Diocese de Anápolis

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A Tradição e as tradições na oficina do teólogo

1. Os símbolos da fé

a) O Símbolo dos Apóstolos

b) O Símbolo de Nicéia-Constantinópla

c) o Símbolo Atanasiano (Quicumque)

2. A liturgia

3. A fé do Povo de Deus

4. Os Padres e Escitores da Igreja

5. A doutrina dos teólogos

6. A história da Igreja

a) Condicionamentos históricos da teologia

b) A catarse da teologia pela história

c) O sadio relativismo

7. A arte sacra

8. A poesia e a literatura de ficção

 

Como trabalho com a Palavra de Deus, a teologia deve recorrer continuamente à palavra inspirada da Sagrada Escritura e à Palavra de Deus que vive na tradição extrabíblica. Hoje o acesso à Sagrada Escritura não apresenta dificuldades. Não apenas o teólogo, mas igualmente amplos círculos de simples fiéis têm a Bíblia ao alcance da mão. Mas, quando surge a pergunta a respeito da Tradição extrabíblica a respeito de algum assunto, a situação se complica. Onde encontrar essa Tradição? Onde buscá-la? Onde utilizar-se dela?

O primeiro a discutir sistematicamente essas questões, Melquior Cano, contribuiu introduzindo definitivamente na metodologia teológica o conceito dos Loci theologici, ou seja, “lugares teológicos”. Trata-se dos lugares onde o teólogo encontra as suas fontes apropriadas. Não resta dúvida de que a fonte principal, fundamental e incomparável da teologia tem que ser a Sagrada Escritura; no entanto, a par dela existem muitos outros loci, que aqui discutiremos. Como é fácil perceber, eles se distinguem significativamente entre si: uns possuem um caráter mais objetivo (por exemplo os textos dos concílios, os escritos dos Padres da Igreja), outros – um caráter antes subjetivo (por exemplo a fé do Povo de Deus ou a vida da Igreja); uns são nitidamente institucionais (concílios, sínodos, doutrina dos bispos e dos papas), outros são extra-institucionais (arte sacra, parcialmente a teologia); uns do tipo doxológico (liturgia, símbolos da fé), outros do tipo doutrinário (Padres da Igreja e teologia posterior); a uns se atribui autoridade decisiva na área da fé e dos costumes (algumas decisões dos concílios, dos sínodos e os pronunciamentos ex cathedra), outros apenas facilitam o estabelecimento do conteúdo da fé (as chamadas fontes auxiliares da teologia: direito eclesiástico, arte sacra, história da Igreja, sinais dos tempos).

Deixamos de lado aqui o locus fundamental da teologia, ou seja, a Sagrada Escritura. Em razão da sua posição inteiramente excepcional, ela será analisada separadamente. Deslocamos também para um lugar diferente e separado o grande tema da função magisterial da Igreja (juntamente com os concílios), que na teologia católica desempenham um papel especialmente importante.

1. OS SÍMBOLOS DA FÉ

Não se trata de sinais-símbolos, mas de profissões de fé concisas adotadas na Igreja. Entre os mais conhecidos encontram-se três:

A. O SÍMBOLO DOS APÓSTOLOS

Chama-se também Credo. Na forma que nos é conhecido hoje, surgiu no século IV (na fala de S. Cesário de Arles). Em Roma vamos encontrá-lo na primeira metade do século IV, mas numa forma menos desenvolvida.

Compõe-se de três partes, correspondentes às três perguntas dirigidas aos que recebiam o batismo. Constitui uma profissão de fé no “Deus cristão”, ou seja, na Santíssima Trindade. A forma mais primitiva do Credo remonta ao século II:

Creio em Deus Pai todo-poderoso
e em Seu Filho único, nosso Senhor Jesus Cristo,
e no Espírito Santo,
e na ressurreição da carne
na santa Igreja católica.

O Símbolo corresponde à determinação de Cristo: “Ide… batizai-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28, 19). Já no século II, a essa profissão concisa de fé na Santíssima Trindade foi adicionada uma profissão mais ampla em Cristo nascido da Maria Virgem, que sofreu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado e ressuscitou, de acordo com o ensinamento dos apóstolos, especialmente em 1Cor 15, 3-5. Visto que resume a mensagem dos apóstolos, com razão toma deles o seu nome. Esse símbolo foi aceito rapidamente no Ocidente cristão. O Oriente utilizava-se de um maior número dos seus símbolos locais (cf. DS 41-76).

