Diocese de Anápolis

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Deus precisa de colaboradores

HOMILIA NA ORDENAÇÃO DIACONAL
12 de dezembro de 2010

Irmãos e Irmãs.

Estamos celebrando a liturgia do terceiro domingo do Advento – tempo de preparação para o Natal e de aprendizado como reconhecer os sinais de Jesus Cristo na história, na vida do mundo, da sociedade, da Igreja e na vida pessoal de cada um de nós.

Advento é tempo de espera. Toda espera é carregada de tensão para um acontecimento. Se é triste, é carregada de medo e incerteza. Se alegre e promissor, a espera é carregada de alegria e esperança. Assim é a espera de Advento: alegria da certeza de que o Senhor vem para reinar. Nesta certeza de que o Senhor Jesus vem para reinar e vencer , fundamenta-se toda a nossa esperança.

A liturgia do Advento apresentou-nos as grandes figuras ligadas à História da Salvação: Patriarcas do Antigo Testamento, profetas Isaías e João Batista, a Maria Santíssima, a grande protagonista e figura central deste tempo litúrgico.

Este terceiro domingo do Advento concentra-se nos sentimentos de alegria: alegremo-nos, porque Deus e a sua libertação estão próximos. O coração de toda pessoa se alegra com aquilo que deseja. E o nosso coração deseja Deus.

Na data de hoje – 12 de dezembro – a Igreja celebra a festa de Nossa Senhora de Guadalupe – Padroeira das Américas. Nas aparições, Nossa Senhora apresentou-se ao índio Juan Diego em forma de uma jovem índia, mulher do povo. Com seus gestos e trajes mostrou aos índios o novo Deus e a nova religião. Orientou os singelos sentimentos de fé para um Deus verdadeiro, Deus único, Deus de Amor. Num sublime gesto de inculturação tornou-se a grande evangelizadora do povo índio, abrindo a estrada pela qual o Continente todo tornar-se-ia cristão.

Neste clima de Advento e da festa de Nossa Senhora de Guadalupe, celebramos a ordenação diaconal dos nossos irmãos Cândido e Antônio. Eles terminaram recentemente o currículo de formação no nosso Seminário Maior e no Institutum Sapientiae de Anápolis. Foram considerados aptos e dignos de serem ministros de Deus e da Igreja. Como diáconos começarão o seu ministério na nossa Diocese, num campo que a necessidade pastoral lhes indicar.

Como podemos vincular a mensagem da liturgia com o ministério para o qual eles foram chamados e agora ordenados?

Não queremos expor aqui todos os aspectos teológicos relativos ao diaconato. Queremos apontar elementos que podem suscitar em nós a reflexão e orientar a forma de eles viverem o seu estado diaconal no seio da Igreja.

