Parece distante e desumano, sublime e inacessível quando contemplamos os santos: seu rosto piedoso e sereno parece não ter experimentado a dor das perseguições, sua posição altiva dá impressão que nunca foi subjugado pela enfermidade, seu prestigio e sua fama de milagres se distanciam de uma vida cheia de problemas e repleta de obstáculos. Começamos a considerar o santo como algo tão elevado quanto divino que nos esquecemos que ele era um de nós, com as mesmas penúrias, enfermidades, maldades, misérias e mazelas. O problema de uma visão caricaturesca do santo é que pode nos desanimar de sermos santos, considerar algo tão sobrenatural que apenas uma elite especial seria destinada a essa graça. No dia de todos os santos consideramos todos aqueles, conhecidos e desconhecidos, que viveram o projeto de Deus em sua vida, acreditaram e lutaram pela santidade e conquistaram a coroa da vitória; e ao mesmo tempo somos lembrados de que a santidade não é um projeto para poucos, mas uma realidade para todos, pois se eles podem, também nós podemos.
A drástica, dramática e constante experiência de pecado nos leva a uma completa suspeita diante do projeto de santidade. Consideramos a santidade como a passividade de uma vida sem lutas, uma monotonia contemplativa, um sentimentalismo desregrado; geramos uma descontinuidade abismal entre o santo e a santidade: queremos o santo, fazemos novena, pedimos intercessão, mas nos inibimos diante do desejo pela santidade, fazemos “corpo mole” diante das renúncias, procrastinamos nossa conversão… A contínua separação entre o santo e a santidade faz com que se distancie cada vez mais aquilo que deve ser a prioridade de toda vida, o único necessário, a maior conquista e a melhor recompensa: ser santo; não devemos querer somente o santo, mas fazer com que a santidade de sua vida seja também o objetivo da nossa vida. Diante desse grandioso projeto, somos susceptíveis ao desanimo, a considerar que a santidade é uma constante de nunca cair e esquecemos que a santidade consiste em sempre se levantar, “o santo é aquele que nunca se cansa de lutar” (São João Paulo II). Santidade não é a passividade de uma vida sem dificuldades, mas a aventura da batalha diária de darmos o melhor de nós no amor a Deus e ao próximo, é aprendermos todos os dias a segurar a língua, a se controlar diante das iras, praticar a caridade, ter paciência nas dificuldades… A santidade não é uma disposição estática, mas um processo dinâmico de buscar todos os dias sermos mais de Deus, deixar com que Deus reflita sua presença e seu amor em nós e através de nós.
“A maior tentação do demônio é o desanimo” (Dom Manoel Pestana Filho), se desanimamos na busca pela santidade, tudo está perdido! Justamente, acreditamos na voz interior que nos diz que “somos fracos”, “já tentamos”, “não vamos conseguir”, “deixa quieto”, “para que lutar?”… e nos descrençamos de confessar, de lutar, nos conformamos com o pecado… Temos que acreditar: é possível sim a santidade! É possível sermos santos! Basta nós querermos, basta nós lutarmos e nunca nos desanimar, pois a santidade consiste não na conquista de uma vida sem pecado, mas na constância de sempre buscar a Deus! Se é verdade que nas maiores batalhas que se forjam os melhores soldados, é verdade também que é no calor das nossas lutas diárias que se forja a santidade de vida que tanto almejamos. Se a exigência de santidade nos pressiona, a vida dos santos nos consola e enche de esperança, porque se eles conseguiram, também nós conseguiremos.
Pe. Carlito Bernardes Paróquia Divino Pai Eterno