Diocese de Anápolis

Diocese de Anápolis

“Consummatum est”

Nas primeiras horas da tarde do dia 11 de novembro de 2025, Deus visitou a Diocese de Anápolis. Após dias de agonia (culminância de anos de enfermidade corporal), às 13h15, Deus chamou para si o excelentíssimo e reverendíssimo Dom João Casimiro Wilk, digníssimo 3º Bispo Diocesano dessa circunscrição eclesiástica.

Dom João morreu como viveu: discretamente. Naquele quarto de UTI, em suas horas finais, sustentado pela oração de quatro sacerdotes, rodeado por três religiosas, um seminarista e três fiéis leigos, consumava-se o mistério de uma vida entregue. Ali não estavam apenas pessoas aleatórias ou curiosos; estava representada a própria vida pastoral do bispo, que coroava suas horas derradeiras em seu leito de morte.

Dedicou-se, nos anos de seu ministério episcopal em Anápolis, como ele mesmo afirmou, a continuar a missão de seus predecessores nesta Diocese. Continuou a assistir, e até aprimorar o acesso à providência, ao Seminário fundado por seu antecessor; cuidou das vocações e ordenou, em grande número, sacerdotes e diáconos. Por isso podemos afirmar: ao seu lado, nunca faltaram padres, diáconos e seminaristas.

Com seu carisma de missionário e religioso sacerdote, continuou a estimular e assistir a vida consagrada, numerosa e florescente nas terras anapolinas. Autorizou a fundação e organização de comunidades de vida, dirimiu dúvidas e acompanhou com proximidade os institutos de direito diocesano. De um deles provinham as três religiosas que estavam ao seu lado no momento final.

Dom João amou os leigos! Cuidou para que a piedade popular não fosse apagada por qualquer ímpeto ultramontano. Organizou estruturalmente a Igreja de Anápolis para que o acesso aos serviços (os quais os fiéis têm direito de receber de sua Mãe e Mestra) fosse rápido, seguro e objetivo. Esse amor sempre se manifestou em gestos concretos de cuidado pastoral e em orientações práticas para a vida paroquial, a fim de que o povo fosse sustentado em sua caminhada rumo ao Céu. Em resposta, os leigos amavam Dom João, e ali estavam representados na hora de sua partida.

Num expiro, num ato de entrega, num olhar voltado ao Céu, entregou-se ao Amor, para que se consumasse em ato aquilo que motivara sua vocação e missão. Expirando, entregou a Deus sua alma. Uma das religiosas que o assistia testemunhou: “Ele entregou ao Pai o sopro da vida. Eu vi. Nós vimos.” Outra, muito próxima do bispo, constatou em voz clara e emocionada: “Ele partiu.”

Breve silêncio. Tempo suspenso. Alguém entoou a plenos pulmões: “pois o Amor, o Amor já é amado. A felicidade, assim, já se pode encontrar! Foi preciso voltar a Jesus, o Amor que eu quero amar.” Assim se encerrava um ciclo, manifesto na acolhida e na seriedade da consideração das três chamadas essenciais que Deus nos faz (e que também fez a Dom João): o chamado à vida, à santidade e à consagração específica. Eram 13h15 de uma terça-feira até então ordinária, mas que, a partir de então, se tornava carregada de um profundo significado para toda uma Igreja particular e para a Igreja universal.

As mãos sacerdotais, tantas vezes erguidas de própria vontade em tantos altares e confessionários, rasgando o céu e concedendo acesso às graças sacramentais a todos os que pediam dignamente; as mãos sacerdotais, ungidas e que ungiam, que ao longo do ministério tocaram e consagraram tantos altares, cruzes, frontes, mãos e cabeças para configurar tudo a Cristo, o Ungido do Pai, e n’Ele promover a universal recapitulação; as mãos sacerdotais, que traziam nos dedos o anel episcopal, sinal de pertença e fidelidade à Igreja e à missão para a qual ela o chamara; as mãos sacerdotais que afagaram, consolaram e cumprimentaram, essas mesmas mãos se fechavam definitivamente na terra para, no Céu, se abrirem num abraço total e definitivo com o Amor.