B. O SÍMBOLO DE NICÉIA-CONSTANTINOPLA

O Concílio de Nicéia (325), condenando as doutrinas errôneas de Ário, formulou uma profissão de fé em três partes, desenvolvendo nele a segunda parte, a cristológica. Enfatizou aquelas verdades que haviam sido falsificadas por Ário. A fé no Espírito Santo foi expressa de forma muito concisa. Trata-se do Símbolo de Nicéia.

O Símbolo de Nicéia-Constantinopla, ou o nosso Credo da Missa, amplia a terceira parte, sobre o Espírito Santo. Resume de forma mais exata os principais artigos da fé. A relação desse símbolo com o concílio de Constantinopla (381) não foi até agora esclarecida. A profissão constituía provavelmente o fruto dos debates conciliares. A partir do século V tornou-se o Símbolo oficial de batismo da Igreja grega. Foi introduzido na liturgia da Missa primeiramente pelos monofisistas (séc. V). No Ocidente foi introduzido na Missa no século XI.

C. O SÍMBOLO ATANASIANO (QUICUMQUE)

Compõe-se de duas partes, ou duas profissões de fé: na Santíssima Trindade e na encarnação. Com certeza não provém de S. Atanásio. Surgiu provavelmente no início do século VI na Gália meridional. No século VII começa a ser atribuído a S. Atanásio. Desde o século IX era recitado no breviário para a Prima de domingo.

Como na antiguidade o cristianismo, consciente das ameaças à fé, formulava as Profissões, nas quais expressava a autêntica fé da Igreja, assim nos nossos tempos a Igreja, vivenciando a crise da renovação, formulou a Profissão de fé que leva em conta os erros e as discussões teológicas de hoje. Essa Profissão recebeu o nome de Credo de Paulo VI. O papa proclamou-o no dia 30 de junho de 1968, para o encerramento do Ano da Fé. Formulou a fé da Igreja na Santíssima Trindade, em Jesus Cristo, no Espírito Santo, em Maria sempre Virgem, no pecado original, na Igreja, na Eucaristia, nos anjos e na vida eterna.

2. A LITURGIA

A prática da liturgia fez surgir muito cedo uma literatura de dois tipos: a Eucologia, ou coleções de textos litúrgicos (os mais antigos que conhecemos provêm de cerca do ano 350), e as Ordines, ou orientações relacionadas com a prática da liturgia (correspondentes às rubricas ou cerimoniais). A mais antiga coleção de normas litúrgicas, conhecida por Tradição Apostólica de S. Hipólito, provém do início do séc. III (cerca de 220). Provém igualmente do séc. III a Doutrina católica dos doze apóstolos ou Didascália, que surgiu no ambiente sírio.

No Ocidente utilizam-se muitos livros litúrgicos cujos nomes apontam para os seus objetivos: Eucológio, ou sacramentário, contendo os textos das orações para o uso do sacerdote celebrante; o Evangeliário para o diácono; o Epistolário para o subdiácono; o Lecionário com textos para o leitor; o Antifonário, o Homilário, o Livro das Coletas, o Livro das Bênçãos, o Livro das Procissões, os Hinários… Atualmente os numerosos ritos orientais utilizam-se dos seus livros litúrgicos, por vezes muito numerosos.

No Ocidente, a partir do período dos carolíngios, os livros litúrgicos também se diferenciam sensivelmente, de acordo com a sua utilização: o Missal, o Breviário, o Pontifical (para as funções litúrgicas reservadas ao bispo), o Ritual, correspondente ao Pontifical para o clero inferior, o Cerimonial Episcopal, que encerra prescrições litúrgicas para as igrejas catedrais e colegiadas, e finalmente o Martirológio.

As mais importantes fontes de apoio para o estudo da liturgia:

Dictionnaire d’archeologie chrétienne et de liturgie (red. F. Cabrol, H. Leclerq), vol. I-XV, Paris 1924-1953.
L. Duchesne, Les origines du culte chrétien, Paris 1889, 19205. Obra fundamental que não perdeu o seu valor apesar de não ser de data recente.
L. Oppenheim, Institutiones systematico-historicae in sacram liturgiam, Taurini 1939. Riqueza de informações.
A. M. Martimort (red.), L’Église en prière. Introduction à la Liturgie, Tournai 1961.
J. A. Jungmann, Missarum solemnia, vol. I-III, Paris 1951-1954. O melhor trabalho histórico. O mais baseado em fontes.
S. Baumer, Histoire du Bréviaire, vol. I-III, Paris 1905.

Sobre as liturgias orientais:
M. Hanssens, Institutiones liturgicae de ritibus orientalibus, vol. I-III, Romae 1932.
La prière des Églises de rite Byzantin, vol. I-II, Chevetogne 1953.

