Os ramos
É interessante observar que ao iniciar a semana santa a liturgia nos remonta a cena da entrada triunfante de Jesus, imaginamos o alvoroço da multidão que gritava com ardor ao Filho de Davi, contemplamos a serenidade de Jesus Cristo que mesmo diante de todas as honrarias não se vangloriou ou aproveitou da situação para se promover. E em memória daquele dia, pegamos nossos ramos e proclamamos a nossa fé no Filho de Davi, com alegria alçamos e cantamos com a convicção de que realmente é Deus no meio de nós. Entretanto a liturgia toma um tom diferente com o relato da paixão e sentimos que a alegria do alvoroço é abafada pela seriedade do sacrifício, duas realidades encaixadas com total perfeição e coerência dentro da celebração.
Contudo chama a atenção que a Igreja recomenda liturgicamente o uso de ramos de oliveiras ou de palmeiras para expressar a alegria da presença de Deus. Ora, para nossa realidade, palmeiras e oliveiras fogem um pouco das hortaliças ou plantas que possamos encontrar em nosso quintal. Por que não poderia ser uma roseira com suas belas rosas, ou o hibisco, ou ramos de mangueira ou goiabeira, mas por que ramos de palmeiras ou oliveiras? Talvez porque eram as plantas mais comuns naquela época e região de Jerusalém, entretanto vamos nos adentrar a uma resposta mais profunda: tanto as palmeiras como as oliveiras independentemente do clima, se faz sol ou chuva, elas sempre estão verdes, porque suas raízes são profundas e não se deixam abalar por agentes externos, sua força vem das raízes profundas. Desta forma e com esta consideração, a celebração de hoje vai além de apenas levantar ramos, cantar e gritar “viva Jesus”, se torna um completo aprendizado de como deve ser nossa vida: enraizada em Jesus Cristo. Quando nossas convicções religiosas se fundam no mais profundo em Jesus Cristo, não nos deixaremos abater pelos ventos contrários, ficaremos firmes e fixos, porque nossas raízes são profundas, não nos abatemos pelas tempestades, não nos movemos pelas críticas, mas somos fortalecidos porque nossas raízes estão fundadas em Jesus. A semana santa é tempo oportuno para enraizar nossa vida em Jesus por meio da nossa oração, celebração, jejum e penitência.
Iniciamos a semana santa com a alegria da redenção, mas com a seriedade do sacrifício, como os ramos de oliveira e das palmeiras estão sempre verdes, estaremos sempre alegres e serenos porque temos a certeza de que a morte não tem vez e se grande foi o sofrimento, maior será a redenção. Sabemos o desfecho final dessa história, mas queremos não apenas relembrar, queremos viver, sentir, nos identificar com Jesus Cristo por meio do nosso jejum, da nossa penitência e da nossa oração. Somente quem vive plenamente a semana santa, saberá o que é viver a Páscoa. Se gritamos “viva Jesus” com nossas vozes, cessem as palavras e deixem que as ações manifestem nossa fé, devoção e amor a Jesus.