Dom João foi velado como viveu. Sempre defendeu as duas características essenciais indicadas pelo Concílio Vaticano II para a liturgia: nobreza e simplicidade (cf. Sacrosanctum Concilium, n. 34). Em seus funerais, pranteado pelo povo, pelo clero, pelos confrades religiosos, pelas religiosas, pelos seminaristas e pelos irmãos no episcopado, essas verdades se tornaram visíveis. Sua urna, clara e digna, de madeira de cerejeira, repousava sobre uma essa fúnebre do mesmo material, no chão da Igreja Catedral. Tais sinais refletiam a dignidade de um ministério exercido com grave responsabilidade, autoridade discreta e amor paterno.

As Santas Missas, celebradas em grande número, foram reflexo dos ideais incutidos por ele mesmo em seu clero diocesano: boa formação doutrinal, zelo litúrgico e fidelidade às normas da Santa Igreja. Assim, às 20h55 do dia 12 de novembro, sua urna desceu à Cripta da Catedral, repousando de frente para a sepultura onde se encontra seu predecessor. Ali, seu corpo aguardará o dia final.

O que fica, então, para os diocesanos daquele que partiu? Fica para cada um de nós o desejo e a necessidade de viver como ele viveu, morrer como ele morreu e fazer valer suas palavras, ensinamentos e cuidado pastoral. Recebemos uma única missão, eloquentemente pregada por sua vida e reiterada em suas palavras: “Amar o Amor e fazê-Lo amado cada dia mais.” Como testamento espiritual, deixa-nos uma simples sentença (a última proferida por ele em vida), tão singela quanto profunda, semelhante a quem a pronunciou: “oração, paciência, [estamos] nas mãos de Deus.”

Dom João pregou de modo tão profuso e eloquente que, sob certo aspecto, podemos afirmar: foi ele quem, através de seu sucessor, fez a homilia de sua própria Missa Exequial. Dom Waldemar, 4º Bispo Diocesano de Anápolis, ao assumir o múnus pastoral de modo automático com o falecimento de seu antecessor, recebeu também a dura missão de celebrar suas exéquias e proferir a homilia. Fê-lo de modo digno e comovente, valendo-se amplamente de citações diretas da homilia que Dom João proferira na Missa de sua acolhida como bispo coadjutor de Anápolis, em 25 de março deste mesmo ano. Assim, podemos dizer: Dom João pregou e amava pregar, de modo que fez a homilia de sua própria Missa Exequial.

O bispo morre; é chorado por todos os que o amam, de perto ou de longe; seu corpo é transportado em carro aberto e honrado em procissão pelo centro da cidade, até ser sepultado. A vida volta ao ciclo normal; o báculo é sustentado e não repousa, pois já havia uma mão escolhida para recebê-lo. A vida segue, o tom ordinário impõe-se sobre a solenidade, e as mentes, serenas e em paz, podem dizer: “Consummatum est!” (cf. Jo 19,30 – “tudo está consumado!”).

Aquele que viveu longos anos na cruz purificadora da enfermidade corporal agora se apresenta são diante do Pai Eterno; aquele que, com dificuldades, caminhava sustentado em seus últimos dias, agora corre em direção aos braços do Filho Redentor, a quem foi configurado na plenitude do sacramento da Ordem; aquele que tomava tantos remédios por dia, agora encontra no Espírito Santo o autor de toda cura.

Consummatum est! A via-sacra de nosso pastor terminou; vencidas foram todas as estações de angústia e dor. Agora resta apenas o repouso definitivo no seio da Santíssima Trindade. Eis que já pode nosso bispo dizer: “Vinde, ó irmã morte; conduze-me por tua mão à presença da Santíssima Virgem, Rainha dos Menores, e de seu Filho, nosso Divino Redentor. Caminhemos em direção às núpcias do Cordeiro e às moradas da casa do Pai Eterno.”

 

Marcos Vinícius V. Santana – 2º ano da Configuração
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