A pergunta é pertinente e muito atual. No mais profundo do coração humano, no mais palpável da vida cristã, na veracidade da nossa fé, o Amor quer saber se é amado. Não pergunta porque carece de alguma coisa, não está curioso das disposições alheias, não mendiga amores em vão. Aquele que perscruta o mais íntimo do nosso ser, sabe de nos mesmos mais que nós mesmos, pergunta, se faz de desinteressado, distraido das nossas intenções, busca coerência. O Onipotente Criador respeita a liberdade da miserável criatura. Pergunta para confirmar algo que já sabe. Pergunta para renovar o que fora perdido. Pergunta para dar oportunidade de compensar a negação do pecado com a afirmação do amor, com a sinceridade do arrependimento e coerência da conversão.
A banalidade do amor na sociedade atual pode nos levar a uma resposta tão rápida e intrepida como fajuta e superficial. A primeira vista, o “eu te amo” sai de forma involuntária, como resposta a uma saudação, algo sem pensar nas consequências, fruto de uma paixão momentânea, de um romantismo meloso e fantasioso, próprio dos jovens, inconsequentes e voláteis. Mas Jesus, no seu encontro com Pedro, condiciona o amor à demonstração (“…apascenta minhas ovelhas”), não se contenta com palavras vazias, com impulsos imoderados ou empolgação do momento ou fervores ocasionais. O drama da situação impacta Pedro que nas três vezes responde segundo sua limitação própria, cada vez mais consciente da coerência entre “amar” e “apascentar”, entre palavras e ações. A radicalidade do amor exige totalidade do nosso ser, não existe “amor diplomático, é ilógico o “poliamor” que aceita tudo, é mentira o “amor de conveniência”.
A objetividade do amor não se funda na subjetividade volátil dos sentimentos, mas se desenvolve, cresce e se purifica na соеrência das decisões, na robustez da vontade e na clareza da verdade. E amamos nem sempre é porque sentimos, mas porque queremos, como objeto da própria escolha, porque o amor é mais que sentimentos baratos e paixões superficiais, é vontade, fidelidade, respeito, renúncia e coerência. O verdadeiro amor não jura parcialidades, não se conforma com palavras bonitas, não se regozija nos fervores vãos, mas se completa nas atitudes concretas, na vida diária, nos detalhes cotidianos.
A coerência do amor exige que a ação acompanhe a emoção e a emoção esteja de acordo com a razão, o amor exige totalidade e integralidade do nosso ser. A importância da resposta à pergunta não remonta a palavras, mas interpela a realizar um verdadeiro exame de consciência. “Tu me amas?”, mas não vai à missa? “Tu me amas?”, mas não reza? “Tu me amas?”, mas me trata com tanta indiferença? “Tu me amas?”, mas ainda vive uma vida de pecado? “Tu me amas?”, mas não muda de vida? “Tu me amas?”… Realmente, ou amamos a Deus ou o nosso “eu te amo” não passa de su perficialismos baratos e palavras floreadas. Ou amamos a Deus de modo coerente ou nossas palavras de nada valem. O “Tu me amas?” continua ressoando na vida de cada cristão em busca de respostas consequentes, de amor verdadeiro e de entrega total.
Pe. Carlito Bernardes Paróquia Divino Pai Eterno