“Na alegria e na tristeza.”
É interessante observar que ao iniciar a Semana Santa a liturgia nos remonta à cena da entrada triunfante de Jesus, imaginamos o alvoroço da multidão que gritava com ardor ao Filho de Davi, contemplamos a serenidade de Jesus Cristo que mesmo diante de todas as honrarias não se vangloriou ou aproveitou da situação para se promover. E em memória daquele dia, pegamos nossos ramos e proclamamos a nossa fé no Filho de Davi, com alegria alçamos e cantamos com a convicção de que realmente é Deus no meio de nós.
Entretanto a liturgia toma um tom diferente com o relato da Paixão e sentimos que a alegria do alvoroço é abafada pela seriedade do sacrifício, duas realidades encaixadas com total perfeição e coerência dentro da celebração. A proclamação da realeza de Jesus é calada pelos gritos de crucifixão, a euforia da festa dá lugar ao silêncio da oblação e se antes a fé em Cristo era proclamada na gritaria dos ramos, agora deve ser vivida no silêncio da presença. Muitos seguiam a Jesus no fervor dos milagres, nos maravilhosos discursos, na mirabolante multiplicação dos pães, mas fogem diante da perseguição, se desesperam no sofrimento, se assustam com a cruz. Querem um Cristo de honras e glórias, um Jesus Filho de Davi, mas não um Cristo crucificado e escarnecido pelos soldados.
E até hoje Jesus é buscado por muitos pelos milagres e facilidades, é confessado por muitos cristãos na prosperidade e nas conquistas, mas é odiado, desprezado e abandonado na dor e no sofrimento. Não compreendem que a alegria do seguimento a Jesus é apenas uma dimensão de uma entrega total e integral que culmina na cruz. Se é verdade que o ouro é provado no fogo, também é realidade que o cristão de verdade é purificado na dor e no sofrimento da cruz. E se gritamos “Hosana ao Filho de Davi” com nossos ramos neste Domingo de Ramos, devemos também acompanhá-Lo no silêncio da contemplação neste percurso sagrado que resume o centro da nossa salvação e a expressão mais concreta do amor de Deus a nós.
Iniciamos a Semana Santa com a alegria da redenção, mas com a seriedade do sacrifício, como os ramos de oliveira e das palmeiras estão sempre verdes, estaremos sempre alegres e serenos porque temos a certeza de que a morte não tem vez e se grande foi o sofrimento, maior será a redenção. Sabemos o desfecho final dessa história, mas queremos não apenas relembrar, queremos viver, sentir, nos identificar com Jesus Cristo por meio do nosso jejum, da nossa penitência e da nossa oração. Somente quem vive plenamente a Semana Santa, saberá o que é viver a Páscoa. Se gritamos “viva Jesus” com nossas vozes, cessem as palavras e deixem que as ações manifestem nossa fé, devoção e amor a Jesus vivendo piedosamente as celebrações litúrgicas que se precedem.
Pe. Carlito Bernardes Júnior Paróquia Nossa Senhora da Penha de França - Corumbá-GO