Diocese de Anápolis

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Congresso da Pastoral Familiar – 2006

“Família: Discípulos e Apóstolos de Jesus Cristo, a serviço da Vida”

II CONGRESSO REGIONAL CENTRO OESTE
DA PASTORAL FAMILIAR
Anápolis – 8, 9, 10 de setembro de 2006

1) Por onde queremos caminhar? – Justificativa do tema.

Durante os preparativos para este segundo Congresso Regional Centro-Oeste da Pastoral Familiar, a equipe de animação regional e a equipe de preparação da Diocese de Anápolis refletiram muito para chegar à adequada formulação do tema: “Família: Discípulos e Apóstolos de Jesus Cristo, a serviço da Vida”.

Como pressuposto, desejou-se oferecer às famílias algo de verdadeiramente construtivo e formativo. Do outro lado, desejou-se deixar claramente a marca de “caminhar junto” com a Igreja, neste momento específico da nossa história: com o magistério universal do Santo Padre, com a Igreja na América Latina, no Brasil e no Regional Centro-Oeste.

Colocou-se em evidência fatos que norteiam a caminhada da Igreja neste sentido.

Vejamos:

1) No ano 2005, em Goiânia, realizamos mais uma assembleia regional do Povo de Deus. No fim das partilhas e dos debates formulamos as conclusões expressas na carta ao Povo de Deus. Nesta carta-mensagem foram bem claramente destacadas algumas metas e prioridades: formação cristã, família, juventude, serviço de caridade-ação social. Estas prioridades estão sendo aprofundadas e traçam a linha das atividades do Regional. Família, portanto, constituiu um alvo de atenção de todas as forças vivas dos nossos bispos, sacerdotes e líderes leigos.

2) V Encontro Mundial das Famílias com o Papa, realizado em Valência, Espanha, de 04 a 07 de julho de 2006. O lema foi: “A transmissão da fé na família.” O Encontro abordou vários temas: “Rumos da juventude no mundo atual”, “Os adultos e a transmissão da fé”. “Família e economia”, “Família e ecumenismo”, A evangelização na e a partir da família”, “Juventude, liberdade religiosa e a transmissão da fé”. Deste encontro participaram os representantes da Pastoral Familiar da Diocese de Anápolis e do Regional.

3) Faz pouco, celebramos o 25º. Aniversário da Exortação Apostólica “Familiaris Consortio”, do papa João Paulo II, em conclusão do Sínodo dos Bispos sobre “Papel da família cristã no mundo contemporâneo”. Esta exortação por muitos anos constituiu uma espécie de estrela guia na reflexão e na atuação da Pastoral Familiar em nível nacional, regional e diocesano.

4) No mês de maio de 2007, no santuário nacional de Aparecida do Norte, acontecerá um dos mais importantes eventos eclesiais do Continente Latino-Americano: V Conferência do Episcopado Latino-Americano. Será prestigiado com a honrosa presença do Santo Padre o Papa Bento XVI. Toda a América Latina, e o Brasil também, está em clima de preparação, por meio de reflexões em vários níveis, debates, conferências, seminários. As sugestões colhidas nesses momentos são levados a comissão central da CNBB e serão encaminhadas para a comissão central do CELAM para a redação do documento de trabalho. Por muito tempo e em várias instâncias foi debatido o tema da Conferência. Por fim, foi formulado assim: “Discípulos e Missionários de Jesus Cristo, para que nele nossos povos tenham vida”.

5) A Pastoral Familiar sempre esteve atenta aos assuntos relacionados com a vida. É um tema sempre atual, do qual não se pode tirar a atenção por um momento sequer. A este tema, A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil dedicou a 43ª Assembleia Geral em Itaici- SP, de 09 a 17 de agosto de 2005. As conclusões e as decisões estão publicadas no documento 80 da série azul: “Evangelização e missão profética da Igreja. Novos desafios”.

6) A “Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil” falam da evangelização em termos de “promover a dignidade da pessoa”, “renovar a comunidade” e “construir uma sociedade solidária”. Tudo isso tem a que ver com a família…

7) Por fim, o Projeto Nacional de Evangelização “Queremos ver Jesus, Caminho, Verdade e Vida” faz um apelo à um grande mutirão de evangelização, focalizando os objetivos em duas coisas: uma forte experiência pessoal do encontro com Jesus Cristo e a missão, na qual todos os batizados devem dar a sua resposta da fé e participar ativamente.

