Trindade – GO, 05/07/2010
“IGREJA – Voz e expressão da vontade do Divino Pai Eterno”
Queridos Irmãos e Irmãs Romeiros.
Amado Dom Washington Cruz – Arcebispo Metropolitano de Goiânia.
Há 170 anos este lugar é a meta de milhares e milhares de romeiros da Arquidiocese de Goiânia, do Estado de Goiás e de tantos outros lugares do Brasil. A novena do Divino Pai Eterno, transmitida pela televisão, promoveu de forma notável a devoção e multiplicou o número dos devotos.
Há quase dois séculos, este lugar é poderosa central de evangelização. Aqui vieram os fervorosos missionários da Congregação do Santíssimo Redentor. Aqui acolheram e educaram na fé, em nome da Igreja Local, os devotos. A partir daqui desenvolveram uma frutuosa atividade apostólica e missionária em toda a região.
Durante os nove dias que precederam a festa de hoje, vocês, queridos romeiros, foram conduzidos na espiritualidade e na devoção pelas reflexões do Arcebispo de Goiânia Dom Washington Cruz. Com sua voz e com seu jeito de pastor, vos fez refletir sobre “Como fazer a vontade do Divino Pai Eterno”. E foi bom, porque o desejo de fazer a vontade do Eterno Pai foi o próprio Jesus que nos apontou como um dos primeiros desejos de quem crê, de quem ama, de quem confia na bondade paterna do seu Deus: “Quando orardes, (…) orai assim: Pai nosso (…), seja feita a tua vontade” (Mt 6, 7.10).
Hoje, com toda a Igreja, celebramos a festa dos Apóstolos São Pedro e São Paulo. Queremos reconhecer e renovar em nós a consciência de que a vontade do Pai Eterno se manifesta, de forma profunda e visível, na sua Igreja, edificada sobre o fundamento dos Apóstolos, principalmente no testemunho de vida de São Pedro e São Paulo, a quem a tradição cristã atribuiu o apelido de colunas da Igreja. Dois sustentáculos, duas referências daquilo que a Igreja é e daquilo que a Igreja faz. Na figura de São Paulo se encerra a força carismática da Igreja – evangelizar e ser testemunha de Jesus Cristo até os confins do mundo. Na figura de São Pedro temos o guarda da fé e sinal visível da unidade para os discípulos e missionários de Jesus Cristo de todos os tempos.
Consideremos, Irmãos e Irmãs Romeiros, as palavras do Evangelho de São Mateus, agora anunciadas. Jesus faz uma pergunta aos Apóstolos, seus fiéis seguidores: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?”. Responder o que os outros pensam e dizem, é fácil, não compromete. E as respostas chovem: “Alguns dizem que é João Batista; outros, que é Elias; outros ainda, que é Jeremias ou algum dos profetas”. Jesus, então, pergunta: “E vós, quem dizeis que eu sou?”. Ninguém responde… Silêncio… Porque? Dar uma resposta pessoal a respeito de Jesus é mais difícil do que relatar a opinião dos outros. A resposta pessoal compromete e leva a uma serie de novas atitudes: de ver, à luz da resposta dada, toda a sua vida, toda a sua fé, suas convicções e suas ações. Os Apóstolos ainda não estavam preparados para isso. Quem sabe, ficaram pensando ainda por muito tempo sobre esta pergunta, até que, um dia, cheios de convicção, todos eles responderem com o seu martírio, dizendo deste modo que seguir Jesus vale mais do que toda a vida; é a própria vida.
O único a dar a resposta na hora foi o Apóstolo Simão: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. A isto, Jesus o elogiou e lhe disse que com esta resposta ele encontrou a felicidade.
Mas, o elogio não foi apenas um elogio, a felicidade não foi uma simples felicidade. Nas palavras de Jesus há o anúncio de uma verdade e a revelação de uma grande vontade divina: “Não foi o ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai. (…) Por isso eu te digo que tu és Pedro (rocha) e sobre esta pedra construirei a minha Igreja. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus”…
Um curioso trocadilho: Simão – Pedro. O nome “Simão” está a significar a realidade humana do Apóstolo. O nome “Pedro”, significa uma nova identidade a ser vivida por ele, significa a origem divina dessa nova missão a ser desempenhada por ele. “Pedro” é o nome do novo homem a serviço de Jesus e do mundo. “Pedro-rocha” significa a solidez da fé professada por ele; a fé que se tornou fundamento da Igreja. A Igreja é aquilo que ela crê e professa: que Jesus, Filho do Eterno Pai, é o Messias-Salvador.
Queridos Irmãos e Irmãs Romeiros, convido-vos a respondermos juntos, como São Pedro, dizendo a Jesus agora, na nossa vida, no nosso presente: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Juntos: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”…
A rocha da nossa salvação é Jesus, o verdadeiro Deus, único capaz de nos reconciliar com o Pai, o “Caminho, a Verdade e a Vida”. Mas, também é rocha aquele que professou tal verdade – o Pedro. Jesus quis unir a fé de Pedro com a sua pessoa. Quis colocar Pedro como verdadeiro fundamento da Igreja, marco de referência, ponto de apoio, sinal de unidade para todos os seguidores de Jesus ao longo da história.
A missão de Pedro foi preparada por Jesus por interrogatórios se Pedro o amava de verdade e se o amava mais do que os outros. Foi peneirada e provada na fraqueza e no arrependimento. Foi definida no mandato de confirmar na fé os demais.
