Diocese de Anápolis

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Homilia na ordenação sacerdotal – 2012

29/09/2012

Homens de fé, a serviço da fé do Povo de Deus

Caríssimos irmãos e irmãs em Cristo,
muito amados diáconos que almejam ser, pelo poder de Deus e da Igreja, servos do Senhor, partícipes do seu sacerdócio eterno.

Vivemos a presente ordenação sacerdotal no clima de emoção e gratidão a Deus que assiste o seu Povo com o serviço de homens de fé e sua generosa entrega. Estamos na véspera de um marcante evento na vida da Igreja: 50 anos da abertura do Concilio Vaticano II, 20 anos do Catecismo da Igreja Católica, início do Ano da Fé, proposto à Igreja como forma de comemorar as datas mencionadas.

É natural, neste contexto espiritual ligar a importância deste momento com o caráter e a missão dos que agora serão ordenados: homens de fé, servos da fé do Povo de Deus?

1. Deus se deixa conhecer ao homem por diversos modos e meios. O interior do homem, por natureza, é morada de Deus. Se o homem saiu do interior de Deus, do seu amor entranhado e da sua obra criadora, se o chamou a existência porque o pensou num insondável desígnio de amor, Ele mesmo está inscrito, qual Pai e Criador, no mais íntimo e profundo âmago da vida de cada homem e mulher.

Na cultura pós-moderna manifestam-se cada vez mais novas e surpreendentes formas de secularismo e ateísmo. O seu desprezo e a sua combatividade são de uma criatividade incomum. No entanto, nesta estranha “necessidade” de combater a Deus, com formas refinadas e virulentas, com implacável perseguição à Igreja e aos seus membros, se manifesta uma angústia e um conflito existencial que, de um lado, quer “matar” Deus dentro de si, e do outro, não consegue se libertar d´Ele, viver sem pensar n´Ele. Se Deus lhe fosse indiferente, se não existisse, se fosse uma quimera ou utopia de alguns exaltados, Ele não suscitaria tanta inquietação. Mas, pelo contrário, esta realidade divina e religiosa continua a inquietá-los e a incomodá-los. Até nas formas de negação e de combate, o homem expressa: não posso viver sem Você. Talvez os autores clássicos chamariam isso como conhecimento de Deus “por viam negationis”. Com certeza.

Isto faz-nos lembrar aquela bem conhecida inquietude de Santo Agostinho de querer viver a sua realidade pessoal em plenitude, encontrar uma felicidade portadora de paz plena. Conhecemos a sua história e conhecemos o seu desfecho: “Tarde te conheci, ó Beleza tão antiga e sempre nova”. Referia-se a Deus e à fé, que lhe deu posse deste Deus, com quem o santo se identificou e exultou de alegria: encontrei, aqui é meu lugar, estou com Ele, Ele está em mim…

2. O homem não consegue viver sem Deus, mesmo que engane a sua voz pela agitação da própria vida. Não é este o lugar de falar das formas de fé e dos seus significados. Mas, o mais importante é, sem dúvida, aquela percepção interior de uma realidade envolvente que dá sentido à vida e projeta para uma dimensão de mistério e de realidade.
A fé, e nós o sabemos, não é fruto da busca humana. É, antes de tudo, um dom gratuito de Deus. O mérito do homem é apenas ser sincero consigo mesmo, abrir a porta do coração e acolhê-la com simplicidade de filho(a). Sentir, na confiança, uma realidade envolvente, que faz tremer e exultar ao mesmo tempo, projetar tudo nesta direção. Não importa por quais caminhos a fé foi despertada em nós. Importa que ela seja vivida como realidade pessoal, muito mais alta que todas as ideias que aprendemos nos livros ou por imitação de pessoas.

3. De outro lado, testemunhamos uma intensidade enorme de fé nas pessoas com expressões eminentes e edificantes. Ontem como hoje.

