Vivemos em uma sociedade marcada por um ativismo exacerbado, uma correria em busca de sucesso, atropelos de informações, ganância por poder, uma sede insaciável por dinheiro, um frenesi inconformista que desemboca no desastre de uma vida sem paz, na angustia e frustração da insuficiência humana, na depressão do “sem sentido”. Vamos nos anestesiando pelo consumismo e materialismo; e “viver” parece que se reduz em “fazer” e nos esquecemos de “ser”. Vamos construindo nossos castelos de felicidades encima dos desejos flácidos do materialismo, de fundamentalismos baratos, sonhos inalcançáveis e superficiais… nos preocupamos com o “ter” e o “fazer” e nos esquecemos do “ser”, de quem nós somos, do essencial para nossas vidas. O sentido mais profundo de “ser” criatura se encontra no encontro com “Aquele que é” Criador. E tanto na Igreja como em nossas vidas, tudo ganha sentido e sabor na medida que são regados pela presença divina.
No evangelho deste domingo se apresenta a cena de Marta e Maria, as duas irmãs que fazem suas escolhas, colocam suas prioridades, expressam seus interesses. Tanto Marta como Maria participam da nossa Igreja, permanecem depois de dois mil anos em meio a nós por meio de nossas atitudes. Na figura de Marta encontramos um ativismo, uma preocupação por fazer, a correria dos compromissos, o desespero dos afazeres, questões talvez necessárias, e Cristo a repreende não pelo fato de fazer, mas pela prioridade que ela estava dando nos afazeres, se distanciando do único necessário.
Vivemos tantas vezes na nossa Igreja imersos nas preocupações de grandiosas festas, de inúmeros eventos, nos compromissos de tantas pastorais, questões necessárias em um dinamismo pastoral, entretanto corremos o risco de esquecer do único necessário para nossa vida espiritual, esquecemos da melhor parte que é estar com Jesus. E vamos vivendo um cristianismo ativo de correrias e atropelos, trazemos para dentro de nossa Igreja essa mentalidade econômica e financeira vivida na sociedade contemporânea que transforma nossa Igreja numa empresa de eventos ou uma ONG de assistência social.
“Poeira ao vento”, “castelos de areia” quando notamos nosso salões repletos de pessoas nas festas e percebemos o vazio das adorações ao Santíssimo, inúmeras pessoas nas barraquinhas e pouquíssimas pessoas nas novenas, lotados os bingos e abandonado o sacrário… assim como a poeira ao vento, como um castelo na areia, sem consistência, fundamento ou vida, se torna qualquer evento na Igreja que visa meramente o lucro, a euforia, a promoção de pessoas ou a propaganda política, deixando de lado a evangelização, o crescimento da cristandade e a vivência da fé. Fadado ao fracasso está qualquer evento na Igreja que não comece aos pés do Sacrário. Cristo não pediu para Marta não fazer as coisas que devia fazer, mas disse para ela não se impacientar com tantas coisas que talvez não são essenciais. O essencial da nossa Igreja é uma pessoa, não um evento ou uma festa, o essencial de nossa fé está dentro de uma caixinha que se chama sacrário. E somente vive a beleza da fé aqueles que são capazes de sentar aos pés de Jesus, é para lá que tudo se orienta, todo o nosso esforço, trabalhos e sonhos são únicos e exclusivos para honra e glória do nosso Deus.
Encontramos muitas Martas dos nossos tempos, mas poucas Marias, pessoas que queiram estar aos pés de Jesus, escutar a Jesus, saborear sua presença, se embebedar de sua sabedoria. A melhor parte da vivencia cristã não está no fazer, ou no correr, mas no confiar e no rezar, e como a alma dá vida ao corpo, nossos eventos e festas somente ganham pleno sentido quando são regados pela oração, nossa vida cristã e nosso agir pastoral só ganham pleno sentido quando sou capaz de sentar aos pés de Jesus, um exercício vivido por poucos e esquecidos por muitos. Precisamos sentar aos pés desse Jesus presente na Eucaristia para sentir como Maria sentiu, que o único necessário é estar com Jesus, a razão de nosso existir é adorar o nosso Deus e a melhor parte que ninguém pode nos tirar, é amar o Senhor.
Pe. Carlito Bernardes Paróquia Divino Pai Eterno, Anápolis - GO