Ouçamos o que Santo Agostinho, no V século, diz sobre isso: “Na verdade, quem recebeu estas chaves não foi um único homem, mas a Igreja una. Assim manifesta-se a superioridade de Pedro, que representava a universalidade e a unidade da Igreja (…). A ele era atribuído pessoalmente o que a todos foi dado (…). Quando Cristo fala a um só, quer, deste modo, insistir na unidade da Igreja. E dirigiu-se a Pedro, de preferência aos outros, porque, entre os apóstolos, Pedro é o primeiro” ( Sermo 295).
A fé da Igreja hoje, é a fé da Igreja de sempre. O Pedro dos nossos tempos é o Papa, Bento XVI. Nós o olhamos com os olhos da fé. Com fé queremos ouvir a sua voz de Pastor Universal, sentinela da verdade e da unidade da Igreja. Na simplicidade dos nossos corações nós ouvimos a sua voz como fiel e segura expressão da vontade do Eterno Pai para nós peregrinos nesta terra. Nós ouvimos esta voz com atenção, acolhemos com docilidade, seguimos com convicção.
Permitam-me partilhar com vocês a minha pequena experiência de quanto era noviço franciscano, na Polônia, terra do grande Papa João Paulo II, lá no fim dos anos sessenta do século passado. Eram anos bonitos para a Igreja, marcados pelo entusiasmo da renovação, pela esperança, pelo fervor de reavivamento, na busca de autêntica renovação. Mas também eram anos marcados pela angústia e pelo medo de errar. Lembro que durante um retiro espiritual, o pregador, um padre jesuíta, contava-nos um exemplo de um turista que se aventura para adentrar numa densa floresta ou, então, para escalar as montanhas. Na floresta ou nas montanhas é fácil se perder; basta dar uns passos e tudo muda. Por isso, o aventureiro prudente leva consigo uma bússola, um simples instrumento que pela força do magnetismo sempre aponta para os polos norte e sul. Assim, o aventureiro sabe em que ponto se encontra e como se movimentar para não se desorientar. O pregador, então, explicava: o mundo em que vivemos é como uma densa floresta: cheia de ideias, propostas, atrativos. A cada momento muda a situação, aparece um novo horizonte. É fácil se desorientar. Então, para quem busca o rumo certo, qual será a bússola? E o pregador respondia: a Igreja, portadora da verdade e da vontade divina, o seu ensinamento representado no Magistério oficial, nos seus documentos, reconhecida na comunhão dos bispos entre si e com o Papa, na comunhão de todos os fiéis com eles. É simples, é verdadeiro e é seguro…
Nós também, vivemos como que numa floresta de ideias e opiniões, de novos “dogmas”, de novo modo de considerar a vida. Dizem que a religião é boa e útil, enquanto traz o bem-estar e a prosperidade material. Dizem que Deus é uma ilusão para os ingênuos. Dizem que a família já era. Outros dizem que para ser família não precisa ser uma união estável de homem e de mulher, de pai e de mãe. Dizem que o bem e o mal é a gente que decide. Dizem que o amor é até quando a gente se sente bem. Dizem que o corpo do homem ou da mulher é digno enquanto oferece beleza e prazer. Dizem que a vida não é sagrada e se pode decidir livremente, com critérios próprios, quem pode ou não nascer ou morrer. Dizem que a ciência não deve satisfação a nada e a ninguém. Dizem que a ética não tem vínculo com a verdade, e que a verdade é a gente que faz. Dizem que o Estado é laico e não pode haver sinais de religião nos lugares públicos. Dizem que na política é bom o que é “politicamente correto”, o que é de interesse, sem se preocupar com o que é “correto e ético na política”. Dizem!…
O Evangelista São João nos relata um episódio interessante. Depois do milagre da multiplicação dos pães, o povo entusiasmado seguiu Jesus até a cidade de Cafarnaum. Lá, na sinagoga, Jesus dizia que o verdadeiro alimento para a vida do povo seria Ele mesmo: seu corpo e sangue. Eles não O entenderam e muitos O abandonaram resmungando, pois o discurso parecia incrível, difícil de ser verdadeiro. Jesus, quem sabe, com sentimentos de frustração, perguntou se até os mais próximos não queriam ir embora. Pedro, então, disse: “A quem iremos, Senhor. Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente” (Jo 6, 68).
Queridos filhos e filhas do Divino Pai Eterno, o seguimento de Jesus é exigente, mas traz felicidade. O caminho do Evangelho pede renúncias, modificação do nosso ponto de vista, conversão de ideias, mas traz felicidade…
As palavras de Pedro ressoam hoje para nos indicar o rumo certo na floresta da nossa vida: “A quem iremos, Senhor. Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente” (Jo 6, 68). A Igreja é portadora dessas palavras. É a voz do Divino Pai na voz da Igreja, que acolhe a sua vontade divina e nos propõe como verdade e compromisso.
Querido irmão romeiro, querida irmã romeira. Como que você vai voltar deste lugar para sua casa? O que vai levar para sua vida deste encontro de devoção com o Divino Pai Eterno? Que luz o Divino Pai acendeu em sua alma? O que vai mudar em sua vida pessoal, familiar, profissional?
Eu lhe dou uma sugestão. Leve consigo a confiança! Confie fervorosamente na bondade de Deus. Confie no bem que está no seu coração e nas pessoas do seu convívio. Confie que existe a verdade e a ordem moral desejada por Deus. Confie na Igreja e nos seus ensinamentos. Na floresta da vida, ela, a Igreja, como “especialista em humanidade”, lhe indica qual é o sentido certo da sua vida e o valor da sua verdadeira dignidade.
Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo!
Dom João Wilk, OFMConv.
Bispo de Anápolis – GO