Muitos caminhos, um único objetivo: viver uma forte experiência da fé e se tornar apóstolo da Pessoa, do amor e da verdade de Jesus Cristo. Palavras como “experiência”, encontro”, discipulado”, “imitação”, “seguimento”, somam-se e identificam-se na definição da identidade cristã.

2) O conceito de “discipulado”.

Quem é “discípulo”? Podemos responder apontando as seguintes características:

– o discípulo está na escola do mestre;
– escuta o que o mestre diz,
– aprende o que o mestre ensina
– aprende a fazer o que o mestre faz.

Ser discípulo de Jesus é identificar-se com Ele, segui-lo, viver os seus ensinamentos e o seu jeito de ser, participando da sua comunidade.

Assim foi a experiência dos Apóstolos e da própria Mãe de Jesus Maria Santíssima.

No caso do discipulado ou do seguimento dos Apóstolos e da Maria Santíssima percebemos as seguintes etapas e elementos:

– vocação, como dom gratuito do Mestre,
– formação, como escola de intimidade com Jesus,
– missão, como forma de viver e prolongar a experiência pessoal de Jesus em constante comunhão com Ele, na ação.

      a) O discípulo de Cristo é alguém que, repleto de assombro, recebeu o chamado do Senhor, aproximou-se de sua vida e nela entrou. Ele vive contemplando o seu rosto (rosto de Filho, rosto sofrido, rosto ressuscitado – cf. NMI II), admirando este Deus que desceu ao mundo, se fez um de nós como irmão e salvador, admirando as suas obras das quais é testemunha, admirando a sua sabedoria e paz.

Não é o discípulo que escolhe o Mestre. Sempre foi Jesus que chamou o discípulo e o convidou a seguí-lo ( Mc 3, 13-19). A experiência do discípulo consiste no chamado pessoal que Jesus lhe fez, e na vontade de seguí-lo, de dar a resposta amorosa, que o leva a assemelhar-se a ele (cf. Rumo à V Conferência…, 46).

Sendo chamado, o discípulo experimenta o amor de predileção de Deus: “Ele nos amou primeiro” (1Jo 4, 19). Essa escolha amorosa dá forças ao discípulo para que possa seguir a Cristo, conformar sua vida com ele e pôr-se a serviço dele para a missão.

 Jesus precede seus discípulos como Bom Pastor e os incorpora a seu caminho. Ser discípulo será, então, “ir atrás de” Jesus, para aprender seu novo modo de viver e de trabalhar, de amar e servir, de avaliar e decidir, e para adotar sua maneira de pensar, sentir e agir, a ponto de experimentar que já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim”(Gl 2, 20). Esse seguimento inclui necessariamente o caminho da cruz: “Quem não carrega sua cruz e não vem atrás de mim, não pode ser meu discípulo” (Lc 1, 27).

Discípulo não é sinônimo de aluno. Discípulo significa relação com uma pessoa. Em nosso caso, a pessoa de Jesus Cristo.  

     b) A formação do discípulo de Jesus Cristo tem como meta a identificação com ele, até chegar a ter “os sentimentos que correspondem a quem está unido a Cristo” (cf Fl 2, 5), como diz são Paulo. Uma formação que tem objetivo claro: santidade, ou seja, “a plenitude da vida cristã e a perfeição do amor” (LG 40). Ainda, na escola de Jesus o discípulo adquire a consciência de ser peregrino, um cidadão do céu que busca transformar as realidades do mundo a partir dos apelos sobrenaturais e não sujeitar-se aos apelos do mundo.

     c) Na companhia de Jesus os Apóstolos transformaram-se em missionários, ou melhor em “discípulos-mestres”. A partir da experiência pessoal de Jesus, tornaram-se aptos a pronunciar as palavras com autoridade e a dar testemunho do que viram o ouviram.

     d) Maria de Nazaré, como mãe do salvador, foi, junto com São José, mestra de Jesus em sua infância (cf. Lc 2, 51). Meãs foi, antes de tudo, a primeira e mais perfeita discípula que, desde a Encarnação, gravou em seu coração o Evangelho, chegou a ser evangelho vivo do Pai.

