Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo
Quinta feira 26 de Maio de 2016 – Paróquia de Sant`Ana
Que o Santo Sacramento / que é o próprio Cristo Jesus / seja adorado e seja amado / nesta Terra de Santa Cruz.
Queridos irmãos e irmãs em Cristo! Amado Povo de Deus!
Procissão – Acabamos de acompanhar o Senhor pelas ruas e avenidas de nossa cidade de Anápolis. Em muitos ouvidos e corações ecoou nossa profissão de fé na presença real do Filho de Deus vivo entre nós na Hóstia consagrada. A Igreja nos ensina que «a força do sacramento da Eucaristia vai além das paredes das nossas Igrejas. Neste Sacramento, o Senhor está sempre a caminho no mundo». Nas nossas procissões hoje «nós levamos Cristo, presente na figura do pão, pelas estradas da nossa cidade». Rezando e cantando nós confiamos nossas estradas, nossas casas, a nossa vida quotidiana à Sua bondade. «Que as nossas estradas sejam de Jesus! Que as nossas casas sejam para Ele e estejam sempre com Ele! Que a nossa vida de todos os dias esteja penetrada da sua presença». Com este gesto, amados irmãos, nós colocamos «sob o olhar do Senhor os sofrimentos dos doentes, a solidão dos jovens e dos idosos, as tentações, os receios, toda a nossa vida». A procissão foi seguramente uma bênção grande e pública para a nossa cidade: Cristo é, em pessoa, a bênção divina para o mundo. O raio da sua bênção de paz e misericórdia alcança todos nós! (cf. Papa Bento XVI – Corpus Domini, 2005).
Ao longo da procissão paramos para adorar Jesus presente na Hóstia Santa. O nosso pensamento voltou-se para o tema do Ano Santo da Misericórdia: 1) Eucaristia: manifestação da Misericórdia do Pai;
2) Eucaristia: permanência na Misericórdia;
3) Eucaristia: alimento do coração misericordioso;
4) Eucaristia: humildade e misericórdia.
Continuamos a nossa reflexão considerando outros aspectos da verdade que brota do mistério da Eucaristia…
Dom de Si. Consideremos atentamente as palavras de Jesus: «É o meu corpo dado por vós». Na Eucaristia, portanto, está presente Jesus no gesto do dom de Si. A oferta de Amor que Ele viveu sobre a cruz, a atitude perene de Jesus entre os braços do Pai, e é com esta atitude que Jesus se faz presente na Eucaristia, tornando-se pão que nos nutre e nos transforma. Aqui vemos que a Eucaristia é a fonte perene da misericórdia de Deus para connosco. Na instituição Ele disse: «Este cálice é a nova aliança, em meu sangue», para a remissão dos nossos pecados. O Seu sangue purifica a nossa consciência das obras mortas para que prestemos culto ao Deus vivo (cf. Hb 9,14). E o Apóstolo nos ensina: «Todas as vezes, de fato, que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, estareis proclamando a morte do Senhor até que Ele venha»(1Cor 11,26). Como é comovente este mistério! Como é profundamente verdadeira a afirmação que cada Eucaristia nos leva aos pés da cruz e torna verdadeiramente contemporânea a nós a morte de Jesus para a nossa salvação!
Força, luz, alimento – As manifestações de amor a Jesus foram para dizer que a coisa mais importante é ter (ou recuperar) uma fé viva na Eucaristia, partindo da certeza que a Eucaristia é o grande dom do Amor de Deus à Igreja que caminha para a Pátria eterna e tem necessidade contínua de força, de luz e de alimento. Sim, necessitamos do Cristo Eucarístico, nossa força, nossa luz, nosso alimento. Sem Jesus Eucarístico, Pão Vivo descido do Céu, nós não podemos viver! A quem iremos? Honestamente, «nós, de fato, sabemos que é possível que venha a faltar o óleo em nossas lâmpadas (cf. Mt 25,8); nós sabemos que é possível passar do Evangelho de Cristo a um outro evangelho (cf. Gl 1,6); nós sabemos que é possível abandonar o primeiro amor (cf. Ap 2,4); nós sabemos que é possível nos tornar tíbios, isto é, nem frios nem quentes (cf. Ap 3,15-16); nós sabemos também que devemos nos exortar reciprocamente dia após dia, enquanto ainda se disser “hoje” (Hb 3, 13): deixemo-nos, portanto, nutrir e plasmar pela Eucaristia, imergindo continuamente a nossa pobre vida no sacramento da presença de Jesus em meio a nós (cf. Angelo Comastri, Corpus Domini, 2014). Nós acreditamos, irmãos: «A Eucaristia é Deus conosco, é Deus em nós, é Deus que se dá perenemente a nós, para amar, adorar, abraçar e possuir» (Beato Charles de Foucauld).
