Diocese de Anápolis

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Catequese como caminho de conversão e discipulado

Síntese do “DIRETÓRIO NACIONAL DE CATEQUESE”

O objetivo desta colocação é apresentar o Diretório Nacional de Catequese, importantíssimo documento da Igreja no Brasil, aprovado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, especialmente no que diz respeito ao processo da catequese vista no seu aspecto de formação de discípulos, ou como itinerário de conversão permanente ao Evangelho.

1. A conversão pode ser vista em três aspectos:

– primeira conversão – aceitação de Jesus Cristo como Senhor e Salvador, culminando no Batismo;
– segunda conversão – sacramento da reconciliação, volta à graça santificante;
– conversão para o Evangelho – busca constante da identidade evangélica, crescer na perfeição e na imitação de Cristo.

O terceiro significado da conversão podemos identificar com discipulado, um seguimento de Jesus Mestre, imitando os seus atos, gestos, praticando seus ensinamentos, procurando que Ele cresça em nós.

2. O que é discipulado? O que significa ser discípulo?

O termo “discípulo”, de grande riqueza bíblica, abre-nos o caminho evan­gélico e eclesial para chegar a esse indivíduo que se encontra com Jesus Cristo vivo e vive a partir d’Ele.

Ser discípulo é:

  • – ser chamado
    – acolher o chamado
    – estar na escola do mestre
    – escutar o que o mestre diz
    – aprender o que o mestre ensina
    – aprender a fazer como o mestre ensina e faz
    – aceitar a autoridade do mestre
    – manter laços pessoais com o mestre.

Do discípulo exigem-se as seguintes atitudes:

  • – escuta atenta
    – obediência
    – fidelidade.                             

O discípulo de Cristo é alguém que, repleto de assom­bro, encontrou e recebeu o Senhor. Como em Belém, com Maria, José e os pastores, como cada um dos apóstolos, ele acolheu o Filho de Deus que se fez um de nós e servi­dor de todos, aproximou-se de sua vida e nela entrou.

O Papa João Paulo II, na Novo Millenio Ineunte fala da espiritualidade do cristão do novo milênio e diz que na base da experiência da fé está a contemplação do rosto de Jesus:

  • – rosto filial
    – rosto sofredor
    – rosto ressuscitado.

Por isso, ele vive contemplando seu rosto, surpreso pela vin­da de Deus a este mundo como nosso irmão e salvador, pelas obras das quais é testemunha, e pelo dom com o qual não se atreveria a sonhar: participar de sua vida e recebê-lo com a sa­bedoria e a paz.

Não é o discípulo quem escolhe o Mestre. Sempre foi Jesus que chamou o discípulo e o convidou a segui-lo (cf. Mc 3,13-19). A primeira experiência do discípulo consiste no chamado pessoal que Jesus lhe faz, e na vontade de segui-lo que nele nasce e o move a dar sua resposta crente e amorosa, que o leva a assemelhar-se a ele. Essa resposta o vincula imediata­mente a uma comunidade de fiéis, na qual ele discerne logo qual é sua missão na Igreja e na sociedade.

“Ele nos amou primeiro” (1Jo 4,19). Essa escolha amorosa dá forças ao discípu­lo para que possa seguir a Cristo, conformar sua vida com ele e pôr-se a serviço dele para a missão.

O convite de Jesus é pessoal: “Vem e segue-me” (Lc 18,22). Ele sempre chama os seus pelo nome (cf. Jo 10,4). Algu­mas vezes acontece de modo quase imediato e se manifesta com mais evidência; porém, na maioria das vezes acontece por meio das mediações eclesiais e dos diversos acontecimentos da vida, contemplados à luz da fé.

À escolha e o chamado de Cristo requer ouvidos de discípulo (cf. Is 50,4), ou seja, ouvidos atentos para escutar e prontos para obedecer. Em uma sociedade como a nossa, em que as instruções mais ruidosas vão em direção oposta a escutar e obedecer, o chamado de Cristo é um convite a centrar nele toda a nossa atenção e, como Samuel, pedir de coração ao Senhor: “Fala, Senhor, que teu servo escuta!” (1Sm 3,10), para perceber no mais fundo de nossos corações o chamado que nos convida a segui-lo.

À escolha e chamado de Jesus Cristo o discípulo respon­de com toda a sua vida. Trata-se de uma resposta de amor a um chamado de amor. Somos “chamados… à perfeição de cari­dade” (LG 40). O discípulo entra em comunhão de vida e missão com Jesus Cristo. É uma relação tão pessoal e estreita, que Cristo a compara com a união dos sarmentos com a videira (cf. Jo 15,1­

Jesus chamou os apóstolos “para que estivessem com ele” (Mc 3,14); para que assim “todos sejam um. Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam em nós” (Jo 17,21). Justa­mente no amor uns pelos outros eles serão reconhecidos como discípulos de Cristo (cf. Jo 13,35). Além disso, ele declara sua amizade por eles: “Vós sois meus amigos” (Jo 15,14). Com essa profunda amizade de vida, Jesus também implica “seus amigos” em sua própria missão (cf. Jo 17,18) e os envia a anunciar o Evangelho para todos os povos.