Em Maria encontramos todas as características do discipulado segundo o coração de Deus: a escuta amorosa e atenta (cf. Lc 1, 26-38; 8, 19-21; 11, 27-28), a obediência sem limites à vontade do Pai (cf. Lc 1, 38), a fidelidade até o ponto de acompanhar seu Filho ao pé da cruz (cf. Jo 19,25-27). Acompanhou os Apóstolos no drama da Paixão, na alegria da Ressurreição, na transformação de Pentecostes. Continuou fielmente junto da comunidade apostólica, animando a sua oração e sua unidade.

Como ninguém, Maria foi a “mulher eucarística”, associada por Deus, por meio do oferecimento de seu sofrimento, ao sacrifício de seu Filho para a salvação do mundo e vivendo como ninguém em íntima comunhão com ele.

3. Nós todos somos discípulos do Senhor.

Como cristãos, sempre seremos discípulos. O nosso Mestre é Jesus. Dele aprendemos continuamente.

Dedicar-se ao estudo do discipulado nos ajuda a voltar ou a descobrir a nossa condição básica de batizados, voltando sempre à própria fonte da nossa identidade cristã: o BATISMO.  

4. Espaços e formas do discipulado.

Viver o batismo coincide com o chamado à santidade. É algo tão fortemente acentuado pelo Concílio Vaticano II. A vivência responsável e comprometida do batismo acontece e se alimenta nos espaços e modos que a Igreja nos reservou e reserva. São eles:

– A consciência reta, formada no equilíbrio humano, na doutrina cristã, moral e ética;
Atitudes interiores, determinadas pela sincera adesão ao Senhor Jesus e ao seu Reino;
– compromisso pessoal com a espiritualidade. A prática de oração assídua, programada, constante é indispensável para expressar a comunhão com o divino Mestre;
Palavra de Deus como fonte de espiritualidade. A leitura orante da Bíblia, individualmente e comunitariamente, oferece uma constante alimentação para o crescimento na vontade de Deus;
– A vida sacramental. Os sacramentos não são atos meramente sociais. São momentos em que Deus entra na nossa vida. Neles o discípulo encontra a presença e a ação salvífica de Jesus e a força para viver com fidelidade o seguimento. A liturgia é um dos lugares privilegiados do encontro com Jesus vivo. A espiritualidade cristã se alimenta em primeiro lugar de uma vida sacramental assídua, pelo fato de os sacramentos serem raiz e fonte inesgotável da graça de Deus, necessária para sustentar p fiel em sua peregrinação terrena.
Consciência de Igreja como comunidade e a ativa participação nela. Não se é cristão sem ser comunidade. A maturação no seguimento de Jesus requer a participação na comunidade Nesse ambiente o discípulo amadurece sua vocação cristã e descobre a riqueza e a graça que encerra ser membro da Igreja Católica, comunidade edificada por Jesus Cristo no fundamento de São Pedro e sobre o fundamento dos outros apóstolos e dos profetas, sendo ele próprio a pedra angular (cf. Ef 2, 20).
– Não podemos viver sem o domingo. Faz-se necessária uma catequese ampla e profunda para a valorização do domingo como “Dia do Senhor”. É o dia do encontro com o Mestre vivo na sua Palavra, no seu Corpo e Sangue. Dia de celebrar os mistérios da vida e de experiência de salvação em Jesus Cristo. Dia do encontro com os irmãos, para construir juntos a comunidade humana no amor, na justiça e na paz.
Pastorais e movimentos. Estes são os espaços de grande eficácia para o crescimento no discipulado e na missão. Nunca podemos esquecer a lógica do discípulo: primeiro ser, depois fazer. Toda a participação nos grupos, movimentos e pastorais deve ser considerada como serviço que a Igreja nos presta para a nossa formação humana e cristã. Só depois colocar-se a serviço. Teremos, então, o que dizer e o que testemunhar.
Formação doutrinal. Se é verdade que o mal dos católicos é a ignorância religiosa, é também verdade que cada vez mais os católicos buscam a formação. De fato, o despertar promovido pelas numerosas atividades nas nossas dioceses e paróquias leva os leigos a um engajamento comprometido. Os mesmos leigos, depois, sentem a necessidade de receber uma formação mais aprimorada.
– Uma autêntica e sadia comunhão com os pastores da Igreja: papa, bispos, sacerdotes.