3. A FÉ DO POVO DE DEUS

A distinção tradicional entre “Igreja docente (Ecclesia docens, Ecclesia hierarchica) – Igreja ouvinte, discente (Ecclesia audiens, Ecclesia discens), de bom grado enfatizada principalmente nos séculos XVII e XIX, hoje é justamente censurada em razão de suas profundas simplificações. Hoje, mais do que naqueles séculos, estamos conscientes de que toda a Igreja ouve e ensina, ensina e é ensinada, porquanto todos, cada fiel leigo, cada religioso, sacerdote, bispo e papa, devem auscultar a palavra de Deus e aquilo que lhes diz o Espírito Santo. Devem também ouvir e ensinar uns aos outros. A aprendizagem e o ensino possuem aqui um caráter reflexivo, embora naturalmente se distingam pelo carisma e pela função de que decorrem. O Espírito Santo, como Espírito da Verdade, anima toda a Igreja, conduz toda a Igreja à plenitude da verdade e mantém toda a Igreja na verdade.

Segundo S. Paulo, os fiéis recebem dons de Deus, para que “lhes conceda pleno conhecimento da Sua vontade, perfeita sabedoria e penetração espiritual”, para que “se comportem de maneira digna do Senhor, procurando agradar-Lhe em tudo, frutificando em toda boa obra e crescendo no conhecimento de Deus” (Col 1, 9-10). Existe, portanto, entre os fiéis uma espécie de “penetração espiritual” que procede como que de dentro, pelo caminho da oração e da vida aprofundada pela fé. S. Paulo fala de uma espécie de pressentimento (sensus), graças ao qual os fiéis avaliam corretamente o que é melhor (Flp 1, 9), do “pensamento de Cristo” cognitivo (1Cor 2, 16) e dos “iluminados olhos do coração” (illuminatos oculos cordis vestri), que fornecem um conhecimento mais profundo de Cristo e da própria vocação (Ef 1, 17-18). S. João percebe aí especialmente o Espírito Santo: “A Sua unção vos ensina todas as coisas, assim é ela verdadeira e não mentira. Permanecei nele, como ela vos ensinou” (1Jo 2, 27).

No final do século XIX chamou atenção a essas questões o cardeal Henry Newman, o qual, estudando a época do arianismo, espantou-se com o fato de que a fé ortodoxa salvou-se no povo crente simples, enquanto a maior parte dos bispos sucumbiu ao erro na fé.

Os teólogos não elaboraram uma definição única desse “sentido da fé”. No entanto, estão bastante concordes em reconhecer que:

1. Trata-se de um dom de Deus.
2. Esse dom é recebido por toda a coletividade dos crentes.
3. Trata-se de uma espécie de intuição espiritual que distingue acertadamente a verdade do erro na fé.
4. Possui um caráter individual e coletivo, antes coletivo que individual.

O Concílio Vaticano II percebeu esse fenômeno:

“A generalidade dos fiéis, possuindo a unção do Santo (cf. 1Jo 2, 20 e 27), não pode errar na fé e manifesta essa sua especial propriedade pelo sentido sobrenatural da fé (sensus fidei) de todo o povo, quando, ‘a começar pelos bispos até o último dos fiéis leigos’ (S. Agostinho), revela ele a sua concordância universal em questões de fé e de costumes. Porquanto graças a esse sentido da fé, despertado e sustentado pelo Espírito da verdade, o Povo de Deus, sob a direção da santa função magisterial – seguindo a qual aceita já não a palavra humana, mas verdadeiramente divina (cf. 1Tes 2, 13) – permanece inabalável na fé uma vez entregue aos santos (cf. Jd 3), penetra nela mais profundamente com a ajuda do justo julgamento e de forma mais plena a aplica na vida” (LG 12).

O Concílio não menciona a situação que espantou a Newman. No entanto ela apresenta à metodologia teológica o problema: Como analisar a fé dos fiéis leigos na sua dimensão individual e social? Sabemos escrever sínteses da doutrina teológica dos papas, dos concílios, dos bispos… Com bastante facilidade podemos reunir e analisar os seus escritos. Mas de que forma o teólogo pode levar em consideração o tão valioso sensus fidei dos fiéis leigos, para chegar às camadas protegidas pelo carisma da infalibilidade na fé (infallibilitas in credendo)? A sociologia da religião dispõe de métodos que permitem estabelecer o conteúdo das convicções religiosas, chamadas de ideologia. No entanto é difícil reconhecer neles instrumentos eficientes para a interpretação do sensus fidei. Além disso esses métodos possuem um alcance bastante limitado.

