Diocese de Anápolis

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Eucaristia e Palavra de Deus – Corpus Christi 2008

1. Manifestação da fé eucarística.

Celebramos, mais uma vez, com expressões de solenidades, a festa do Corpus Christi. Desde o século XIII, por revelação particular de Jesus a uma religiosa na Bélgica, até os dias de hoje, os fiéis católicos do mundo inteiro prestam culto público de adoração a Jesus Cristo presente na Hóstia Santa. Participa deste culto toda a sociedade, respeitando a festa do Corpus Christi como dia de feriado, livre de trabalho e ocupações profissionais. Nas cidades, povoados, aldeias e pequenas comunidades o povo, com criatividade incomum, adora o Deus vivo e pede a sua bênção. É a festa da unidade eclesial que o Santíssimo Sacramento nos proporciona. Com este intuito, celebramos a presente Santa Missa como expressão da unidade da Diocese de Anápolis. Estão presentes aqui todas as paróquias da cidade. Viemos em procissões das nossas igrejas paroquiais para esta praça da Padroeira da cidade e da Diocese, Senhora Sant’Ana. É um ato de expressiva importância. Viemos trazendo o ostensório com Cristo – Hóstia, paramos junto aos altares para meditar sobre a Eucaristia e sobre a Palavra de Deus, duas fontes de comunhão com o mesmo Deus. Foram dadas as bênçãos para as ruas, bairros, lojas, casas e para seus moradores. Com muita fé e espírito de generoso sacrifício percorremos estes trajetos em expressão de que a nossa vida toda é uma caminhada de fé, com olhos fitos na meta final, na Pátria celeste, onde está a nossa última vocação e onde nos espera Aquele que agora se dá a nós em Sacramento.

2. Eucaristia e a Palavra de Deus.

Durante o trajeto das procissões meditamos sobre a Eucaristia e a Palavra de Deus. Foi a nossa escolha consciente, pois a Igreja nos convida a meditarmos sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja. Será o tema do Sínodo dos Bispos em Roma, no mês de outubro próximo. Percebemos que a Eucaristia e a Palavra de Deus estão em estreita e essencial união uma com outra.

Quero, agora, retomar alguns aspectos deste tema e orientar a piedade do nosso povo para a Palavra de Deus na vida diária e na sua íntima união com o mistério da Eucaristia.

Nós somos seguidores de Jesus Cristo. Cremos que Ele, e somente Ele, é o nosso único e verdadeiro Salvador. Sendo Deus eterno, se fez homem para o nosso bem, para a nossa salvação. Ele, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, é a Palavra Eterna de Deus Pai. E esta Palavra, se fez carne e habitou entre nós. Jesus que temos como Salvador é a Palavra de Deus-Pai dirigida a nós. Por Ele, Deus Pai fala a nós seus filhos.

Aprendemos e nos acostumamos a viver a nossa religião, tendo como ato central a celebração da Eucaristia. A Eucaristia, como mistério celebrado e vivido, é o ponto alto e central da nossa vivência da fé. É o coração da Igreja. A liturgia da celebração da Eucaristia, a Santa Missa, desdobra-se em dois grandes momentos: a Liturgia da Palavra e a Liturgia Eucarística. É o mesmo Jesus que nos reúne e nos alimenta, dando-se a nós por amor, sob a forma da Palavra e sob a forma do Pão. A mesa que Deus – Pai preparou para nós é Jesus Cristo que se dá a nós em alimento no banquete da Palavra e no banquete da Sua própria Pessoa, a PALAVRA encarnada e viva de Deus. Na celebração da Santa Missa há uma união íntima entre a Liturgia da Palavra e da Eucaristia. Na primeira, recebemos Jesus e a sua graça, em forma de palavras. Na segunda, recebemos Jesus em forma de Pão; Pão que não é mais pão, mas o verdadeiro Corpo e Sangue do Salvador. Para alcançar estes frutos, a Palavra de Deus, proclamada e meditada na Santa Missa precisa ser acolhida com muita atenção, compreendida, assimilada, digerida espiritualmente, para uma participação frutuosa da comunhão do Corpo e Sangue do Senhor na Eucaristia.

Aos nossos fiéis dirijo, portanto, um sincero pedido e insistente encorajamento: sejam amantes da Palavra de Deus. Amem a Bíblia Sagrada com autêntico amor. Façam da leitura orante da Bíblia uma devoção privilegiada e fonte principal da sua espiritualidade. Valorizem a ativa e atenta participação na Liturgia da Palavra durante a Santa Missa dominical e até diária. Criem um interesse particular para escuta atenta das leituras. Escutem atentamente as homilias, procurem, durante semana, voltar às inspirações que a Palavra de Deus lhes deixou na Missa do último domingo. Tenham o ensinamento da Palavra de Deus como sabedoria, orientação, estatuto de vida pessoal e poderosa arma na luta contra as ciladas do inimigo infernal.

3. Eucaristia e a vivência do Dia do Senhor.

Esta festa de Corpus Christi me anima a falar aos fieis da importância de domingo como Dia do Senhor. O Livro dos Atos dos Apóstolos nos atesta que os primeiros cristãos começaram a se reunir no primeiro dia da semana para celebrar a Ressurreição do Senhor Jesus. Escolheram a celebração da eucaristia como forma de comemoração e de ação de graças. E eram perseverantes na fé que receberam dos Apóstolos. Esta prática orientada, sem dúvida pelos próprios Apóstolos nos indica a compreensão que a cristandade nascente teve dos fatos marcantes da própria fé. Com eles aprendemos o que o Domingo, Dia do Senhor, o primeiro dia da semana, significa para a nossa fé cristã.

