Diocese de Anápolis

Diocese de Anápolis

Diocese de Anápolis

Homilia na festa de Sant’Ana – 2014

Paróquia Sant’Ana, Anápolis, 26/07/2014

Caríssimos irmãos e irmãs, devotos de Sant’Ana.

A sabedoria do povo expressa os mistérios e o conhecimento da vida em forma de provérbios e ditos sábios. Um deles diz: “Filho do peixe, peixinho é”.

A lei da genética transmite de pais para os filhos os traços e as características físicas, psicológicas e também espirituais. Jesus, um dia, disse esta sabedoria em outra forma: “Toda árvore boa produz frutos bons, e toda árvore má produz frutos maus.” (Mt 7,17).

É nesta luz que queremos hoje, na festa de São Joaquim e Sant’Ana, conduzir a nossa reflexão.

Dos Evangelho, que são fontes seguras dos fatos históricos, sabemos praticamente nada a respeito deste santo casal. A resposta é simples: os Evangelhos não se interessam por detalhes “secundários”; falam do que é principal: a verdade de Cristo, Filho de Deus, que se fez homem e nos salvou pela sua Cruz e Ressurreição. Outras coisas são citadas para ilustrar ou fundamentar esta verdade salvífica, que é o cerne do anúncio cristão.

Do santo casal São Joaquim e Sant’Ana sabemos apenas das narrações dos primeiros cristãos, recolhidas nos livros antigos. Se, de um lado, estes livros não tenham a segurança garantida dos fatos, do outro, guardam e narram fatos cuja veracidade é em muitas partes fidedigna.

Segundo esses relatos, os avós do Senhor Jesus, Joaquim e Ana, eram descendentes da família do rei Davi, a quem foi dada a promessa do Salvador. Joaquim – significa “preparação para o Senhor”. Ana – significa “graça”. Viviam piedosamente, na observância da Lei e no temor de Deus. Desejavam ter filhos, mas, não receberam esta graça. A prole numerosa era para os israelitas sinal da bênção de Deus. Sentiam-se excluídos desta bênção divina, eram vistos com suspeita pelos parentes e vizinhos e até pelo sacerdote do Templo.

Quase num santo desespero, Joaquim retirou-se para as montanhas para fazer penitência e, humildemente, pedir a graça da prole. Ana retirou-se na solidão, suplicando ao Senhor que mudasse a sua sorte e concedesse a graça tão desejada.

Deus tarda, mas não falta. Chega atrasado, mas chega, quando já não tem o que esperar humanamente. Deus considerou a tamanha fé e as súplicas do casal e, já idosos, deu-lhes a graça de uma menina, à qual deram o nome de Maria.

Segundo a tradição, menina ainda, Maria foi oferecida ao Senhor, no Templo, onde com outras coetâneas recebia uma educação humana, louvava a Deus, estudava as Sagradas Escrituras, aprendia prendas domésticas, cuidava das alfaias do Templo. Ficou até 12 anos de vida.

Surge-nos uma pergunta: os pais de Maria sabiam que estavam educando a Mãe do Salvador? Sabiam que o seu Neto seria o Salvador do mundo? Que seria o Emanuel – Deus conosco? Sabiam que esse Neto seria desprezado, condenado e pregado na cruz? Sabiam que o coração da Filha transpassaria uma espada de dor? É o mistério. Perguntas sem resposta. O certo é que a árvore boa dá bons frutos. Deus olhou a retidão, a fé deste casal, permitiu que se esgotasse o tempo humano para servir-se dessa retidão para a realização do seu plano. Se o fruto foi bom, a árvore foi boa. E é nesta lógica nós vimos a santidade desse casal, edificamos a nossa fé no seu exemplo, temos como referencia no caminho do seguimento do Mestre. A mensagem dos santos permanece sempre atual, porque são amigos de Deus e as suas verdades são eternas. Passam os tempos, mudam as circunstâncias e culturas, mas as verdades perenes permanecem as mesmas.

Para os santos Joaquim e Ana podemos olhar como exemplos da perseverança na fé, da fidelidade, da obediência a Deus. Confiaram em Deus, mesmo contra a esperança humana. Formaram Maria no seu simples cotidiano. Infundiram-lhe bondade e piedade. Prepararam o seu coração para aquele “Sim” que salvou o mundo.

Os santos assim são indicadores para o nosso caminho. A angústia deles antecipava a dor da cruz. Tornaram-se colaboradores na obra da salvação. E eles acorriam e sempre acorrem tantas famílias nas suas dificuldades: no desejo da paz, da reconciliação, de ter filhos, mães pedem um parto feliz.

São modelo das famílias unidas, onde os filhos tem pai e mãe e os avós, presença indispensável no delicado processo de crescimento. São modelo de famílias como Deus planejou. Somos contentes que no nosso meio tem tantas famílias que conservam laços profundos de unidade, de pertença, de estímulo, alegram-se com a felicidade, choram juntos na dor e na tribulação, partilham os segredos, rezam juntos quando se encontram para uma festa de confraternização. Isto é família cristã.

É deste modelo que falam tão frequentemente os santos Papas dos nossos tempos. Ser família assim é a nossa vocação e a nossa missão. Quem sabe, Deus permitiu a angústia de Joaquim e Ana para dizer que a família é possível, apesar de tantas contrariedades.

Na cultura atual a Igreja fala da “abertura à vida”, da abertura ao plano de Deus, contra a globalizada “cultura da morte. O desejo natural do homem e da mulher é ter filhos, ser família, ter alguém próximo ao seu lado, não apenas um companheiro de uma aventura sem compromisso que esvazia e aumenta a solidão. Nos filhos se realiza e prolonga a vida dos pais. O futuro dos filhos é a felicidade dos pais.

As famílias cristãs tem o dever de dar testemunho. Infelizmente, vivemos numa “cultura da morte”. As ideologias, as grandes somas de dinheiro, a nova ordem mundial que está sendo construída, condicionam a humanidade e forçam as consciências a aceitar os novos modelos de convivência, a eliminar vidas que chamam “inúteis”. Para nós cristãos é o tempo de provação e provocação. Devemos dar uma resposta adequada.

Sejamos, irmãos e irmãs, corajosos e perseverantes na fé. A nossa fidelidade será premiada copiosamente por Aquele que é o Senhor da verdade e da história. Não tenhamos receio de testemunhar a favor da vida e da família.

Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo!

+ João Wilk, OFMConv.
Bispo de Anápolis

 

Rolar para cima