A fé da chamada Igreja ouvinte pode ser conhecida por exemplo dos títulos conferidos às Igrejas, das celebrações paralitúrgicas, da vida das irmandades eclesiásticas (seus padroeiros e objetivos), dos cânticos eclesiásticos, dos costumes religiosos, das reações aos acontecimentos na Igreja e no mundo, etc.

4. OS PADRES E ESCRITORES DA IGREJA

Inicialmente eram chamados de “Padres” (Patres) os bispos que como pastores exerciam a paternidade espiritual, mais tarde os bispos que nos concílios definiam os princípios da fé e da vida cristã, e a seguir os mestres ortodoxos da fé, independentemente de serem bispos ou de participarem de concílios. Na Idade Média eram chamadas de “santos Padres” (sancti Patres) aquelas pessoas que demonstravam ser instrumentos do Espírito Santo na explanação da Sagrada Escritura. No século XII as suas obras eram incluídas na Sacra Scriptura, na convicção de que eles possuíam a inspiração do Espírito Santo, naturalmente num sentido bastante amplo. O magistério da Igreja apelava a eles como a testemunhas eminentes da tradição. Faziam a mesma coisa os teólogos, que compunham para o seu uso antologias dos pronunciamentos dos Padres, graças às quais, tanto na Idade Média como em séculos posteriores, eram citados com espantosa freqüência, apesar da falta primeiro dos manuscritos, e mais tarde de edições de fácil acesso (os famosos florilegia, ou “correntes” – catenae)

Em geral, exige-se dos Padres da Igreja:

1. excelência na doutrina e na ortodoxia (embora vários Padres tenham cometido sérios erros),
2. santidade de vida,
3. antiguidade,
4. a concessão do título de “Padre da Igreja” por parte do Magistério.

A fronteira temporal superior do período patrístico chega aos meados do século VIII. A Patrística no Oriente é encerrada com S. João Damasceno (+ c. 750), e no Ocidente a fronteira deslocava-se: inicialmente o último era S. Gregório Magno (+604) ou S. Isidoro de Sevilha (+636), e atualmente é considerado como último S. Beda Venerável (+735).

Na fundamentação meritória do estabelecimento justamente dessa fronteira do período dos Padres da Igreja aponta-se para o fato que ele encerra o tempo da cristalização da doutrina católica. Do outro lado dessa fronteira iniciam-se as sínteses, as repetições e os acréscimos, às vezes as correções.

A partir do século XVII, entre os Padres da Igreja distinguem-se os Padres Apostólicos: S. Clemente de Roma, terceiro sucessor de S. Pedro, S. Inácio de Antioquia, S. Policarpo de Esmirna e Papias. Eles formam o grupo dos escritores mais antigos, que viveram no encontro do período apostólico com os tempos pós-apostólicos.

Alguns Padres da Igreja são chamados de Doutores da Igreja. Esse título é conferido pelo Magistério em razão do seu papel preeminente na explanação da Revelação.

Receberam o título de Doutores da Igreja os seguintes Padres:

1. Ambrósio, 2. Agostinho, 3. Jerônimo, 4. Gregório Magno, 5. Atanásio, 6. Basílio, 7. Gregório Nazianzeno, 8. João Crisóstomo, 9. Leão Magno, 10. Cirilo de Alexandria, 11. Cirilo de Jerusalém, 12. Hilário de Poitiers, 13. Efrem, 14. João Damasceno, 15. Isidoro de Sevilha, 16. Beda Venerável.

A lista dos Doutores da Igreja foi ampliada por teólogos posteriores:

1. Anselmo de Canterbury, 2. Pedro Damião, 3. Bernardo de Claraval, 4. Tomás de Aquino (proclamado pelo dominicano Pio V), 6. Alberto Magno, 7. Antônio de Pádua, 8. Boaventura (proclamado pelo franciscano Sixto V), 9. Pedro Canísio, 10. Roberto Belarmino, 11. Francisco de Sales, 12. João da Cruz, 13. Afonso de Ligório, 14. Lourenço de Brindisi, 15. S. Teresa de Ávila, 16. S. Catarina de Sena.

O teólogo deve familiarizar-se com as edições patrísticas básicas:

J. P. Migne, Patrologiae cursus completus. Series graeca, vol. 1-161, Paris 1857-1866. Citado abreviadamente PG ou MG.
J. P. Migne, Patrologiae cursus completus. Series latina, vol. 1-221, Paris 1878-1890. Citado abreviadamente PL ou ML.
Patrologiae cursus completus a J. P. Migne editus et Parisiis, Anno Domini 1844, excussus. Series latina. Supplementum accurate Adalberto Hamman OFM, vol. I, fasc. 1-4 para PL pp. 4-21. Paris 1958; vol. II, fasc. 1-4 para PL pp. 22-48, Paris 1962. Traz textos omitidos em Migne ou descobertos após a publicação da sua patrologia.
Corpus Christianorum, Brepols, série calculada em 180 volumes. Deve substituir a série latina de Migne. Abreviaura: CC.