A humildade de Deus – A Eucaristia é o grande dom de Jesus: o presente da última hora, o presente do momento da despedida. Procuremos, portanto, descobrir Deus partindo da Eucaristia. A Eucaristia grita a humildade de Deus. Se Deus fosse um orgulhoso, nos teria feito um dom completamente diferente; teria se tornado presente de maneira espetacular e vistoso. Ao contrário, Deus é humilde! São Francisco de Assis se emocionava quando meditava esta verdade. Nas suas Admoestações escreve: «Eis, cada dia Ele se humilha na Santa Eucaristia, como quando da sede real desceu no seio da Virgem Maria; Ele mesmo cada dia vem a nós em aparência humilde, cada dia desce do seio do Pai sobre o altar nas mãos do sacerdote». E na Carta a toda a Ordem, exclama: «Quanto deve ser santo, justo e digno aquele que aperta entre suas mãos e recebe no coração e oferece aos outros este Santíssimo Sacramento. Ó humildade sublime! Ó sublimidade humilde, o Senhor do universo, Deus e Filho de Deus, assim se humilha ocultando-se, para a nossa salvação, sob pouca aparência de pão. Olhai, irmãos, a humildade de Deus!». A Eucaristia nos recorda claramente que, sem humildade não podemos encontrar Deus. É importante que tenhamos sempre presente esta verdade incômoda, mas decisiva.
Ajoelhar-se para adorar – Alcides de Gasperi, político italiano de grande estatura moral e intelectual, amava dizer: «Ajoelho-me diante da Eucaristia para poder estar de pé diante dos homens». Essas palavras-testemunho encontram eco nas palavras do Papa Bento XVI, que nos fala do sentido do ajoelhar-se em adoração diante do Senhor. «Adorar o Deus de Jesus Cristo é o remédio mais válido e radical contra as idolatrias de ontem e de hoje. Ajoelhar-se diante da Eucaristia é profissão de liberdade: quem se inclina a Jesus não pode e não deve prostrar-se diante de nenhum poder terreno, mesmo que seja forte». E continua: «Nós, cristãos, só nos ajoelhamos (em atitude de adoração) diante do Santíssimo Sacramento, porque nele sabemos e acreditamos que está presente o único Deus verdadeiro. Prostramo-nos diante de um Deus que foi o primeiro a inclinar-se diante do homem, como Bom Samaritano, para o socorrer e dar a vida, e ajoelhou-se diante de nós para lavar os nossos pés sujos. A adoração é a oração que prolonga a celebração e a comunhão eucarística na qual a alma continua a alimentar-se: alimenta-se de amor, de verdade, de paz; alimenta-nos de esperança, porque Aquele diante do qual nos prostramos não nos julga, não nos esmaga, mas liberta-nos e transforma-nos».
Missão e caridade – A Eucaristia suscita em nós o mandato missionário: doar Cristo Salvador aos outros e a caridade aos necessitados em seu nome.
Amados irmãos e irmãs, a Eucaristia claramente nos diz que, sem Deus, o homem não se saciará jamais: é Deus o Pão que sacia a fome sem fim do coração humano. Eis porque a Eucaristia fascinou tanto Madre Teresa de Calcutá ao ponto de fazê-la exclamar: «Sem a Eucaristia não poderia viver um só dia. E sem a Eucaristia não poderia levar o amor aos pobres!». E a ordem de Jesus permanece atual: «Dai-lhes vós mesmos de comer!». Vemos, portanto, que a Eucaristia nos conclama à missão e à caridade.
O Papa São João Paulo II, na Carta Apostólica “Fica conosco, Senhor” (MD 28), tratando de diversas dimensões da Eucaristia, se expressa: “O cristão que participa da Eucaristia aprende dela a fazer-se promotor da comunhão, de paz, de solidariedade, em todas as circunstâncias da vida (…). São Paulo insiste com vigor que não é lícita uma celebração eucarística na qual não refulja a caridade testemunhada pela partilha concreta com os mais pobres” (cf. 1 Cor 11, 17ss). (…) Não podemos nos iludir: pelo amor mútuo e, em particular, pela solicitude por quem está necessitado seremos reconhecidos como verdadeiros discípulos de Jesus Cristo. É com base neste critério que será comprovada a autenticidade de nossas celebrações eucarísticas”.
Com Maria, Mulher Eucarística – Celebramos esta festa do Corpus Christi no mês de maio, mês dedicado à Nossa Senhora. Ela é a Mulher Eucarística. Fazendo nossa a atitude adorante de Maria, rezemos por nós e por todos; rezemos por todas as pessoas que vivem nesta cidade, para que possam conhecer Deus Pai e Aquele que Ele enviou, Jesus Cristo. Acolhamos, como Maria, com alegria e comovida gratidão este dom de Jesus.
Então, uma vez mais, pedimos: Senhor Jesus, aumenta a nossa fé na Santíssima Eucaristia! Faça-nos tomar consciência da nossa pobreza e abri os nossos olhos diante do mistério do Teu dom, que é a única terapia da nossa inquietação e da nossa infelicidade.
Que o Santo Sacramento / que é o próprio Cristo Jesus / seja adorado e seja amado / nesta Terra de Santa Cruz. Amém!
+ João Wilk, bispo de Anápolis.