Pela imposição das mãos e oração consecratória de Dom João Wilk, cinco seminaristas são ordenados diáconos na Catedral do Senhor Bom Jesus da Lapa, em Anápolis
No último sábado, 16 de novembro, a Catedral do Senhor Bom Jesus da Lapa, em Anápolis GO, foi o local escolhido para a grande graça da ordenação diaconal dos seminaristas: Célio Rodrigues; Gean Cácio; Hiago Moreira; Marcus Vinícius e Matheus Oliveira. Ambos assumem o primeiro grau do sacramento da ordem de modo transitório, como caminho de serviço em vista da ordenação presbiteral.
O diácono, desde a origem apostólica desse ministério, é chamado a ser servidor, especialmente dos mais pobres e sofredores, como nos recorda o livro dos Atos dos Apóstolos (cf. At 6,1-7b), ao relatar a instituição dos Sete, reconhecidos como os primeiros diáconos de nossa Igreja. Os apóstolos escolheram sete homens “cheios do Espírito Santo e de sabedoria”, e lhes impuseram as mãos, em primeiro lugar para o serviço da caridade, isto é, da partilha do pão entre os mais pobres. Trata-se de uma vivência própria da caridade, que é o amor cristão, de modo espontâneo, mas especialmente, de modo organizado, assumido pela comunidade.
À imitação do Cristo casto, pobre e obediente, os diáconos cooperam com a edificação do Reino de Deus desempenhando funções que lhe são próprias. É desejo da Igreja que na vida dos diáconos “resplandeçam os mandamentos para que o exemplo de sua vida suscite a imitação do povo santo. [Que] Animados pelo bom testemunho da consciência, permaneçam em Cristo, firmes e constantes, de modo que, imitando Jesus Cristo na terra, que veio para servir e não ser servido, com Ele mereçam reinar nos céus.” (cf. oração consecratória).
Dom João Wilk, numa homilia espontânea e amorosa, “como um pai que fala aos filhos, como a Igreja aos seus fiéis”, a partir da natureza do ministério confiado aos seminaristas, recordou-lhes que devem permanecer firmes na fidelidade a Igreja, buscando a simplicidade e a modéstia no ser e no agir. Evocando a saudosa memória de Dom Dilmo, recordou o que o prelado costumava dizer acerca da temática da vocação: “é o encontro de duas liberdades. De um lado Deus, que escolhe e quer ter [o escolhido] a seu serviço, perto de si de modo especial e de livre e espontânea vontade […].” E, do outro lado, o escolhido que, tendo refletido nos anos que passou no Seminário e ciente da predileção que Deus tem por si, chega à conclusão de que é livre para abraçar definitivamente o amor de Deus. Lembrava que esse ato é grandioso, tanto da parte de Deus quanto do homem. “Da parte de Deus, que aposta no homem com todas suas qualidades, defeitos e medos […]” e da parte daquele que responde, pois “não sabe o que espera, a não ser o que está escrito nos livros que estudou no tempo de Seminário”, concluía o religioso.
“Diante das crises, de pensar por que eu sou diácono? A única resposta deve ser: porque Deus me escolheu primeiro e eu escolhi a Deus como minha resposta livre e de liberdade permanente para a vida toda”, disse Dom João, convidando os diáconos a fazerem um ato definitivo de entrega total e de abandono nas mãos de Deus.
O rito de ordenação muito sugere sobre a realidade da vocação ao ministério consagrado. Uma das últimas coisas que se faz é a imposição dos paramentos àquele que está sendo ordenado. Primeiro, há o diálogo com o ordinário que, na posição de sucessor dos apóstolos, confronta o ordinando em seus propósitos e resoluções, convidando-o a uma resposta definitiva de conformação às exigências do ministério. O ordinando, após ser confrontado com tal ideal, sente o peso da responsabilidade que está assumindo e prostra-se em adoração onde, com a igreja em prece, pede o auxílio dos santos e santas de Deus para si e para sua vida ministerial.
Depois, num ato bimilenar que acompanha a fé católica desde a Igreja nascente, o Bispo impõe as mãos em silêncio na cabeça de cada um dos ordinandos, num gesto de transmissão do poder sagrado que recebe pela sua sucessão direta de um dos doze. Após a imposição das mãos, o bispo diz as palavras da oração consecratória que, pela graça da efusão do Espírito Santo, imprime na alma dos ordinandos o caráter sacramental do sacramento da Ordem. Só depois desse momento, quando a estola e a dalmática já foram vestidas na alma de cada neo-diácono, é que os ordenados são revestidos dos paramentos que são próprios desse grau da ordem. Assim, a tradição litúrgica da Igreja aponta para a realidade bonita de que o ministro ordenado é revestido primeiro de dentro para fora. E é apenas porque já está revestido e ornado na alma, que pode ostentar em si os paramentos próprios de seu ministério.
Em seu agradecimento final, iniciado com a citação do salmo 15, o diácono Matheus Oliveira disse: “Eis por que nosso coração está em festa, nossa alma rejubila de alegria. […] Louvamos e agradecemos a Deus que, em sua infinita misericórdia, escolheu-nos para cooperar em sua missão. Sabemos que não somos dignos, mas, porque fomos chamados, correspondemos com alegria ao chamado do Senhor.” Fazendo memória a Dom Dilmo, pediu a Deus que conceda ao finado prelado um bom lugar no céu, recompensando pelo bem que fez a causa das vocações na Diocese de Anápolis. Dirigindo-se aos religiosos, aos familiares e aos pais dos ordinandos, agradeceu o suporte recebido em todos os anos de formação.
Contemplando a Igreja cheia de tantos amigos das diversas partes da Diocese, o neo-diácono, lembrando a promessa do cêntuplo feita pelo Senhor aos apóstolos (cf. Mt 10,30), disse: “Jesus prometeu àqueles que o seguiam que receberiam cem vezes mais aqui na terra, ainda que com perseguições. Queridos irmãos e amigos de caminhada, […] vocês são o nosso cem vezes mais. Ao deixar nossos pais, irmãos e amigos, Jesus colocou vocês em nossas vidas e vocês nos acolheram como se fossemos vossos familiares, nos amaram como se fossemos vossos irmãos e nos ajudaram como verdadeiros amigos.”
Missão
No final da celebração, Dom João Wilk apresentou as missões para onde os diáconos serão enviados para desempenharem seu ministério diaconal: diácono Célio – pastoral junto ao Bispo Diocesano; diácono Gean – Paróquia Nossa Senhora do Livramento (Girassol – GO); diácono Hiago – Paróquia Nossa Senhora do Rosário e Paróquia Santa Bárbara (Pirenópolis – GO); diácono Marcus Vinícius – Paróquia São Pedro e São Paulo (Abadiânia – GO) e diácono Matheus Oliveira – Paróquia Santíssima Trindade (Anápolis – GO).
Com a Catedral repleta de fiéis das diversas partes da Diocese e de membros das diversas pastorais e movimentos dessa Igreja Particular, a celebração foi um momento de forte espiritualidade e de grande alegria para cada um dos diocesanos. Cada vez que acontece uma ordenação, dizia Monsenhor Mário Cuomo (sacerdote italiano, fidei donum nesta Diocese), “nada de mais importante acontece em todo o mundo, pois até os anjos se dobram diante de tamanha graça comunicada do céu ao coração do ordinando”.
Texto:Marcos Vinícius Santana Foto: Marcelo Faria.