Possuímos dois preciosos guias para a rica literatura patrística, com a indicação das melhores edições dos Padres da Igreja e com informações sobre cada obra:

Clavis Patrum Latinorum qua in novum Corpus Christianorum edendum optimas scriptorum recensiones a Tertuliano ad Bedam commode recludit Eligius Dekkers opera usus qua rem praeparavit et iuvit Aemilius Gaar Vindobonnensis. Editio altera aucta et emendata, Steenbrugis, In abbatia Sancti Petri (1961)2.
Clavis Patrum Graecorum seu propylaeum ad seriem graecam Corporis Christianorum , vol. 1-4, Turnhout 1974-1977, red. M. M. Geerard, ed. Brepols.
Corpus Scriptorum Christianorum Orientalium, Paris-Louvain 1903, c. 170 vol. (série síria, copta, árabe, etíope, armênia).
Sources Chrétiennes, ed. H. de Lubac, J. Danielou, C. Mondésert, Paris 1941.Ambiciosa edição crítica de textos patrísticos com tradução francesa. Cerca de 200 volumes.
Enchiridion patristicum. Loci SS. Patrum, Doctorum, Scriptorum Ecclesiasticorum quos in usum scholarum collegit M. J. Rouet de Journel SJ, Barcinonae 196523. Seleção dos textos mais importantes até o vol. VI inclusive.
Encchiridion Asceticum. Loci SS. Patrum et Scriptorum Ecclesiasticorum ad ascesim spectantes quos collegerunt M. J. Rouet de Journel SJ et J. Dutilleul SJ adiuvantibus aliquibus aliis Patribus Societatis Jesu, Barcinonae (et alibi) 19585.

 Manuais poloneses de patrologia:

H. von Campenhausen, Ojcowie Kosciola (trad. K. Wierszylowski), Varsóvia 1967.
A. Hamman, Portrety Ojców Kosciola. Praktyczny przewodnik po patrologii (trad. colet.), Varsóvia 1978.
W. Kania, Swiadkowie tradycji. Rys historyczny, Tarnów 1982.
A. Squire, Pytajac Ojców (trad. J. Sulowski), Varsóvia 1982.
Dos instrumentos de trabalho extraordinariamente úteis fazem parte:
A. Bober, Antologia patrystyczna, Cracóvia 1966.
J. M. Szymusiak, M. Starowieyski, Slownik wczesnego pismien-nictwa, Poznan 1971.
Vox patrum. 1981. Miedzywydzialowy Zaklad Badan nad Antykiem Chrzescijanskim, KUL.

5. A DOUTRINA DOS TEÓLOGOS

O conhecimento do desenvolvimento do pensamento teológico é tão necessário ao teólogo como conhecimento do patrimônio das ciências naturais ao naturalista, da história ao historiador, etc. Para dar um passo inteligente adiante é preciso conhecer a situação de partida. O desenvolvimento da teologia consiste em haurir dos predecessores, enriquecer o dom recebido e transmiti-lo aos sucessores. Essa lei rege qualquer disciplina do conhecimento.

Os Padres da Igreja não encerraram o tempo do desenvolvimento do pensamento teológico, mas apenas construíram as suas bases e os seus esboços. A sua obra foi enriquecida pelos teólogos de diversos séculos e de diversas regiões do mundo.

No seu primeiro período, a teologia da Idade Média produziu S. Beda Venerável (+735) e Alcuíno (+804) na Inglaterra, Rabano Mauro (+856) na Alemanha, João Escoto Eriúgena (+ após 877), nascido na Irlanda, mas que trabalhou na França.

Os séculos XI e XII produziram S. Anselmo de Canterbury (+1109), reconhecido como o pai da escolástica, Pedro Abelardo (+1142), que adotou na teologia a filosofia de Aristóteles (não dava grande valor aos pronunciamentos dos Padres; é famosa a sua obra Sic et non – composta de escritos de Padres da Igreja que manifestaram opiniões contraditórias a respeito de 150 questões), dois religiosos agostinianos da abadia de S. Vítor, perto de Paris: Hugo (+1141) e Ricardo (+1173), e o grande Pedro Lombardo (+1160), em cuja obra Quattuor libri Sententiarum… educaram-se as gerações seguintes de teólogos, e S. Bernardo de Claraval (+1153), benemérito no campo da ascese e da mística, teólogo das cruzadas e inspirador da piedade mariana.