Para que essa comunhão com ele fosse cada vez mais plena, Jesus Cristo se entregou a seus discípulos como o Pão de vida eterna e os convidou na Eucaristia a participar de sua Páscoa. “Assim como o Pai, que vive, me enviou e eu vivo pelo Pai, também aquele que de mim se alimenta viverá por mim” (Jo 6,57). Essas palavras constituíram uma prova para seus discípu­los. Alguns o abandonaram (cf. Jo 6,66). Mas os que nele cre­ram permaneceram como seus discípulos (cf. Jo 6,68). Para seus discípulos Jesus Cristo é o Pão da vida. As primeiras comuni­dades, fiéis à ordem do Senhor, caracterizavam-se precisamente porque “mostravam-se assíduos… à fração do pão e às orações” (At 2,42).

Seus discípulos com frequência chamam o Senhor de Mestre. Têm profunda admiração por ele, porque ele não os ensina como os fariseus, mas com sabedoria e autoridade. O coração deles arde quando ele lhes explica as profecias e as pa­rábolas. Além disso, ele os ensina a viver conforme a vontade do Pai com confiança filial, encaminhada a “participar assim na gloriosa liberdade dos filhos de Deus” (Rm 8,21). Dele aprendem as bem-aventuranças, o caminho da Páscoa e, principalmente, a sabedoria do Espírito.

Como Bom Pastor, Jesus precede seus discípulos e os incorpora a seu caminho. Ser discípulo será, então, “ir atrás de” Jesus, para aprender seu novo modo de viver e de trabalhar, de amar e de servir, e para adotar sua maneira de pensar, sentir e agir. Esse seguimento inclui ne­cessariamente o caminho da cruz: “Quem não carrega sua cruz e não vem atrás de mim, não pode ser meu discípulo: (Lc 14,27).

Por isso, discípulo não é sinônimo de aluno. Discípulo significa relação com uma pessoa, em nosso caso a pessoa de Jesus Cristo, cujos passos o discípulo segue sem reserva, por amor, assimilan­do-se a seu estilo de vida e a seu projeto. Esse é o fundamento da moral do discípulo.

Portanto, a formação do discípulo de Jesus Cristo deve ter como meta a identificação com ele até chegar a ter os senti­mentos que correspondem a quem está unido a Cristo Jesus (cf. Fl 2,5), como diz são Paulo. Dessa forma, o discípulo realiza “a plenitude da vida cristã e a perfeição do amor” (LG 40). Ele faz isso com a consciência clara de ser um peregrino, um ci­dadão do céu (cf. Fl 3,20; cf. Ef 2,19) que, com ânsia, busca fruir para sempre “um céu novo e uma nova terra” (Ap 21,1).

3. A catequese como caminho do discipulado.

O Diretório é, de alguma forma, resultado das conquistas no campo da catequese nos últimos 40 anos: “Diretório Catequético Geral” (1971), Carta Apostólica de Paulo VI “Evangelii Nuntiandi (1975), Exortação Apostólica “Catequesi Tradendae” (1979), fruto do Sínodo sobre a Catequese (1977), “Catequese Renovada – orientações e conteúdo”, da CNBB (1983). Foi aprovado por unanimidade (!) pelo Episcopado Brasileiro na Assembleia Geral em 15 de agosto de 2005, e pela Congregação para o Clero, no dia 08 de setembro de 2006. Apresenta a natureza e a finalidade da catequese, os critérios para a ação catequética, fala dos conteúdos da catequese e estimula para os estudos mais profundos no campo da transmissão e educação da fé.

4. O que é a catequese?

O termo “catequese”, de origem grega, significa “ressoar”. A catequese, portanto, é um processo de educação na fé, um progressivo crescimento na compreensão, na assimilação das verdades reveladas, do sentido da vida, da vida em comunidade. Distingue-se de “kerygma”, que significa o primeiro anúncio de Jesus como salvador e leva ao Batismo. A catequese é a etapa seguinte ao kerygma no processo da evangelização.