O Santo Padre Papa Bento XVI, no seu “motu próprio” “Porta fidei” expressa a força operosa da fé: “Pela fé, Maria acolheu a palavra do Anjo e acreditou de que seria Mãe de Deus (…). Pela fé, os Apóstolos deixaram tudo para seguir o Mestre (…). Pela fé, os discípulos formaram a primeira comunidade (…). Pela fé, os mártires deram a sua vida para testemunhar a verdade do Evangelho (…). Pela fé, homens e mulheres consagraram a sua vida a Cristo (…). Pela fé, no decurso dos séculos, homens e mulheres confessaram a beleza de seguir o Senhor Jesus (…). Pela fé, vivemos também nós, reconhecendo o Senhor Jesus vivo e presente na nossa vida e na história”.

Pela fé, assim cremos, os nossos irmãos ordenandos abraçaram o misterioso chamado, depositaram a esperança em Deus e consagraram a sua vida, a exemplo de tantos outros, a serviço de Deus, na Igreja. Diante de nós estão homens de fé, testemunhas de fé, sinais transparentes de fé, homens possuídos por uma convicção e um fascínio. O que eles serão e o que eles farão tem o seu “DNA espiritual” nesse exato ato de crer incondicionalmente em Deus, na sua existência, no seu amor paterno, nos seus mistérios, no valor da vida que agora estão abraçando. Teria sentido esta entrega na forma do serviço sacerdotal, se não fosse pela força da fé?

4. Viver a fé na forma de sacerdócio, além de ser o caminho da santificação e da salvação pessoal, constitui também para eles a missão. Se lhes perguntarmos: qual é a utilidade social da vossa vida, ouviríamos como resposta: sermos servos da fé do Povo de Deus.

5. O Santo Padre, ao proclamar o Ano da Fé, recorre ao testemunho dos discípulos de Jesus e dos Apóstolos, quando de volta de itinerância missionária partilham as maravilhas que Deus operou por eles a favor dos pagãos: “Reuniram a comunidade. Contaram tudo o que Deus fizera por meio deles e como ele havia aberto a porta da fé para os pagãos” (At 14, 27). Temos duas afirmações importantes: “por meio deles”, “abriu-se a porta da fé”.

6. Queridos ordenandos. Há sobre vocês um plano de Deus. Deus, por meio de vocês deseja abrir as portas da fé e vos constituir servos e guardiões desta fé:
– foi a serviço da fé do Povo que Deus vos escolheu e vos constituiu seus ministros e sacerdotes;
– é a serviço da fé do Povo que vocês prontamente acolheram este misterioso chamado que ressoou dentro de vocês;
– é a serviço da fé do Povo que vocês se decidiram a doar a vida toda dedicados a causa do Reino, sem querer olhar para trás;
– será a serviço da fé do Povo que vocês viverão a sua busca de felicidade e de realização pessoal;
– será a serviço da fé do Povo a vossa vivência em santidade e cultivo de espiritualidade;
– será a serviço da fé do Povo o vosso testemunho e transparência de vida segundo o Evangelho;
– será é a serviço da fé do Povo todo o cansaço proveniente do ministério, todo sofrimento, toda superação das crises e das tentações, todas as humilhações e decepções;
– será a serviço da fé do Povo a vossa obediência e prontidão em juntar-se aos projetos de evangelização que a Igreja vos pedirá;
– será a serviço da fé do Povo o vosso senso de sacerdócio missionário, onde e na forma que a Igreja precisar;
– será a serviço da fé do Povo o vosso senso de apostolado coletivo, renunciando aos individualismos, incômodos e destruidores;
– será a serviço da fé do Povo que vocês viverão a própria fé;
– será a serviço da fé do Povo o vosso último respiro de vida marcada pela doação e fidelidade.

6. Queridos ordenandos, tudo isto eu desejo a vocês e rezo por isso. Vocês demonstram a maturidade humana e espiritual pela idade que tem, pela formação que receberam, pelo desejo de serem realmente sacerdotes. Sejam corajosos, perseverem, formem a comunidade sacerdotal com o presbitério da Diocese e com o bispo.

7. Maria Santíssima, que pela fé confiou em Deus e se tornou Mãe e Corredentora do Povo redimido, cubra-vos com seu manto materno, seja fonte de força, coragem e inspiração, mão invisível a conduzir pelos escuros caminhos das noites que virão, vos conduza ao dia sem fim em que ouvirão do Senhor da história: “Vinde, benditos do meu Pai!

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

 Dom João Wilk, OFMConv.
Bispo de Anápolis – GO

 

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