O século de ouro da escolástica trouxe o belo desenvolvimento da escola tomista (S. Tomás de Aquino +1274) e franciscana (S. Boaventura +1274, João Duns Escoto +1308, Guilherme Ockham +1350), e juntamente com eles as grandes sínteses do pensamento teológico da Idade Média.

No período da Reforma e das polêmicas pós-reformistas distin-guiram-se Estanislau Hozjusz (+1579), S. Pedro Canísio (+1597) e S. Roberto Belarmino (+1621).

O século XVII costuma ser chamado de século de ouro da teologia. A par da extraordinariamente rica literatura teológica de natureza científica, surgiu um bom número de obras ascético-piedosas de autoria de S. Francisco de Sales ((+1622), S. João Eudes (+1680), apóstolo do culto do Coração de Jesus, S. Luís Grignion de Montfort (+1716), apóstolo da “verdadeira devoção à Santíssima Maria Virgem”, da mesma forma que na Polônia Gaspar Druzbiecki (+1662).

O século XVIII não produziu grandes teólogos. Do século XIX é preciso mencionar três nomes: Johann Adam Mohler (+1838), que lançou as bases dos hodiernos trabalhos ecumênicos com as obras Symbolika e Unidade da Igreja; José Matias Scheeben (+1888), autor da melhor obra teológica que o século XIX produziu (Mistérios do Cristianismo) e John Henry Newman (+1890), primeiramente anglicano, depois cardeal da Igreja católica romana, criador da teoria do desenvolvimento da doutrina cristã.

O século XX trouxe uma avançada especialização. Desenvolvem-se sobretudo o biblicismo e a eclesiologia, e depois do Concílio – o ecumenismo. Os que mais contribuíram: Dominique M. Chenu, Yves Marie Congar, Jean Danielou, Jean Marie Garrigou-Lagrange (+1938), Hans Küng, Joseph Lortz, Henri de Lubac, Karl Rahner (+1984), Eduard Schillebeeckx, Hans Urs von Balthasar. Na Polônia, no período que precedeu imediatamente o Concílio, distinguiram-se: o pe. Aleixo Klawek de Cracóvia (+1969) e o pe. Estanislau Lach da UCL, biblicistas; o pe. Vicente Kwiatkowski da ATC (+1972), apologista; o pe. Inácio Rózycki de Cracóvia, da ATC (+1983) e o pe. Vicente Granat da UCL (+1979), dogmáticos; o pe. Estanislau Olejnik (ATC e UCL), moralista; o pe. Miecislau Zywczynski da UCL (+1978), historiador da Igreja.

No atual estado de exuberante desenvolvimento da literatura teológica não é possível dominar a literatura corrente, mesmo de uma área selecionada. É indispensável fazer uma seleção. Essa difícil tarefa é facilitada pelas referências bibliográficas inseridas em revistas, especialmente na Ephemerides Theologicae Lovanienses e na revista trimestral polonesa Collectanea Theologica (a melhor revista teológica na Polônia; riqueza de informação bibliográfica; indispensável ao teólogo principiante).

As melhores bibliografias teológicas, que apresentam uma visão da teologia mundial:

Internationale Bibliographie der Zeitschriften Literatur aus allen Wissensgebieten, Kombinierte Folge. Ed. O. Zeller, Osnabrück 1965 (antigamente: Dietrich). Aparece em edição anual. Abreviatura: IBZ.

Bulletin Signalétique, Sect. 527. Sciences Religieuses. Paris 1970. Breve resenha das publicações assinaladas.

Uma excelente introdução à oficina teológica polonesa (bibliografias, enciclopédias, dicionários, manuais) é a brochura: Karol Klauza, Przewodnik po literaturze teologicznej, Katowice 1985 (para uso interno; para aquisição com o autor: Dr. Karol Klauza, ul. Ulanów 23/31 – 20-554 Lublin).

6. A HISTÓRIA DA IGREJA

A História da Igreja entendida de forma ampla, juntamente com a epigrafia e a iconografia, a liturgia e a prática da vida cristã, com os concílios e sínodos, com a doutrina dos papas e bispos, bem como com a vida dos santos, pode ser tratada como Tradição da Igreja, tanto mais que num certo sentido a história engloba também a Sagrada Escritura. Não se trata aqui de uma abordagem tão ampla da história, mas da história como um dos muitos “lugares teológicos”. Foi somente Melquior Cano (+1562) quem incluiu a história nos loci theologici, ou fontes da teologia, e chamou de rudes (rudes) os teólogos que em seus trabalhos não levavam em conta a história4. Para os grandes escolásticos que praticavam a teologia especulativa e dedutiva, a afirmação de Cano seria uma surpresa. Hoje aceitamos com compreensão o postulado de se levar em conta na história o parâmetro do tempo, o que é confirmado pelas experiências das ciências bíblicas e históricas.

