Diocese de Anápolis

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Homilia – Ordenação Diaconal de Roniram Silva – 2021

Amados em Cristo Sacerdotes e Diáconos.

Querido Bispo Auxiliar Dom Dilmo Franco de Campos.

Irmãos e Irmãs, Povo de Deus.

Estamos celebrando a Ordenação Diaconal do nosso irmão Roniram Pereira, homem de certa idade, maturidade humana e cristã, de virtudes humanas e espirituais.

Este fato se insere, hoje, na dupla celebração dos mistérios da nossa fé: encerramento do Ano de São José e a Solenidade de Nossa Senhora de Guadalupe, Padroeira e Imperatriz das Américas. É neste espelho que queremos projetar o serviço diaconal como dom e vocação, dádiva e missão.

No ano passado, em 08 de dezembro, solenidade da Imaculada Conceição, o Papa Francisco, para celebrar os 150 anos da declaração do Esposo de Maria como Padroeiro da Igreja Católica, proclamou o Ano de São José. Hoje, oficialmente na nossa Diocese celebramos o seu encerramento.

A São José temos uma rica devoção no meio do povo. Os Papas emitiram importantes documentos sobre a sua pessoa, recentemente o seu nome foi inserido na Oração Eucarística da Santa Missa. Suas virtudes são inúmeras. Encontram eco na Ladainha de São José e em numerosas reflexões e meditações sobre nuances da sua pessoa e sua função no mistério da Salvação.

De tanto que lhe foi atribuído, quero me referir a alguns aspectos que tocam a minha própria espiritualidade.

1. Silêncio orante e obediente. Na Bíblia temos menções sobre a pessoa de José, mas nenhuma palavra por ele pronunciada: homem do silêncio…

José, esposo prometido a Maria, jovem temente a Deus, reta no seu proceder, ornada de virtudes, ao perceber a gravidez dela “ficou perturbado”. O seu interior leva uma espécie de choque e angústia: como isto é possível? É ciente da sua virtude e fidelidade e sabe que o filho não é dele. Acontece algo de que ele ainda não é consciente e no qual ele já está envolvido. Tão grande foi o seu amor por Maria que não quis difamá-la, desprezando-a e expondo à lapidação. Prefere, ele mesmo, abandoná-la, em silêncio, e levar nas suas costas a marca de covarde.

Em sonho, um anjo lhe esclarece: José, Filho de Davi, não tenhas receio de receber Maria, tua esposa; o que nela foi gerado vem do Espírito Santo (Mt 1,20). Não teve mais receio, não disse nada, não questionou “mas…” e etc. Simplesmente, na fé obediente, assumiu a vontade de Deus e guardou o segredo até o fim da vida, só para si e para Maria.

Assim foi na viagem para Belém, na busca da pousada para o nascimento do Filho de Deus, na vigília ao lado da manjedoura. Na iminência do perigo de Herodes, avisado em sonho pelo anjo, sem curiosidades, levanta, toma o Menino e sua Mãe e apressadamente foge para o Egito.

Perdendo Jesus no tumulto do Templo de Jerusalém, dedica todo o seu tempo e energias para encontrá-lo. Ao encontrá-lo, não diz nada; deixa a Mãe falar.

Em Nazaré, dedica-se à educação de Jesus e acompanha-o na sua infância e adolescência, acompanhando o seu crescimento na estatura e na graça.

Os Evangelhos não falam mais dele depois que Jesus saiu de casa para pregar o Reino de Deus…

É admirável o silêncio de José, o silêncio que fala tão alto.

2. Sensibilidade humana e respeito pelas pessoas. De tudo isso que dissemos percebemos em José a virtude da atenção a outra pessoa. Cito um exemplo. Entre numerosos presépios que montamos em preparação do Natal, há um que comoveu o coração do Papa Francisco. Um tanto diferente dos outros. O Menino Jesus não está na manjedoura; está no colo de José. Na maca ao lado está dormindo Maria. Ao Menino, que dá gargalhadas e boceja, José diz: vamos deixar a Mãe descansar… Que lindo exemplo em perceber as necessidades do outro! Assim é José quando o invocamos como Padroeiro da Igreja e Protetor das famílias!

Neste momento de ordenação colocamos este silêncio como principal referência do diaconato. Quando se fala da espiritualidade, o seu sinônimo é “silêncio”. É no silêncio que se cresce na espiritualidade. É no silêncio, no interior da alma, que surgem e crescem as motivações de servir a Deus e aos irmãos. Para nós, diáconos e sacerdotes, a fonte e motor do apostolado é a espiritualidade e as motivações, moldadas na atitude de silêncio. Sem isso é fácil cair no desânimo, na murmuração, no vazio interior e, por fim, na desistência e abandono do ministério.

A sensibilidade humana é um dos pilares do cristianismo. Encontramos numerosos exemplos na vida de Jesus e dos apóstolos. O próprio diaconato surgiu da sensibilidade pelos pobres.

Hoje, no nosso apostolado, um elemento fundamental é o jeito de lidar com as pessoas de fé, com os doentes, com os sem fé, com pessoas importunas: é a acolhida, paciência e prontidão em atender. Infelizmente, muitas vezes, as pessoas do diácono, do sacerdote são vistas como inacessíveis, grosseiras no trato com o povo, sem tato, exigentes sem motivo, indispostas a ajudar a resolver os problemas. Longe disso!

3. Nossa Senhora de Guadalupe. Padroeira e Imperatriz das Américas.

Não é hora de lembrar toda a história que aconteceu no México, na colina do Tepeyac, nos primórdios da evangelização. Basta dizer que o que os zelosos missionários espanhóis não conseguiram em muitos anos de esforços, a Mãe de Jesus conseguiu em pouco tempo pelo modo de falar, dialogar, de vestir. Por meio do humilde índio São Juan Diego atraiu as multidões dos povos nativos, subjugados pelos colonizadores. Por isso, a Mãe de Jesus está sendo chamada Estrela da Evangelização e modelo da missão inculturada.

Quero acentuar a atitude de inculturação também no apostolado hodierno. É preciso aprender a dialogar com as culturas, com a vastidão das culturas na cidade e na roça. A cultura é a linguagem do povo pela qual as pessoas se entendem, se identificam, formam um grupo. É o canal pelo qual se pode chegar ao coração e à mente das pessoas. Por isso, é importante e urgente estar atentos como hoje as pessoas pensam, quais problemas enfrentam, o que vivem, quais perguntas que levam consigo. Admitamos: é um caminho bastante longo para compreendermos e aprendermos esta linguagem.

Ao encerrarmos este Ano de São José, dirijamos a Deus a seguinte oração a São José:

Salve, guardião do Redentor e esposo da Virgem Maria! A vós, Deus confiou o seu Filho em vós, Maria Depositou a sua confiança; convosco, Cristo tornou-se homem. Ó Bem-aventurado José, mostrai-vos pai também para nós e guiai-nos no caminho da vida. Alcançai-nos graça, misericórdia e coragem, e defendei-nos de todo o mal. Amém!

+ Dom João Wilk

Bispo Diocesano

 

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