“O maior campo de batalha não está fora, mas dentro”
Continuando a mensagem fantástica do Sermão da Montanha no evangelho de São Mateus, somos colocados, hoje, diante de vários preceitos. É possível enxergar, entremeio às palavras de Jesus, o seu desejo de nos colocar nesse caminho de cumprimento dos mandamentos divinos. Olhando especificamente para o Decálogo, temos ali dez mandos de Deus que podem ser resumidos em apenas dois. Os três primeiros (que se referem especificamente a Deus) podem ser abreviados em um: amar a Deus sobre todas as coisas; e os outros sete (referentes aos irmãos e irmãs) resumem-se em outro: amar ao próximo como a nós mesmos.
O evangelho desse domingo nos ensina exatamente como cumprir este segundo que resume a maioria dos mandamentos. Para nos ensinar esse caminho, que nos leva mais perfeitamente ao amor, Nosso Senhor na verdade aprofunda as leis que já existiam e nos coloca diante da consciência, principalmente, a luta contra a nossa concupiscência (desejo desordenado da carne) e a nossa ira. Para Jesus, o pecado do adultério não acontece somente na carne, mas já no coração, no desejo e olhar impuros para uma mulher (ou homem no caso das mulheres logicamente).
É incrível o dom de Jesus de nos fazer conhecer, cada vez mais, a nós mesmos através de suas palavras. Podemos perceber que todos temos uma inclinação dentro de nós que tende a enxergar o outro como objeto descartável ou apenas de prazer. Isso vai totalmente contra o verdadeiro amor para o qual fomos criados.
Outra inclinação nossa que nos leva para fora desse caminho é a nossa irascibilidade. Não quer dizer nunca mais nos irritaremos com a atitude de alguém. O importante é entender que, para o Mestre, morte não é apenas tirar a vida de alguém, mas desejar o mal ao outro já significa matá-lo no coração. Aqui, somos convidados a agir como Deus que sempre “odeia o pecado, mas ama o pecador”!
Lembremo-nos aqui de que estas duas paixões (desejo e raiva) também as possuem os animais; por isso, Jesus está, claramente, querendo nos introduzir no mundo espiritual da nossa vida interior, onde, como seres racionais e vocacionados à eternidade, podemos escolher agir contra o impulso que nos leva a ferir não só o outro, mas a Deus e a nós mesmos. Ele nos ensina a não observar somente o pecado “lá fora”, mas a cuidar do nosso “aqui dentro”, a não macular o Divino Santuário da nossa consciência onde só Deus e nós podemos entrar.