A. CONDICIONAMENTOS HISTÓRICOS DA TEOLOGIA

As ciências bíblicas revelaram o caráter histórico da própria Revelação (Deus se revela na história não apenas pela palavra, mas igualmente pela atividade – verba et gesta Dei; a história condiciona a Revelação bíblica e a sua transmissão). Nessa descoberta têm grandes méritos os teólogos protestantes.

Desde o século XIX a história dos dogmas demonstra cada vez mais nitidamente quanto a compreensão da fé depende da história: da etapa do seu desenvolvimento, de acontecimentos concretos e situações históricas, da política, das sensibilidades da época e até da moda relacionada com certas idéias. A ignorância da formação histórica dos dogmas da Santíssima Trindade, de Cristo ou da Igreja impossibilita a sua correta compreensão. Se por exemplo excluirmos do contexto histórico a doutrina da Igreja a respeito das cruzadas, o dogma tridentino sobre a justificação, o relacionamento do Magistério da Igreja com o modernismo ou o dogma do primado do bispo de Roma e da sua infalibilidade, a sua interpretação correta se tornará simplesmente impossível. Da mesma forma, somente pode entender de forma apropriada o Syllabus de Pio IX quem está bem familiarizado com a situação que então reinava na Itália. Ao iniciar a análise dos textos do Magistério da Igreja, é preciso indagar em que ocasião eles surgiram, com que objetivo, de que linguagem se utilizam, contra quem eram dirigidos, qual era a lei civil ou eclesiástica que então vigorava, etc. Faz-se necessária, então, toda uma hermenêutica histórico-teológica. A consciência desse fato sugere que se utilize com inquietação o Enchiridion de H. Denzinger, no qual são apresentados textos de vintes séculos, isolados do contexto histórico em que surgiram. O leitor sem cultura histórica, ao fazer a leitura da antologia de Denzinger, encontra-se diante de um real perigo de interpretação a-histórica, e portanto incorreta. Com razão surgem hoje advertências contra a “teologia de Denzinger”.

O padre Y. Congar fundamenta com a sua própria rica experiência o postulado da construção de uma teologia histórica:

“(…) tudo deve ser analisado na perspectiva histórica. Não creio que me esteja afastando das exigências da teologia, como supunha outrora, por estar analisando-a historicamente.

A maneira como o padre Cheny, em Saulchoir, lecionava a história do dogma ou o método como devemos interpretar a Bíblia – ensinando a distinguir os gêneros literários diversos na Livro do Gênesis, no Livro de Jonas ou nos Livros dos Reis – sempre me livraram do perigo de misturar os níveis e de absolutizar o que é relativo, o que é no final uma forma de idolatria, e não de anunciação da verdade.

Absolutamente tudo tem uma dimensão histórica, inclusive a pessoa de Jesus Cristo. Os Evangelhos são históricos, S. Tomás é histórico, da mesma forma que Paulo VI. E também o meu ponto de vista inscrito nessa história…”

B. A CATARSE DA TEOLOGIA PELA HISTÓRIA

O conhecimento da história serve para a purificação (catarse) da teologia e da doutrina da Igreja, isto é, permite distinguir nelas a grande Tradição da fé das pequenas tradições históricas, o depósito imutável da Revelação das suas interpretações mutáveis. Isso pode ser facilmente percebido através de exemplos:

Diálogos ecumênicos recentes demonstraram que a acusação das Igrejas pré-calcedônicas de monofisismo consistia em grande parte em equívocos. A edição crítica dos escritos de Pelágio levou à sua parcial reabilitação. F. Dvornik reabilitou Fócio, emquanto J. Lortz e outros estão reabilitando Lutero. Os estudos da Reforma demonstraram a ortodoxia básica dos seus postulados fundamentais. Paulo VI reconheceu que a Revolução Francesa, num certo sentido, “não fez nada mais do que apoderar-se de certos ideais cristãos: fraternidade, igualdade, progresso, desejo de elevação das classes inferiores”6, e no entanto a Igreja condenava esses lemas. Está mudando a avaliação da Igreja diante de Galileu, Copérnico, Darwin e T. de Chardin. O teólogo deve extrair conclusões da aula de história.

