Alcançados pela misericórdia do Senhor
Temos um grande motivo para dar graças ao Senhor: Ele é bom e sua misericórdia é eterna! A misericórdia do Senhor sempre vem ao encontro dos nossos medos. Por mais sufocado que alguém possa estar em sua angústia, o Senhor sempre virá com uma palavra de ânimo. No Evangelho de hoje, o encorajamento que vem do alto é dado pelas palavras “a paz esteja convosco” (Jo 20, 19). Em tempos difíceis, como estes que estamos vivendo, a nossa maior necessidade é experimentar dessa paz e sermos movidos pelo Espírito Santo, que não apenas em Pentecostes veio em socorro dos homens, mas que a cada dia quer se derramar de novo sobre os homens e mulheres que o pedirem.
Santo Agostinho define a misericórdia como “a compaixão que o nosso coração experimenta pela miséria alheia, que nos leva a socorrê-la, se o pudermos”. Os episódios da paixão, morte e ressurreição de Jesus demonstram a plena misericórdia do Senhor, pois Ele teve compaixão de nós, saiu de si mesmo, veio a este mundo, realizando um rebaixamento inigualável (Kenosis), e, tendo experimentado nossa miséria, se entregou a uma morte ignominiosa, que nos redimiu. Com sua ressurreição faz nossa natureza humana se sentar à direita do Pai, como professamos no Credo, e daí, misericordiosamente, intercede por nós (Cf. Rm 8, 34).
O Papa Francisco, recentemente, nos disse que “quem exerce misericórdia, encontrará misericórdia, será “misericordiado””. Assim sendo, precisamos sair de nossos indiferentismos e amar os irmãos de tal forma que sejamos com eles um só coração e uma só alma, a exemplo dos primeiros cristãos (Cf. At 4, 32), pois é a partir desse amor pelos irmãos que todos reconhecerão que somos discípulos de Jesus (Cf. Jo 13, 35).
Este amor-misericórdia não é sentimento, é atitude: Jesus morreu na cruz, derramando por amor de nós todo o seu sangue; Os primeiros cristãos vendiam as terras ou casas que possuíam e levavam o dinheiro até os apóstolos, que depois distribuíam tudo que chegava até eles conforme a necessidade de cada irmão, para que entre eles ninguém passasse necessidade (Cf. At 4, 34-35); E nós, como temos vivido? Lembremo-nos que ser cristão não é acumular, é partilhar com os que necessitam.
Jesus teve também um ato de misericórdia com Tomé, preso não apenas no medo, mas também na sua incredulidade. O Senhor, aparecendo a ele, disse: “Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mas fiel” (Jo 20, 27). Tomé viu, tocou e acreditou. Acreditou porque o Senhor foi ao seu encontro e porque obedeceu ao Senhor que lhe mandava que o tocasse para que deixasse de lado a incredulidade. Tomé escutou a voz do mestre, e, na obediência, acreditou. A obediência sana as dúvidas de fé que por ventura possam existir em nós. Quando a pessoa obedece, ela enxerga.
Conta-se que, certa vez, um sujeito agnóstico e intelectual de Paris ficou sabendo que no pequeno vilarejo de Ars havia um padre santo, que poderia lhe ajudar em sua falta de fé. Chegando na presença do Pe. João Maria Vianney, o homem parisiense disse ao padre: ‘eu tenho algumas dúvidas de fé’. O padre simplesmente disse: ‘ajoelha e confessa’. O homem protestou umas três vezes, dizendo que de nada resolveria se confessar, porque, afinal de contas, lhe faltava fé. Mas aquele padre santo foi firme, e mais uma vez lhe repetiu: ‘ajoelha e confessa’. Não tendo alternativa, o homem se ajoelhou, se confessou, e, após a
confissão, o padre então, de modo muito paternal, lhe perguntou: ‘então, filho, qual é a tua dúvida?’ Aquele homem, até então incrédulo, surpreendentemente respondeu: ‘padre, já não tenho mais dúvidas’. A dúvida havia desaparecido por causa de sua obediência e porque foi iluminado pelo sacramento da Penitência.
Quem sabe neste domingo da misericórdia a reflexão desta liturgia não te mova também a ir se confessar?! A confissão sacramental é a experiência mais profunda com a misericórdia do Senhor que teremos a oportunidade de vivenciar nesta terra. Se ajoelhe e se confesse, e verás então com quanto amor Jesus te ama.