Diocese de Anápolis

Diocese de Anápolis

Cristo chama para enviar

As leituras de hoje nos apresentam importantes aspectos, a meu ver, porém, sobressai a temática do “envio”: na figura dos 72 discípulos do Evangelho, na figura do profeta anônimo que fala aos habitantes de Jerusalém do Deus que os ama, ou na figura do apóstolo Paulo que anuncia a glória da cruz, somos convidados a tomar consciência de que Deus nos envia a testemunhar o seu Reino.

Na primeira leitura vemos que о exílio passou, mas não chegou ainda a sonhada restauração da cidade de Jerusalém. Contudo, para os que esperam contra toda esperança dirige-se a promessa divina através do profeta: Jerusalém será uma cidade de prosperidade e alegria; nela Deus se apresentará como consolador do seu povo. А paz, isto é, a prosperidade, a bênção, é para os que a esperam e acolhem. O cumprimento dessa promessa se dá em Cristo, pois Ele é o portador da verdadeira paz.

O insistente convite à alegria feito pelo profeta atinge-nos também a nós… O medo e a angústia não podem ser os nossos companheiros de viagem, pois acreditamos no amor e na bondade desse Deus que nos acompanha, que nos acaricia, que nos consola e que faz nascer para nós, dia a dia, esse mundo novo de vida plena e abundante. Cristo é a nossa alegria, pois com Ele “somos mais que vencedores” (Rm 8,37), seu amor, sua graça nos capacitam a superar qualquer dificuldade.

Na segunda leitura temos a conclusão da Carta aos Gálatas. Como temos acompanhado nos domingos anteriores, a questão fundamental abordada nesta carta: face às exigências dos “judaizantes” (segundo os quais os cristãos, além de acreditar em Cristo, devem cumprir escrupulosamente a Lei de Moisés e, de forma especial, aderir à circuncisão), Paulo considera que só Cristo interessa e que todo o resto são leis e ritos desnecessários. No apostolado, ele só busca apoio e glória “na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo”, na qual está crucificado a tudo que lhe possa oferecer o mundo: vantagens materiais, honras, dignidades. Não o fascina o mundo, pois se deixou fascinar pelo Crucificado.

Falar da “cruz de Jesus Cristo” é falar do dom total da vida, da entrega de Si mesmo por amor. Esse (e não a circuncisão ou a prática dos rituais da Lei de Moisés) é que é o grande objetivo de Paulo e da sua pregação, pois é a morte para o egoísmo e o nascimento para o amor (cumpridos e representados na cruz) que fazem surgir o “Homem Novo”, o “Israel de Deus”, o novo Povo de Deus. Como Paulo, cada um de nós é um enviado a testemunhar o Cristo da cruz – quer dizer, anunciar a todos os homens que só no amor radical, no amor até às últimas consequências se gera vida e nasce о Ноmem Novo. Quais são nossos verdadeiros interesses enquanto cristãos: a conta bancária, os diplomas universitários, o status, o êxito profissional, o prazer, a fama, o poder ou são os gestos de amor, de virtude, de partilha, de doação, de perdão, de entrega e as incompreensões por anunciar Cristo e Cristo crucificado?

Comentando a passagem do Evangelho de hoje (cf. Lc 10, 1-12.17-20), о Papa Bento XVI afirmava: “Hoje, o Evangelho apresenta Jesus que envia setenta e dois discípulos para os povoados aonde Ele deveria ir, a fim de que preparassem o ambiente. Esta é uma particularidade do Evangelista Lucas, que ressalta o fato de que a missão não está reservada aos doze Apóstolos, mas envolve também outros discípulos. Com efeito diz Jesus ‘a messe é grande, mas os trabalhadores são poucos’ (Lc 10, 2). No campo de Deus, há trabalho para todos. Mas Cristo não se limita a enviar: Ele oferece também aos missionários regras de comportamento claras e específicas. Em primeiro lugar, envia-os ‘dois a dois’, para que se ajudem mutuamente e deem testemunho de amor fraternal. Adverte-os que serão ‘como cordeiros no meio de lobos’: ou seja, deverão ser pacíficos apesar de tudo e transmitir uma mensagem de paz em todas as situações; não levarão consigo roupas, nem dinheiro, vivendo daquilo que a Providência lhes oferecer; cuidarão dos enfermos, como sinal da misericórdia de Deus; onde forem rejeitados, ir-se-ão, limitando-se a alertar acerca da responsabilidade da recusa ao Reino de Deus. São Lucas evidencia o entusiasmo dos discípulos pelos bons frutos da missão, e ressalta esta bonita expressão de Jesus: ‘Não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem; alegrai-vos, antes, por estarem os vossos nomes escritos nos Céus’ (Lc 10, 20). Este Evangelho desperte em todos os batizados a consciência de que são missionários de Cristo, chamados a preparar-lhe o caminho mediante as palavras e o testemunho da vida”.

Irmãos e irmãs, estamos conscientes de que cada um de nós, batizados, devemos anunciar Cristo, o Evangelho, com a vida e, se necessário, com palavras? Jesus já chegou, efetivamente, ao nosso local de trabalho, à nossa escola, à nossa paróquia, à nossa família? De quem é a responsabilidade, se Jesus ainda parece estar ausente de tantos setores da vida de hoje? Podemos dormir tranquilos enquanto Evangelho do Reino ainda não for o paradigma da nossa sociedade?

 

Pe. Anevair José da Silva
Seminário Maior Diocesano Imaculado Coração de Maria
Foto:Reprodução/Pixabay
Rolar para cima