C. O SADIO RELATIVISMO

Será que isso não conduz ao relativismo? Num certo sentido – sim. Mas nem todo relativismo merece a avaliação de negativo.

“O conhecimento da história – como escreve Congar – abre-nos o caminho ao sadio relativismo. Isso é algo inteiramente diferente do ceticismo; muito pelo contrário, é um meio de ser e de ver-se mais verdadeiro e, vendo o relativismo daquilo que é realmente relativo, não lhe atribuir as propriedades de algo absoluto, mas apenas àquilo que é realmente absoluto. Graças à história tomamos as coisas na sua situação apropriada, evitamos de tomar por “tradição” aquilo que provém de anteontem e que muitas vezes mudou com o correr do tempo. Privamos de dramaticidade muitas inquietações a que nos leva o surgimento de novas idéias e formas (…). Mas é preciso também mencionar a história da história, que não é absolutamente uma espécie de leilão de sábias pesquisas: é um excelente meio de autocrítica, mostrando-nos como, sob a pressão de certos condicionamentos, eram mal avaliados os acontecimentos e as pessoas, por exemplo Lutero”.

 7. A ARTE SACRA

A fé cristã manifesta-se também na arte, que graças a isso constitui uma das formas da Tradição e uma importante fonte da teologia (locus thologicus).

Merecem atenção especial os monumentos mais antigos preservados nas catacumbas. As rerpresentações figuradas e as inscrições tumulares consolidaram na pedra a Tradição dos primeiros séculos. O tema que mais se repete é o da comunidade viva que existia entre os seguidores de Cristo vivos e mortos, isto é, as orações pelos falecidos e aos falecidos (mártires), portanto a communio sanctorum e da vida sacramental, especialmente do batismo e da Eucaristia.

Na Idade Média a arte sacra cumpriu com excepcional nitidez a função evangelizadora. Para milhões que não dominavam a arte da leitura, substituía a Sagrada Escritura, tornando-se a Bíblia das pessoas simples (Biblia pauperum).

A arte religiosa brota de forma bastante espontânea e por isso reflete o pluralismo das formas de vivenciar e de expressar a fé. Como num espelho, reflete-se nela a riqueza da piedade popular de diversas regiões do mundo, diversas épocas e culturas.

Na arte sacra expressa-se a especificidade das grandes tradições cristãs: romano-católica, ortodoxa e protestante. Com razão se enfatiza que o espírito da Igreja ortodoxa expressa-se mais plenamente na liturgia e na arte icônica do que em tratados teológicos.

Parece que os teólogos fazem decididamente pouco uso da arte sacra como “lugar teológico”.

Para facilitar o contato do teólogo com a ars sacra podem servir:

Dictionnaire d’archéologie chrétienne et de liturgie, red. F. Cabrol, H. Leclercq, vol. I-XV, Paris 1924-1953.
Dobrzeniecki T., Rzezba sakralna w Polsce, Varsóvia 1980.
Florenski P., Ikonostas i inne szkice, trad. Z. Podgórzec, Varsóvia 1981.
Klosinska J. Ikony, Cracóvia 1973.
Lexikon der christichen Ikonographie, ed. E. Kirschbaum e outros, vol. I-VIII, Roma 1968-1976.
Pasierb J. S., Problematyka sztuki w postanowieniach soborów. Znak 16 (1964) 1460-1482.

8. A POESIA E A LITERATURA DE FICÇÃO

Até agora a teologia não tem tratado a literatura de ficção nem como forma de Tradição, nem como locus theologicus. Parece, no entanto, que é preciso corrigir essa posição. Afinal a literatura de ficção pode ser uma profissão de fé e uma forma de testemunho dado do Evangelho. Na realidade muitas vezes ela cumpre essa função. Deve ser então tratada como expressão da fé do Povo de Deus ou como sensus fidei.

A secular experiência do cristianismo manda atribuir à poesia uma função importante na transmissão da fé, bem como na abordagem verbal do Misterium. Aos santos e aos poetas devemos muitas valiosas abordagens verbais das verdades da fé difíceis de expressar ou simplesmente inexprimíveis. Os maiores teólogos eram muitas vezes santos e poetas. Para se convencer disso é suficiente fazer uma leitura atenta das homilias e dos escritos cheios de poesia dos Padres da Igreja, de alguns escritos de S. Tomás e muitos escritos de S. Boaventura. Os teólogos contemporâneos recorrem cada vez mais à grande poesia.

Os manuais de teologia e os catecismos falam daquilo em que se deve crer e que deve ser ensinado, ao passo que as obras literárias, na medida em que são uma profissão, expressam aquilo em que de fato se crê e a hierarquia de verdades que de fato se aceita.

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