4. Compromisso com a vida – campo específico de discipulado e da missão da família.

Uma das características da Igreja e da sua evangelização é a dimensão profética. A voz profética da Igreja ressoou muitas vezes e de diversas maneiras em lugares e tempos distintos da história. Como todo profeta, a Igreja se fez inoportuna nesses momentos.

A missão profética da Igreja nunca cessa. Fala a partir dos ditames da fé a respeito das realidades que envolvem o ser humano. Fala para encorajar e suscitar esperança. Fala, se for preciso, para denunciar. A partir dos seus anúncios formam-se os contrastes que lhe merecem duras críticas e incompreensões.

“Compete à sua missão profética, firmada na revelação e na lei natural, uma palavra sobre questões atuais que tocam muito de perto a dignidade da pessoa, a sacralidade da vida e apropria forma de viver a religião. Estamos conscientes do dever que temos como parcela significativa da sociedade brasileira e conscientes da missão da Igreja na formação cultural de nosso país. Por isso, não é aceitável a posição de grupos de mentalidade laicista que, em nome do Estado laico, pretendem negar À Igreja, e às religiões em geral, o direito de pronunciar-se sobre questões éticas que afetam a vida das pessoas e da sociedade” (EMP, Doc. 40 CNBB, Introdução).

Cabe ao espírito cristão preservar o que não pode desaparecer, defender o que está indefeso, socorrer o que está em perigo, difundir o que está benéfico. O sentido da vida a partir da dignidade de filhos de Deus, o amor orientado para o bem real das pessoas, o valor do matrimônio e família, a vida em todos as formas e estágios são valores que precisa compreender, viver, difundir e defender.

Eis o aprendizado e a missão das famílias cristãs, católicas, brasileiras…

CONCLUSÃO

A equipe de preparação considerou que já se falou bastante e em diversas ocasiões dos temas indicados acima postos em confronto com o Magistério da Igreja. Para evitar repetições preferiu-se concentrar os trabalhos em dois blocos: da vida e da dignidade da pessoa. Optou-se pelo caminho de informação, pois a partir do conhecimento as pessoas poderão, elas mesmas, chegar às suas convicções.

Contamos, neste Congresso, com a presença de dois grandes especialistas e comunicadores. Dom João Bosco, Bispo de Patos de Minas, nos falará sobre a vida e as biotecnologias. Professor Felipe Aquino, da Comunidade Canção Nova, nos falará do matrimônio, da família e da vida como grandes bens.

Existe uma lenda – procedente do âmbito da Igreja Ortodoxa – que conta que no dia da Ascensão, Jesus Ressuscitado, indo – entre as nuvens – ao encontro do Pai, encontrou-se com o arcanjo Gabriel, que vinha caminho contrário. O arcanjo olhou em direção à terra, que depois da ausência do Ressuscitado oferecia o aspecto de uma desolada extensão negra e escura na qual brilhavam apenas uns pequenos pontos luminosos. O arcanjo perguntou a Jesus: “Senhor, o que são esses pontos de luz?” Jesus respondeu-lhe: “São minha mãe e meus apóstolos. Eles iluminarão a terra”. O arcanjo ficou pensativo e depois de um certo tempo teve a ousadia de perguntar de novo: “E se eles falharem, Senhor?” O Senhor respondeu-lhe: “Eu não tenho outros planos.” E continuou o seu caminho à glória.

Cristo pode continuar tranqüilo na glória, pois conta não apenas com sua mãe e os apóstolos. Conta ainda com outros discípulos e missionários que iluminarão a terra!

Maria, “Estrela da Evangelização” e a “Primeira Discípula” do Divino Mestre nos oriente e nos conduza para a “escola de Jesus”!

Dom João Wilk, OFMConv.
08/09/2006

        

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