Diocese de Anápolis

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Padre Carlito Júnior comenta a liturgia do 7º domingo do tempo comum

O absurdo do amor

Longe das palavras bonitas e poéticas, românticas e melosas, o amor se insere dentro de uma realidade extrema e exigente. Em Cristo vemos o extremo do amor que não se conformando com a encarnação se entregou completamente e inteiramente na cruz para a salvação humana. Sua doutrina, seus ensinamentos manifestam uma verdadeira coerência segundo esse extremismo amoroso, nos ensina um amor que vai além dos romantismos poéticos, um amor que se baseia na cruz, na renúncia das escolhas, nas consequências das atitudes, nas exigências da coerência. A vivência do amor cristão nos leva à vivência de um verdadeiro extremismo a ponto de se tornar um absurdo aos olhos humanos, o absurdo do amor que foge do humano e toca no divino.

É natural amar a nossa família, é lógico amar nossos amigos, é acessível amar nosso próximo, é fácil amar quem não conhecemos ou encontramos uma vez na vida, mas amar os nossos inimigos, isso é completamente absurdo, incompreensível e desumano. Uma prática que somente se entende dentro dos imperativos categóricos: “Sede santos como Deus é santo…” (1ª leitura), “Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito” (Evangelho). Somos chamados a viver uma doutrina desumana, a inserir-nos dentro de uma ética divina, a enxertar-nos numa moral elevada e sublime; uma realidade decorrente do nosso batismo onde somos elevados à dignidade divina e nos tornamos em Cristo filhos de Deus e nos transformamos em “santuário de Deus… pois o Espírito de Deus mora em nós…” (2ª leitura). Pelo batismo somos mais que humanos, somos divinos, nos divinizamos pela presença do Espírito Santo e somos convidados e interpelados a viver a ética divina por meio do absurdo do amor, amando até os nossos inimigos. A prática do amor dilata o coração humano e nos torna capazes de sermos generosos, humildes e magnânimos. Amar nossos inimigos não significa esquecer as ofensas, mas é saber deixar o passado no passado e mesmo lembrando da ofensa saber não revidar e buscar vingança; é não julgar os inimigos pelo mal que cometeram, mas acreditar no melhor das pessoas, desculpar, revidar o mal com o bem; amar os inimigos não significa sermos os melhores amigos daqueles que nos ofenderam, mas significa não fecharmos as portas para um futuro relacionamento, as pessoas mudam, aprendem com os erros, crescem. O amor cristão acredita no melhor de cada pessoa tanto de quem ofende como de quem é ofendido. É na grandeza de coração, na humildade das ações, na esperança da conversão que se manifesta nosso absurdo amor aos inimigos.

“Ser santo como Deus…”, “ser perfeito como Deus…” uma exigência desumana imposta para todos aqueles que são mais que humanos pelo batismo. É no amor aos inimigos que se demonstra nossa verdadeira natureza de filhos de Deus, expressa a grandeza do nosso coração cristão, a humildade de criaturas e a generosidade de irmãos. O absurdo do amor aos inimigos é expressão de uma realidade que está além do humano, uma realidade sobrenatural, mas tão real e possível como intenso e verdadeiro.

 

Pe. Carlito Bernardes Júnior
Capelania Universitária Santa Clara
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