Diocese de Anápolis

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Serviço como estilo de vida – Ordenação Diaconal 2007

Amados irmãos e irmãs em Cristo,

Estamos contentes por ordenar nove diáconos para a nossa Igreja Diocesana de Anápolis. É um momento eclesial de grande importância, seja pelo número dos ordenandos, seja pela afirmação da dimensão da Igreja como comunidade viva e em desenvolvimento.

Consideremos, em primeiro lugar, o diaconato na sua natureza e significado. Este momento nos faz pensar no dinamismo da Igreja dos primeiros tempos, quando, diante do crescimento das atividades, os próprios Apóstolos tomaram a iniciativa de escolher e constituir os ajudantes nas tarefas que julgavam indispensáveis para a vida da Igreja, mas não tipicamente próprias dos Apóstolos. Escolheram, então, depois de invocar o Espírito Santo, sete homens provados na fé e na virtude para o serviço “das mesas”, ou seja, serviço da caridade.

Assim, os diáconos são colaboradores dos Bispos e dos Presbíteros no serviço da Palavra, do altar e da caridade. Nas assembleias litúrgicas proclamam o Evangelho, preparam o Sacrifício, repartem entre os fiéis o Pão Eucarístico. Ensinam a doutrina e exortam os fiéis pela pregação. Administram o Batismo, abençoam os Matrimônios, levam aos agonizantes o Viático, oficiam as Exéquias.

Embora, na prática, estejam ligados prevalentemente ao serviço do altar, a essência do diaconato está em atitude e em exercício da caridade, do serviço aos necessitados, sendo ministros do bem, da partilha, da solidariedade.

O diaconato constitui o primeiro grau do Sacramento da Ordem (não é ainda sacerdócio, mas serviço). Significa a entrada dos escolhidos ao estado clerical, com seus benefícios e obrigações espirituais e jurídicas. A espiritualidade deles não é mais só deles, é da Igreja. A vida deles não é mais uma vida pessoal, mas uma vida da Igreja. O testemunho deles não é mais um testemunho puramente pessoal, mas da Igreja. A santidade deles não é mais uma santidade pessoal, mas uma santidade da Igreja. O pecado deles, não será mais um pecado deles, mas da Igreja. O tempo deles não será mais um tempo pessoal, mas o tempo da Igreja. O serviço deles não será mais um serviço pessoal, mas um serviço da Igreja. Entrando no estado clerical, adquirem uma nova dimensão que se soma às atuais qualidades pessoais: serão homens públicos, homens da Igreja. Conservarão a própria liberdade, mas serão propriedade de Deus e da Igreja, pois livremente se dedicaram ao serviço de Deus, na Igreja.

Neste sentido, terão uma das principais tarefas o serviço a favor de toda a Igreja. Terão como tarefa a oração oficial da Igreja, ou seja, Liturgia das Horas; nas determinadas horas do dia consagrarão o tempo a Deus como Igreja orante. Esta forma de oração típica e oficial da Igreja será também a fonte principal e privilegiada da sua espiritualidade pessoal.

Com a Ordenação diaconal eles são juridicamente incardinados na Diocese de Anápolis, ou seja, inseridos no corpo do clero da Diocese; adquirem direitos e obrigações em relação à vida e ao apostolado de toda a Diocese. Adquirem laços de família em relação ao Bispo, aos Sacerdotes e aos Diáconos.

Além destas considerações de caráter formal, pergunta-mo-nos: o que significa hoje ser um diácono? O que o momento presente da Igreja e do mundo exige daqueles que escolhem o serviço como forma de vida?

Em primeiro lugar, cada pessoa que se consagra a Deus deve escolher o estilo de vida à imitação do Senhor Jesus, que de forma clara e explícita disse que não veio para ser servido, mas para servir. Na Última Ceia, no gesto do lava-pés, ensinou como queria que os “seus” fossem no mundo: aqueles que servem, não aqueles que dominam. A atitude de serviço é, pois, para o discípulo de Cristo a expressão do amor e do seguimento. Ser servo é uma filosofia de vida, mais do que cumprir ordens ou executar tarefas.

