Diocese de Anápolis

Diocese de Anápolis

“Aba, Pai… Paizinho!”

Hoje, na oração da coleta – que, além de recolher nossas intenções, implora ao Bom Deus que nos ajude a viver os mistérios celebrados -, somos preparados para saborear a liturgia da Palavra. É uma prece belíssima. Vejamos um breve trecho: “Ó Deus, amparo dos que em vós esperam, sem vós nada tem valor, nada é santo.” Essa oração revela, de modo comovente, dois movimentos que expressam um encontro entre corações: um que busca amparo, consolo e refúgio; e outro, manso e humilde, que acolhe, protege e sustenta. É o movimento da divindade em direção a um coração humano, aberto e suplicante. Esta prece nos introduz às leituras do dia.

Na primeira leitura, observamos algo muito significativo: “Abraão ficou na presença do Senhor… aproximando-se…” (Gn 18, 23). Há aqui um sinal claro de intimidade, pois Abraão era amigo de Deus (cf. Is 41, 8; Tg 2, 23). Ainda assim, ele reconhece sua pequenez e se apresenta com reverência, humildade e respeito: “Estou sendo atrevido em falar a meu Senhor, eu que sou pó e cinza…” (Gn 18, 27); “Que o meu Senhor não se irrite, se eu falar mais uma vez…” (Gn 18, 32).

Percebe-se, assim, que Deus é verdadeiramente o amparo dos que n’Ele confiam, que não abandona o justo (cf. SI 37, 27). É consolador saber que o Senhor nos escuta, nos acolhe e jamais nos deixa à deriva. A postura de Abraão também nos oferece um modelo de oração: um “atrevimento” reverente, próprio de quem enxerga Deus não como um juiz severo e distante, mas como alguém próximo, acessível e compassivo. Abraão se aproxima com confiança e humildade.

Sua atitude nos interpela: temos nós essa proximidade com o Senhor? Aproximamo-nos com um coração de filhos, ousando apresentar-lhe nossas súplicas, angústias e intercessões? Somos perseverantes na oração, insistentes com respeito, pedindo que Ele nos olhe com misericórdia e suavize sua cólera?

A intercessão de Abraão aplaca a ira do Senhor. Nele, vislumbramos uma prefiguração daquele que, plenamente, intercede por nós diante do Pai – Jesus Cristo, o Verbo encarnado, o novo Adão – que vem em auxílio da nossa fraqueza (cf. 1Jo 2, 1; Rm 8, 34; Hb 9, 24). Por Ele, agora podemos nos dirigir a Deus com intimidade, chamando-O de “Aba, Pai” (Mc 14, 36 e Rm 8, 15), expressão que transmite ternura, confiança e amor filial.

Santo Tomás de Aquino, em sua obra Expositio super orationem Dominicam (Exposição sobre a Oração do Senhor), apresenta o Pai-Nosso – proclamado hoje na liturgia – como o modelo perfeito de oração ensinado por Cristo. Ele afirma que essa prece contém tudo o que devemos pedir, e na ordem correta. Nela, estão os bens eternos e temporais, a purificação das intenções, a humildade, a confiança e a caridade. O Pai-Nosso resume toda a doutrina cristã da oração.

Enfim, queridos irmãos, que nossas preces se elevem a Deus com a confiança de filhos. Não tenhamos medo de nos aproximar, de sermos íntimos, de fazer morada no coração paterno d’Aquele que nos escuta e cuida de nós. Como nos recorda o Papa Francisco: “A alegria é saber que somos amados por Deus que é Pai.”

 

Pe. Daniel Marques dos Santos Arantes
Paróquia Nossa Senhora D'Abadia de Santa Rosa de Goiás
Rolar para cima