É o dia da nova criação, pois a Ressurreição abre os novos tempos da verdadeira vitória do bem sobe o mal. É o início dos novos tempos do reinado de Deus sobre o mundo e a sua história. Por conseguinte, o domingo é o dia da nova criação, em que o poder de Deus faz novas todas as coisas e prepara os tempos da feliz eternidade.

O domingo é o dia da comunidade, dia em que Deus chama e congrega os seus filhos para lhes falar como o pai fala aos seus filhos amados, para lhes abençoar, para receber deles as manifestações de amor, de confiança e de gratidão. O novo povo de Deus, na fiel tradição do Antigo Testamento, mas com novas expressões, percebe que a salvação é dada para todos na forma de um povo santo, que pertence a Deus como sua propriedade exclusiva. Jesus, com a sua encarnação se fez nosso Irmão maior e nos ensinou que somos irmãos, porque somos filhos do mesmo Pai. A nossa filiação divina jamais se separa da nossa irmandade humana, em nome do mesmo Pai.

O domingo é dia de repouso, ou seja de recuperar as forças físicas e ganhar as forças espirituais, dia de celebrar a vida. “Não só de pão vive o homem” – diz Jesus. De fato, temos outras dimensões de vida, além do aspecto material de trabalho e precisamos cuidar delas. A vida não se reduz a de uma corrida ilimitada atrás dos bens materiais ou dos prazeres passageiros. É preciso olhar para dentro de si, dar valor ao aspecto espiritual, perceber a importância dos relacionamentos interpessoais, pais conhecerem os filhos, os filhos sentirem a presença dos pais. Não menos importante é ampliar a vida cotidiana com o horizonte de cultura, de lazer edificante, de expressões de vida social.

Por isso, como cristãos do novo milênio, devemos crescer na vivência do domingo e aprender a dar-lhe todo o valor. É preciso organizar o seu tempo para que a participação da Santa Missa na igreja paroquial seja parte fixa da nossa agenda pessoal e familiar. Na medida do possível, a família participe toda unida deste ato de fé. A família tem pouco tempo para ficar unida. A ida a Santa Missa. Sem dúvida, é um momento todo especial para aproximar e unir as pessoas. Procuremos dar ao domingo um ar de diferença entre os dias da semana. Procuremos participar das ações sagradas com empenho, ativamente, como se a celebração toda dependesse só da nossa participação. Elaboremos formas novas e criativas de uma cultura de domingo nas nossas casas. Com isso o nosso dia-a-dia ganhará um novo sabor.

4. Tenhamos cuidado com os valores que sofrem ameaças.

No mundo atual, por muitos motivos, os valores cristãos e católicos sofrem menosprezo e sofrem ameaças. Nalgumas partes do mundo, a sociedade materialista e hedonista tenta, por dispositivos legais, criar uma nova forma de organização da sociedade. Há tentativas de abolir o domingo a favor de mais um dia de trabalho.

Na minha recente viagem à Alemanha entrei numa igreja evangélica e encontrei abundante material impresso em defesa do domingo e do seu valor humano e cristão.

Não acontece o mesmo em Anápolis. No início do mês de maio, aconteceu na Câmara dos Vereadores de Anápolis uma discussão a respeito da cruz que ali está afixada, símbolo da índole cristã do País e da salvaguarda dos valores. A cruz no plenário da Câmara desagradou a alguns personagens. Os vereadores católicos tiveram coragem de defender o símbolo tão caro a toda a história do Brasil, Terra de Santa Cruz.

A quem incomoda a cruz? A quem incomoda o crucificado?

No tempo da minha infância, no meu país de origem, presenciei na escola a execução da ordem dada pelo regime comunista de retirar as cruzes dos lugares públicos. Os alunos, num ato espontâneo de protesto, saíram das salas de aula e introduziram nelas os animais de um camponês de passagem. Nos países de regimes totalitaristas, as cruzes foram retiradas para não dividir o poder com ninguém. Nos países de orientação ateia e laical, as cruzes são proibidas até nas praças públicas em forma de monumentos, para não haver nenhum sinal de sagrado, pois a religião é proibida em nome de um humanismo equivocado.

E em Anápolis, em nome de que se tenta eliminar a cruz da Casa do Povo?

Não terá a cidade de Anápolis maiores preocupações? Crise das famílias, consumo de drogas pelos adolescentes, aumento da violência e da mendicância (principalmente entre as crianças), ineficiência da limpeza urbana, periferias desamparadas, iluminação pública cara e precária, falta de planejamento, ruas esburacadas… Estas e outras “cruzes”, que causam sofrimento nada redentor ao nosso povo, é que precisam ser retiradas da vida pública, da vida do povo.

A cruz do plenário da Câmara deve permanecer como sinal profético de compromisso sério com a justiça e promoção do bem comum, como apelo a honestidade e luta contra a corrupção. Nisto, sim, os seguidores de todas as religiões deveriam estar unidos, não divididos, pois a causa é mais nobre que as diferenças particulares. E esta é a missão dos homens públicos, de quem aspira a uma função social.

Saibamos defender os nossos valores. É preciso ter lucidez e coragem para dar uma contribuição efetiva na construção de uma sociedade mais próspera e tranquila, baseada nos valores perenes.

Seja a Eucaristia fonte iluminadora para os nossos esforços de cada dia.

Louvado seja Jesus Cristo!

+ Dom João Wilk
Bispo de Anápolis
22/05/2008

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