Diocese de Anápolis

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Homilia de Dom João Wilk na Missa do Crisma

Missa do Crisma 2019
Alma missionária dos sacerdotes.
 
Leva-me aonde os homens necessitem Tua palavra Necessitem de força de viver. Onde falte a esperança, onde tudo seja triste simplesmente por não saber de Ti.
(Alma Missionária, Ziza Fernandes)

 

Amados Irmãos e Irmãs em Cristo!

Em 22 de outubro de 2017, Dia Mundial das Missões, o Papa Francisco durante o Angelus anunciava publicamente para toda Igreja sua intenção de proclamar um Mês Missionário Extraordinário.

O Papa Francisco escolheu para o Mês Missionário Extraordinário o tema “Batizados e enviados: a Igreja de Cristo em missão no mundo”. A nossa Diocese, com seus programas pastorais, está inserida dentro da preparação deste Mês Missionário Extraordinário.

A ideia do Mês Extraordinário faz eco às palavras de Jesus: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa-Nova a toda criatura! Quem crer e for batizado será salvo…” (Mc 16, 15-16). E ainda: Ide, pois, fazei discípulos entre todas as nações, e batizai-os… Ensinais-lhes a observar tudo o que vos tenho ordenado (Mt 28, 19).

Essas palavras tem valor para todos os cristãos. Mas Jesus as dirigiu especialmente aos Apóstolos. Por isto, nesta Missa do Crisma quero abranger com a reflexão, de modo especial, os sacerdotes.

A alma missionária do sacerdote brota da intima união com Cristo que chamou e quis que os chamados fossem discípulos. Quis ficar com eles, formar, criar laços, modelar a alma e a vontade deles segundo o seu Coração. Subiu depois à montanha, chamou a Si os que Ele queria, e esses foram até Ele. E constituiu Doze para que estivessem com Ele e para enviá-los a pregar e terem autoridade para expulsar os demônios (Mc 3, 13-15). “Chamou a Si os que Ele queria para que estivessem com Ele” – eis o discipulado! Esses discípulos serão enviados a pregar e a expulsar os demônios – eis os missionários!

Estar com Cristo antecede o envio. O fruto do trabalho do sacerdote depende de estreita relação com a vivência do discipulado, que podemos também chamar de um novo e constante Pentecostes na alma do sacerdote. Sem este constante abrasamento no amor a Deus, o esforço do sacerdote pode facilmente transformar-se em ativismo, depois em cansaço e em desânimo destruidor.

Na vida do sacerdote o discipulado se nutre de oração, alimentada na adoração eucarística, na meditação da Palavra de Deus, na serena e digna celebração dos Sacramentos, na prática da caridade, na paciência em prosseguir o caminho da santificação.

“Ir”, “ensinar”, “fazer discípulos”, “batizar”. Estas dimensões estão inseridas na natureza da ordenação sacerdotal e se expressam nos tria munera, ou seja, tarefas obrigatórias: ensinar, santificar e apascentar.

Nestas três tarefas obrigatórias se resume a vontade de Jesus, o que Jesus deseja fazer na pessoa e por meio da pessoa do sacerdote. O Concílio Vaticano II apresenta o presbítero como ministro da Palavra, ministro da santificação através dos Sacramentos e como pastor, guia e educador do Povo de Deus

a) Tarefa de ensinar

Jesus e os Apóstolos colocaram em primeiro lugar a ação evangelizadora: anunciar a Boa-Nova, ensinar as verdades da fé, proclamar o Kerygma – o primeiro anúncio. São Paulo na Carta aos Romanos escreve: Ora, como invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele que não ouviram? E como o ouvirão, se ninguém o proclamar? E como proclamarão, se não houver Enviados? Assim é que está escrito: Quão benditos os pés dos que anunciam boas novas!’“.

Jesus Cristo, na sinagoga em Nazaré, assim falou de si mesmo, citando as palavras do profeta Isaías: O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me ungiu, para anunciar a Boa Nova aos pobres”. (Lc 4, 18)

Já na véspera da sua Paixão, descendo o Monte das Oliveiras, os discípulos gritavam: Bendito o Rei, que vem em nome do Senhor! (…) Alguns dos fariseus interpelaram Jesus: Mestre, repreende teus discípulos! Ele, porém, respondeu: Eu vos digo: se eles se calarem, as pedras gritarão. (Lc19,37-39)

E, por fim, tão conhecidas palavras de São Paulo: Anunciar o evangelho não é para mim motivo de glória. É antes uma necessidade que se me impõe. Ai de mim, se eu não anunciar o evangelho! (1 Cor 9,16).