5. Características da Catequese Renovada

  • catequese é um processo de iniciação e educação na fé. Não se limita à dimensão doutrinal (aprender as verdades da fé), mas integram os conhecimentos doutrinais na vivência, como discípulos de Jesus Cristo;
    iniciação da vida na fé em comunidade – a fé é acolhida e vivida pelo indivíduo, mas na comunidade, formando o Povo de Deus;
    processo permanente de educação na fé, prolongado por toda a vida e para todas as classes de pessoas;
    catequese cristocêntrica – conduz ao encontro pessoal com Jesus Cristo que nos revela Pai Misericordioso, no Espírito Santo. Em Jesus Cristo, Deus que se fez homem, revela o homem ao homem, faz compreender o ser humano a partir de Jesus Cristo;
    baseada na Palavra de Deus – a fonte principal da catequese é a Bíblia, Palavra de Deus;
    coerente com a pedagogia de Deus – leva progressivamente ao conhecimento da doutrina e ao pleno amadurecimento da pessoa como cristão;
    catequese transformadora – ilumina a existência humana, forma a consciência crítica, leva à promover mudanças na sociedade segundo o projeto de Deus, superar as injustiças etc.;
    catequese inculturada. A meta da evangelização é fazer com que o Evangelho se torne forma de vida das pessoas. A incluturação significa interação entre fé e vida. A catequese assume os valores da cultura, a linguagem, os símbolos, a maneira de ser e de viver do povo. Por este processo a fé se torna inteligível, pois faz parte da vida do povo e se expressa com expressões familiares ao povo. É a fé que entra e transforma a cultura. Não a anula, mas dá sentido cristão. Diz o Papa João Paulo II: “Não é a cultura a medida do Evangelho, mas Jesus Cristo é a medida de toda a cultura e de toda a obra humana” (Santo Domingo, 2);
    interação fé e vida – o conteúdo da catequese compreende dois elementos que se integram: a experiência da vida e a doutrina da fé;
    integrada com outras pastorais – está presente em todas as pastorais e articula as demais. A catequese respira a vida e a fé da Igreja;
    caminho da espiritualidade – espiritualidade bíblica, litúrgica, eclesial, mariana, encarnada na realidade do povo; vida de oração;
    sensível aos pobres, necessitados, desprotegidos, no sentido evangélico – Cristo se fez pobre para nós, viveu pobre entre os pobres…

6. Catequese e comunidade.

“A Igreja (comunidade) é convidada a consagrar à catequese os seus melhores recursos de pessoal e energias, sem poupar esforços, trabalhos e meios materiais, a fim de organizar melhor e de formar para a mesma pessoas qualificadas” (CT 15; cf. CDC 775).

Cabe à Diocese, através de seus organismos e coordenações, dar condições para que a ação catequética perpasse a ação evangelizadora da Igreja. A comunidade deve ter a sensibilidade para pôr à disposição da catequese livros, material pedagógico, cobertura financeira para cursos, encontros, reuniões dos quais os catequistas devem participar.

O futuro da evangelização depende em grande parte da família, Igreja doméstica.

“A organização da pastoral catequética tem como ponto de referência o Bispo e a diocese. O secretariado diocesano ou coordenação diocesana de catequese é o órgão através do qual o Bispo, animador da comunidade e mestre da doutrina, dirige e preside a atividade catequética realizada na diocese” (DGC 265).

7. Escolas catequéticas.

A catequese favorecerá uma formação sistemática aos catequistas, através das escolas catequéticas permanentes nos diferentes níveis: paroquial, diocesano, regional e nacional. As escolas sejam sustentadas por linhas comuns, com programa, material e subsídios adequados e atualizados.

8. Catequese e liturgia.

Depois da Palavra de Deus, a liturgia é a fonte privilegiada da catequese. “A liturgia é fonte inesgotável da catequese, não só pela riqueza de seu conteúdo, mas pela sua natureza de síntese e cume da vida cristã: enquanto celebração ela é ao mesmo tempo anúncio e vivência dos mistérios salvíficos. Por isto, ela é considerada lugar privilegiado de educação da fé (cf. DNC 118).

Assim como a liturgia é fonte especial da catequese, a catequese, por sua vez, deve ser litúrgica. A liturgia, com seu conjunto de sinais, palavras e ritos, requer da catequese uma iniciação gradativa e perseverante para ser compreendida e vivenciada. A catequese prepara para os sacramentos e ajuda a vivenciá-los. Explica o conteúdo das orações, o sentido dos gestos e dos sinais, educa à participação ativa, à contemplação e ao silêncio.

9. A memorização na catequese.

A palavra memorização tem dois significados: “viver a memória” celebrar os mistérios, manter viva entre nós a presença de Jesus, e “guardar na memória”, decorar”…

O que se memoriza (decora) deve antes passar pelo coração, pela experiência, pelo sentimento de quem aprende, e isto se faz pela experiência e pela celebração: o repetir ritualmente os gestos, sinais, palavras.. vai repercutir na vida, ajudando a guardar no coração e não apenas na cabeça.

Como recurso didático, é necessária a memorização das palavras de Jesus, das passagens bíblicas importantes, dos dez mandamentos, das fórmulas da profissão de fé, dos textos litúrgicos e orações mais importantes e das noções principais da doutrina. Portanto, não deve ser descuidada e, menos ainda, abandonada. (cf DNC 167).

Conclusão

A catequese, sem dúvida, é a chave do segredo de toda a obra da evangelização. O presente e o futuro da transmissão da fé dependem da rápida e eficiente organização da catequese. De fato, a catequese, com a devida formação de catequistas, é uma prioridade para a nossa pastoral. Neste processo queremos contar com a compreensão e o empenho de todas as forças atuantes na Diocese, especialmente os sacerdotes. Ter os recentes documentos sobre a catequese como ponto de referência nos dará segurança, integridade no trabalho e a garantia de caminhar com a Igreja. A catequese é o verdadeiro caminho do discipulado. Fazer discípulos de Jesus, hoje, significa investir fortemente e corajosamente na catequese.

Elaborou Dom João Wilk,
29/04/2007

 

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