  1. Deus tem um plano de amor e de felicidade para toda a humanidade. Este plano é eterno. Deus nunca desiste dele. Nunca desiste de amar e de buscar cada ser humano. É o plano que teve a sua origem no ato da criação. Encontrou a plena realização na Encarnação, na paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo. Continua se desenvolvendo pelo serviço da Igreja. Deus continua salvando a humanidade.
  2. Para este plano precisou e precisa de colaboradores: patriarcas, profetas, João Batista, Maria, Apóstolos… Hoje, também precisa de pessoas vocacionadas e consagradas. Deus precisa e o mundo precisa desta consagração, da entrega total de vidas, para que o mundo seja salvo. A vida é preciosa e só pode ser doada bem para uma grande causa.
  3. É preciso acreditar na iniciativa de Deus. Não somos nós a nos decidirmos por Deus. Foi Ele, por primeiro, que tomou decisão por nós. Da nossa parte houve uma acolhida e uma resposta; uma resposta de amor, consciente e livre, carregada de humildade e determinação, e de mérito, com certeza, que Deus saberá recompensar com uma medida abundante, calcada… A iniciativa de Deus é um ato constante dentro da nossa vida. É consolador saber disso, pois não falta a sua graça àqueles que Ele escolheu. Basta viver nesta confiança e nesta entrega.
  4. A diaconia é serviço por natureza. Há muitas formas de servir dentro da vocação diaconal e sacerdotal. Mas é importante compreender que “servir” deve ser a própria filosofia do estado de vida que se escolhe. É a atitude básica, da qual toda a vida e todo o apostolado tomam sentido e direção. A diaconia não é um conjunto de atos isolados de serviço, desligados das motivações e atitudes interiores. É muito fácil perceber se alguém é aquele que serve, a exemplo de Maria, ou aquele que presta alguns serviços. Para cumprir bem o ministério e ajudar a Igreja na sua missão, é indispensável que os que serão ordenados façam-se serviço, assumam a vida toda com esta lógica de ser servo no meio do mundo, no meio da Igreja. Só assim, os atos praticados edificarão a Igreja, aproximarão o povo de Jesus.
    O mundo de hoje é competitivo e uso, inclusive a palavra “serviço” para as funções lucrativas. É preciso estar atento para distinguir o serviço evangélico, que é totalmente gratuito e desinteressado, como o é o próprio amor de Deus.
  1. Maria Santíssima, hoje venerada com o título de Guadalupe, orientou toda a sua vida para servir. Com as suas aparições prestou um decisivo serviço aos povos da América Latina. Por isso nós a chamamos de “Estrela da Evangelização”. Dela podemos aprender muito sobre como devemos prestar hoje o serviço da evangelização.
    A Igreja em Aparecida nos convoca a uma conversão missionária, para colocar a Igreja em estado permanente de missão. Fala da conversão pastoral, frente aos desafios e frente à mudança da época em que vive o Continente Latinoamericano.
    É impossível dar uma resposta plausível a esse apelo sem uma profunda reflexão sobre o fenômeno de Guadalupe. Qual o segredo do sucesso que alcançou Nossa Senhora de Guadalupe? Podemos arriscar duas respostas: o anúncio claro de Jesus como Senhor e Salvador, o Deus verdadeiro, e a forma acessível de anunciar o mistério para o povo, ou seja, a ajusta e inteligente inculturação do Evangelho. É imprescindível, é deveroso, é questão de honestidade diante do Evangelho, fazer uma séria e profunda reflexão sobre os modos de inculturação da nossa pastoral. A inculturação não é uma simples absorção de usos do povo. Não é também uma repetição de atos de tradição. A inculturação é colocar-se à escuta do coração das pessoas, compreender o modo de pensar, de raciocinar, descobrir os caminhos pelos quais as pessoas procuram dar sentido aos mistérios da sua própria vida. É alimentar a alma com o alimento da Boa Nova de Jesus. Sentir com a sede e fome do povo. Assim, como fez Maria em Caná da Galiléia e em Guadalupe.
  1. O diaconato introduz os vocacionados na família da Igreja. Isto tem a sua dimensão teológica e jurídica. Compreendam, queridos candidatos, a importância de caminhar com a Igreja para que Ela possa cumprir a sua missão. Daqui a pouco vocês serão interrogados sobre essa disponibilidade. A fórmula do interrogatório é simples, mas o teor é de uma grande profundidade. é diante de Deus que vocês se comprometem em trabalhar pela sua causa, na Igreja. De modo especial, será colocada a pergunta sobre a disponibilidade de obedecer. Procurem dar um reto sentido à essa obediência. Não a considerem um peso, mas uma disposição prévia de fazer aquilo que a Igreja, pede, do que precisa, indiferentemente das circunstâncias e modalidades. Um servi fiel não põe condições. Procura saber como fazer para fazer bem e melhor.

Caríssimos Ordenandos,

a Diocese de Anápolis, pelo ato jurídico de incardinação, vos acolhe com alegria e com muita esperança apostólica como membros da sua família e colaboradores generosos na sua missão evangelizadora. Nos anos de formação no Seminário vocês já participaram das problemáticas que envolvem a nossa Diocese. Conhecem a sua história, pessoas, povo, suas conquistas, esperanças, lutas e tribulações. Procurem contribuir para o bem desta Diocese aumentando o bem e silenciando o mal, se for necessário. procurem assumir o programa pastoral, projetos e prioridades, como parte do compromisso pessoal. Saibam realizar as suas aptidões, juntando-as ao conjunto dos trabalhos feitos em comunhão. Saibam prontamente e generosamente renunciar às preferências pessoais se elas, por acaso, assumirem o caráter de contrariar e não de somar.

Nós rezamos por vocês e depositamos a nossa esperança na vossa boa vontade e espírito missionário. Deus lhes conceda todas as graças necessárias.

+ João Wilk,
bispo de Anápolis

 

 

 

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