Quero ligar a nossa reflexão com a recente encíclica do Papa Bento XVI sobre a esperança. Bonita na forma e rica em conteúdo, aponta para uma problemática atual e desafiadora. O Santo Padre percebe a perda da visão de Deus no horizonte da humanidade, especialmente ocidental, outrora considerada “cristandade”. O ser humano perdeu a perspectiva espiritual, sobrenatural do horizonte e do sentido da vida. Há uma urgência de enfrentar este desafio, que é igualmente do Papa e de todos nós. Falar de esperança torna-se remédio para a mais profunda carência da humanidade, que experimenta a grande sede de sentido, mas se recusa de identificá-lo com a verdade divina.

O serviço que a Igreja há de prestar à humanidade é, antes de tudo, anunciar e ser sinal de uma dimensão sobrenatural da vida de cada ser humano. Evangelizar, hoje, é anunciar e testemunhar o sentido da vida a partir de Jesus Cristo e a partir da visão da vida eterna.

Outra área em que é necessário tornar-se servo de Deus e da Igreja é na edificação da unidade e do espírito de comunhão na Igreja. É impossível ser Igreja, sem o espírito de comunhão. É impossível cumprir a vontade de Deus, conduzindo-se pela vontade própria. A união de Jesus Cristo com o seu Pai foi a fonte da sua obediência ao Plano da Salvação, expressa fortemente em tantos momentos da vida de Jesus como Messias – Salvador. Não há obediência sem o autêntico espírito de comunhão. Não há comunhão verdadeira, sem sentir juntos os mesmos sentimentos, preocupações, sem assumir os mesmos planos. Não há comunhão sem a efetiva sintonia com o Papa e com o Bispo.

Quero apontar a vossa atenção a uma outra dimensão da vida da nossa Igreja. Os jovens que serão ordenados diáconos agora são fruto de uma caminhada missionária da nossa Igreja que está presente nestas terras há muitos anos. A história eclesiástica no Goiás é cheia de testemunhos de generosos missionários, lúcidos pastores, de personagens que abrilhantaram a vida eclesiástica e civil desta região. As rápidas transformações da região são acompanhadas igualmente pelas promissoras transformações no rosto da Igreja: aumenta o número de fiéis praticantes, as comunidades aumentam visivelmente em número de participantes, aumenta o número de pessoas consagradas e de vocações sacerdotais. Sobre a responsabilidade destes jovens diáconos, que em instantes serão sacerdotes, pesa uma tarefa de corresponder positivamente aos novos desafios que a conjuntura atual apresenta. Entre estes desafios enumero a manutenção da fé nos que hoje formam as nossas comunidades, alcançar os afastados que estão perdendo o senso de serem católicos, evangelizar o universo enorme de crianças e jovens não atingidos ainda pela catequese ou pela educação cristã, marcar a presença nos vastos bairros das cidades que estão em expansão demográfica, assistir as comunidades rurais sem a Eucaristia e sem a Palavra de Deus, jovens universitários que se formam alheios à visão cristã da vida e da sociedade. Tenha-se presente como desafio o fato de que o Goiás, e Anápolis também, estão entre as regiões com o maior número de seitas e grupos religiosos de caráter protestante e pentecostal.

São apenas alguns dos desafios que cobram de nós uma resposta missionária adequada e rápida. Cobram de nós um estilo de vida e de apostolado sensível a estas necessidades. Precisamos de diáconos e de sacerdotes com olhos abertos, corações sensíveis, com mentes criativas, desejosos de se doar sem reservas, capazes de fazer renúncias, prontos para o sacrifício, capazes de trabalhar juntos e olhar para a mesma direção.

Queridos diáconos, o Cristo que vos escolheu e vos cativou é generoso, mas exigente. Àqueles que deixaram tudo por Ele, promete o cêntuplo! Mas a generosidade da recompensa pressupõe a generosidade e determinação da doação: “Quem põe a mão no arado e olha para trás, não está apto para o Reino de Deus” (Lc 9, 62).

Termino com as palavras animadoras do rito da Ordenação: “Não vos deixeis abalar em vossa confiança no Evangelho, do qual sois não somente ouvintes, mas servidores… Desta forma, também vós, no último dia, podereis ir ao encontro do Senhor e ouvir dele estas palavras: ‘Servo bom e fiel, entra na alegria do teu Senhor!’”.

Solenidade da Imaculada Conceição, 08 de dezembro de 2007.

Dom João Wilk, OFMConv.
Bispo de Anápolis

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