Diocese de Anápolis

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3° Domingo da Quaresma: “Dependendo de quem fez o chicote, vale a pena levar a surra!”

Vimos Jesus com um comportamento um tanto diferente, no evangelho de hoje, ao expulsar os vendilhões do templo. Para entendermos bem o contexto, é preciso saber que, quando as pessoas iam a Jerusalém para fazerem seus sacrifícios, deviam comprar lá mesmo os animais que iam oferecer. Contudo, a moeda que possuíam era do império romano, que continha a efígie, o rosto do imperador que, naquele tempo, devia ser não somente respeitado como governante, mas idolatrado como um Deus! Por essa razão, o dinheiro era considerado impuro para o culto. Daí é que vem a presença dos cambistas para fazerem o câmbio dessas moedas por aquelas oficiais do templo, moedas puras.

Todo esse ritual fazia parte dos atos religiosos daquele tempo, era um culto válido. O que Jesus condena, porém, é o lucro desonesto que acabava acontecendo, a mudança da finalidade de se estar numa casa de oração, o impor “pedágio para falar com Deus” e receber sua graça. Apesar do zelo de Jesus com a casa do Pai, a morada com qual ele mais se preocupa somos nós. “Acaso não sabeis que vosso corpo é santuário do Espírito e que não vos pertenceis a vós mesmos? Fostes comprados por alto preço” (1Cor 6, 19-20).

Nós somos de Deus! E ele é ciumento. Muitas vezes, nos tornamos cambistas de nós mesmos. Vivemos negociando e barganhando com o pecado, tentando achar a “medida ideal”, o “acordo perfeito” entre ser de Deus sem deixar de ser do mundo. Mesmo valendo o Sangue de Deus na Cruz, acabamos nos vendendo por um preço tão inferior ou nenhum para tantas situações e relacionamentos.

A atitude que Jesus toma hoje é radical, mas não irracional. Fossem aquelas chicotadas, fosse a afeição com a qual tratava os pecadores, elas vinham da mesma fonte. “Suavidade e severidade são expressões do mesmo amor que sabe ser, segundo a necessidade, terno e exigente” (João Paulo Il). Sabemos que o trabalho manual acalma. O Evangelho nos diz que Jesus “fez” um chicote de cordas, não que já pegou um pronto. Imaginemos o Mestre sentado, entre-laçando os fios com toda a tranquilidade, sabendo exatamente como iria agir. Não se deixou levar pelas emoções. Jesus estava, como dizem por aí, “pleníssimo”.

Isso mostra que a nossa conversão não vem somente de um momento de sentimentos intensos num encontro de fim de semana, mas que se concretiza no dia a dia, quando meditamos a Palavra de Deus e permitimos o confronto dela com a nossa vida. Quaresma é tempo de fazer chicotes junto com Jesus e ajudá-lo a expulsar de nós o comércio com o pecado. Afinal, só se vende por qualquer preço quem não sabe o valor que tem.

Pe. João Paulo Cardoso
Roma - Itália
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