O Papa Francisco iniciou nesta quarta-feira, 29, um novo ciclo de catequeses sobre o Livro dos Atos dos Apóstolos. O tema da Audiência Geral de hoje foi extraído do primeiro capítulo do livro, dos versículos dois e três: “Mostrou-se a eles vivo e ordenou-lhes de esperar o cumprimento da promessa do Pai”.
“Esse livro bíblico, escrito por São Lucas Evangelista, nos fala da viagem do Evangelho no mundo e nos mostra a ligação maravilhosa entre a Palavra de Deus e o Espírito Santo que inaugura o tempo da evangelização. Os protagonistas dos Atos dos Apóstolos são ‘um casal’ vivo e eficaz: A Palavra e o Espírito”, frisou o Pontífice.
A Palavra e o Espírito
Francisco explicou que a Palavra de Deus corre, é dinâmica e irriga todo terreno sobre o qual ela cai. Mas qual a sua força?, interrogou. Segundo ele, o evangelista São Lucas afirma que a palavra humana se torna eficaz não graças à retórica, que é a arte do belo discurso, mas graças ao Espírito Santo, que é a dinâmica, a força. “[O Espírito Santo] tem o poder de purificar a palavra, torná-la portadora de vida”, sublinhou.
Ele lembrou que na Bíblia há muitas histórias (palavras humanas), mas a diferença entre ela e um livro de histórias existe porque as palavras da Bíblia são tomadas pelo Espírito Santo, que dá uma força diferente e faz desta palavra uma semente de santidade.
“Quando o Espírito visita a palavra humana, ela se torna dinâmica, como ‘dinamite’, capaz de iluminar os corações e anular esquemas, resistências e muros de divisão, abrindo novos caminhos e expandindo os confins do povo de Deus”, enfatizou.
De acordo com o Papa, o Espírito Santo dá a sonoridade vibrante e eficiência à palavra humana que é frágil, capaz até de mentir e fugir das próprias responsabilidades. Este Espírito Santo, lembra o Santo Padre, é o mesmo pelo qual o Filho de Deus foi gerado: “[É] o Espírito que o ungiu e o sustentou na missão, o Espírito graças ao qual escolheu os seus apóstolos e garantiu ao seu anúncio a perseverança e a fecundidade, e que garante também hoje o nosso anúncio”.
A promessa do Pai
Francisco destacou que o Evangelho se conclui com a ressurreição e ascensão de Jesus, e a trama narrativa dos Atos dos Apóstolos parte da superabundância da vida do Ressuscitado derramada sobre a Igreja. Segundo o Pontífice, São Lucas afirma que Jesus, mesmo após a sua paixão, se mostrou vivo aos apóstolos durante quarenta dias e falou-lhes do Reino de Deus.
“Cristo ressuscitado cumpre gestos humanos, como o de partilhar a refeição com os seus discípulos, e os convida a viver com confiança a espera da realização da promessa do Pai. Qual é a promessa do Pai?‘Vocês serão batizados com o Espírito Santo’. O batismo no Espírito Santo é a experiência que nos ajuda a entrar numa comunhão pessoal com Deus e participar de seu desejo universal de salvação, adquirindo o dom de parresia, a coragem, ou seja, a capacidade de pronunciar uma palavra ‘como filhos de Deus’, não somente como pessoas, mas como filhos de Deus: uma límpida, livre, eficaz, cheia de amor por Cristo e pelos irmãos”, comentou.
De acordo com o Papa, não é preciso lutar para ganhar ou merecer o dom de Deus, tudo é dado gratuitamente e no seu tempo. “O Senhor doa tudo gratuitamente. A salvação não se compra, não se paga. É dom gratuito”, frisou.
O Santo Padre relembrou a resposta de Jesus aos discípulos que estavam ansiosos para conhecer antecipadamente o tempo em que os eventos anunciados aconteceriam: ‘Não cabe a vocês saber os tempos e as datas que o Pai reservou à sua própria autoridade. Mas o Espírito Santo descerá sobre vocês, e dele receberão força para serem as minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os extremos da terra’.
“Cristo ressuscitado convida os seus discípulos a não viverem o presente com ansiedade, mas a fazer uma aliança com o tempo, saber esperar o desenrolar de uma história sagrada que não foi interrompida, mas que avança, a saber esperar os ‘passos’ de Deus, Senhor do tempo e do espaço”, apontou.
Dinamizar o coração
Francisco disse ainda que o Senhor ressuscitado convida os seus a não ‘fabricar’ a missão por si mesmo, mas esperar que o Pai dinamize os seus corações com o seu Espírito, a fim de que possam dar um testemunho missionário capaz de irradiar-se de Jerusalém à Samaria e ir além das fronteiras de Israel a fim de chegar às periferias do mundo.
“Os apóstolos viveram juntos essa expectativa, como família do Senhor, no Cenáculo, cujas paredes ainda são testemunhas do dom com que Jesus se entregou aos seus discípulos na Eucaristia”, comentou o Papa, que continuou: “Como esperam a força, a dýnamis de Deus? Rezando com perseverança. Rezando na unidade e com perseverança. É com a oração que se vence a solidão, a tentação, a desconfiança e se abre o coração para a comunhão. A presença das mulheres e de Maria, mãe de Jesus, intensifica esta experiência: elas foram as primeiras a aprender do Mestre a testemunhar a fidelidade do amor e a força da comunhão que vence todo medo”.
O Santo Padre concluiu a catequese pedindo a Deus para que conceda a homens e mulheres a paciência de esperar os Seus passos, de não ‘fabricar’ a Sua obra e permanecer dóceis, rezando, invocando o Espírito e cultivando a arte da comunhão eclesial.
Fonte: Canção Nova