Esta necessidade que se impõe vem de onde? Do enamoramento por Deus, do desejo de partilhar o que nos faz felizes. Do desejo de levar Deus às almas e buscar almas para Deus.

O exemplo de missionário moderno pode ser São Maximiliano Maria Kolbe. Antes de ser missionário no distante Japão, exercia o seu sacerdócio entre os compatriotas com métodos modernos, “oportuna e inoportunamente.” Criou uma modesta revista, criou um convento-gráfica, entrava na conversa das pessoas viajando de trem ou estando hospitalizado, etc. Mesmo no campo de concentração nazista não poupava tempo, de dia e de noite, para consolar e infundir esperança nos co-prisioneiros desesperados.

A nós cabe abraçar o anúncio com todas as forças, entusiasmo e modalidades que temos à disposição: catequese, homilias, confessionário, conversas individuais, palestras, retiros, rádio, televisão, olhando e analisando a sociedade em que nos coube viver e evangelizar…

Lancemo-nos nesta aventura, para não guardar só para nós a alegria do Evangelho!

b) Tarefa de santificar

A continuação do munus anuntiandi é o munus santificandi: santificar os conquistados para Deus que aceitaram ser discípulos de Jesus. Trata-se de consciente e frutuosa oferta da graça de Deus pelo ministério sacramental. Os Sacramentos são canais da graça divina, colocam o discípulo em comunhão com Deus, ajudam a manter e a crescer nela até a plenitude da santidade. Agem pela força de serem ministrados. Mas, os seus frutos, naturalmente, dependem da consciência, da liberdade e da preparação do discípulo para tal. Nisto, o sacerdote é de grande valia. É ele o responsável pela preparação, faz compreender o rito com a Palavra de Deus e sua breve e sintética pregação, transmite a graça alegrando-se por quem recebe o Sacramento e pelo fato de poder comunicar a vida divina a quem recebe o Sacramento. Faz transparecer a fé naquilo que faz e a mística do encontro com Deus. São as sementinhas que, junto com a graça santificante, coloca na alma e na consciência do discípulo para orientar toda a sua vida.

c) Tarefa de apascentar

Com a ordenação, o sacerdote se torna pastor do rebanho a ele confiado. Não importa se tem paróquia ou não. Pode servir em outros serviços, mas sempre será para o bem do povo de Deus, pois o munus pascendi abrange todos os serviços em prol da Igreja.

Preferimos olhar para a nossa realidade, prevalentemente marcada pela atividade paroquial.

O Papa Francisco fala da necessidade da reforma da pastoral: ficar com o que é bom, reinventar ou abandonar o que se tornou obsoleto. Ser criativo nas novas formas de buscar almas. De concreto, penso nas nossas festas patronais. Fizemos grandes progressos para tornar as festas momentos de evangelização. Do caráter mundano conseguimos fazer que se tornassem ambientes do bem, de sobriedade, de confraternização, momentos de convívio familiar. Transformamos as folias em momentos de novenas e de oração. Nem tudo ainda conseguimos. Vamos continuar trabalhando. Nas comunidades onde as festas insistem em caráter profano, ter coragem de deixar de lado e partir para novas formas de viver as festas.

Isto é apenas um exemplo. Para não delongar, os tempos de hoje precisam de corajosa criatividade. E eu agradeço os padres pelo espírito missionário. Coragem! A tarefa nunca termina!

Ó Maria santíssima,

primeira discípula do teu Divino Filho,

ensina-nos a repetir o teu “sim” à vontade de Deus

e a sermos , como Tu, anunciadores da Boa-Nova.

Mãe do Sumo Sacerdote, santifica o nosso sacerdócio

para que sejamos transformadores do mundo a maneira de Jesus.

Divina Pastora, ilumina-nos com o Teu exemplo,

a ser a silenciosa e confortadora presença

no meio do rebanho que Teu Filho nos confiou.

Amém.

Dom João Wilk – Bispo de Anápolis – GO

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