palavra e foi embora”. Existem olhares e olhares. O de Jesus foi de amor. O do jovem foi pesaroso. Imaginemos um olhar pesaroso. Olha para o rosto com espanto e frieza, interrogando: mas como? o que quer de mim? Para que? Ou então, desvia o olhar, se vira e vai embora.

A cena descrita se refere ao convite de um seguimento mais de perto do Mestre, mas serve para todos os discípulos de Jesus como paradigma da fé. Ter fé é estar na presença de Deus, olhar no seu olhar, permanecer contemplando o amor de Deus estampado no seu rosto com o entusiasmo do amor estampado no nosso rosto.

Este olhar para olhar não pode se reduzir a uma experiência passageira, única, forte sim, mas isolada. Existem momentos mais marcantes e decisivos na nossa vida. Porém, estes momentos especiais devem se traduzir numa experiência continua que envolva a vida inteira. Deste modo, ter fé é olhar generosamente para o horizonte da eternidade. Não deixar que a realidade sobrenatural desapareça por algum momento do horizonte da nossa vida, mesmo quando fraquejamos e nos distanciamos de Deus por nossa escolha ou fraqueza.

Para que isso aconteça, precisamos cuidar da nossa fé. Devemos constantemente educar-nos para a atitude de oração, de contemplação, para a adoração, para a leitura orante da Palavra de Deus, para a fidelidade aos compromissos assumidos, para a vigilância dos nossos sentidos e desejos, para a humildade de reconhecer o pecado e para a pronta conversão, para a sobriedade e simplicidade, humildade e atenção para o bem dos outros.

2. Cuidar da fé da Igreja.

Correríamos risco de um reducionismo ou até perigo de tornar a nossa fé subjetiva demais, uma experiência pessoal sem referências e vínculos com toda a verdade. A nossa fé é, por essência, comunitária, eclesial. Cremos o que a Igreja crê. Professamos o que a Igreja professa. Cuidar da fé pessoal comporta todo cuidado que ela seja expressão do que de Deus recebemos por intermédio da Igreja. Cuidar da fé eclesial é exercitar a obediência do intelecto e da vontade para aceitar tudo e na forma como a Igreja ensina. A cultura da pós-modernidade é marcada por duas correntes: eliminar por completo Deus da realidade humana e, outra, viver a fé a livre escolha, uma fé fragmentada, ajustada, sem muitas exigências. Cuidar da fé da Igreja é afirmar e testemunhar a integridade do depósito da revelação, mesmo se isso nos custa perseguições.

3. Cuidar da fé no compromisso e pelo testemunho.

A fé não pode permanecer na quietude pessoal. A autenticidade da fé se mede pela sua transparência. Se temos fé, outros o percebem. O nosso estilo muda, o nosso comportamento muda, os nossos critérios e decisões mudam, os nossos valores mudam. Não se pode servir a dois senhores… Não existe a fé íntima e a fé pública. A fé não é um acréscimo ao conjunto das nossas características e dos nossos atos, politicamente correta, adaptada às diversas circunstâncias. A fé é a nossa vida, tanto na dimensão privada como na dimensão pública. É ponto gerador e referência de tudo que somos e fazemos. Se é autêntica a fé no nosso íntimo, será visível e autêntica pelo nosso testemunho. Se a Igreja hoje é menosprezada, marginalizada, ironizada, será que não é por culpa nossa? Será que não somos nós que mostramos o rosto desfigurado da nossa Igreja? Será que o que vivemos como Igreja não é uma caricatura da Igreja que Cristo desejou e instituiu? Quem sabe, contentamo-nos de alguns atos de piedade, de participação regular dos atos litúrgicos, fazemos alguns atos de caridade e de misericórdia, somos contentes com as nossas convicções no campo de doutrina, mas, do outro lado, somos omissos e causamos desgosto em quem nos vê e escuta? Sem dúvida, a fé autêntica, transparente e sincera são as características da fé que devemos buscar e que o mundo de hoje espera de nós. O Ano da Fé nos leva necessariamente a este exame de consciência. 

4. Cuidar da fé é partir em missão.

O Papa Francisco, na audiência geral da última quarta-feira, foi incisivo sobre a necessidade de levar a fé para fora de nós. Dizia: “Na Semana Santa, centro de todo o Ano Litúrgico, somos chamados a seguir Jesus pelo caminho do Calvário em direção à Cruz e Ressurreição. Este é também o nosso caminho. Ele entregou-se voluntariamente ao amor de Deus Pai, unido perfeitamente à sua vontade, para demonstrar o seu amor por nós: assim o vemos na Última Ceia, dando-nos o seu Corpo e o seu Sangue, para permanecer sempre conosco. Portanto, a lógica da Semana Santa é a lógica do amor e do dom de si mesmo, que exige deixar de lado as comodidades de uma fé cansada e rotineira para levar Cristo aos demais, abrindo as portas do nosso coração, da nossa vida, das nossas paróquias, movimentos, associações, levando a luz e a alegria da nossa fé. Viver a Semana Santa seguindo Jesus significa aprender a sair de nós mesmos para ir ao encontro dos demais, até as periferias da existência. Há uma necessidade imensa de levar a presença viva de Jesus misericordioso e rico de amor”. 
É supérfluo acentuar que o objeto especial da nossa missão deve ser a juventude, valorizada em si, mas ainda distante do alcance da nossa evangelização.

Queridos Irmãos Sacerdotes e Diáconos. Somos nós os primeiros a refletir, neste Ano da Fé, sobre a nossa vivência pessoal de amizade com Cristo. Somos homens de fé servos da fé. A nossa missão é cuidar da fé dos outros, das almas a nós confiadas. O efeito da nossa ação a favor da fé dos outros terá êxito se, por primeiro, nós sejamos autênticos homens de fé, doadores da fé, não apenas transmissores de conceitos religiosos.

Queridos religiosos e religiosas. Vocês formam na Diocese um grupo de particular importância. Na diversidade de carismas, de obras de apostolado e de caridade vocês têm uma expressão evangelizadora indispensável. A vossa própria vida consagrada, a vossa presença já é uma evangelização. O rosto cristão do nosso povo é fruto, em grande parte, da vossa oração, trabalho dedicado e silencioso testemunho. Peço a Deus que tudo isso seja abençoado pela nova primavera das vocações consagradas.

Queridos seminaristas. Deus vos chamou e colocou no caminho do seguimento do seu Filho. Ser futuro sacerdote é a vossa vida, após um sincero discernimento da vontade de Deus. No contato diário com a realidade vocês encontram virtudes e pecados, exemplos luminosos e sombras inquietantes. Fiquem com o que é melhor. Preparem-se bem. A tarefa é nobre, mas também desafiadora. A Igreja precisa que mostremos o rosto luminoso de Jesus Cristo, Senhor e Salvador, e de uma Igreja bonita, de rosto digno de Sua Esposa.

Aceitem, todos, os meus sinceros agradecimentos pelos cuidados pela fé do nosso povo: na pregação, na administração dos sacramentos, na prática da misericórdia, na caridade pastoral, na perseverança nos propósitos, no esforço de construir laços de unidade entre nós todos. Deus lhes pague e dê forças para continuar na missão.

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.

+ João Wilk, Bispo Diocesano
28/03/2013

 

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