Na tarde desta quinta-feira, 20, realizou-se nas mediações da Praça Bom Jesus, em Anápolis, a celebração campal da Solenidade de Corpus Christi. A Santa Missa foi celebrada pelo bispo diocesano, Dom João Wilk, e contou com a presença dos párocos da cidade de Anápolis, Religiosos(as) e leigos(as) de toda a cidade. Cerca de 10 mil pessoas estiveram no local para a celebração festa do Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo.
A homilia ficou a cargo do pároco da Catedral, Padre Rogério Moraes, que ressaltou que a “Eucaristiaé é o sacrifício do Cordeiro, verdadeira comida e verdadeira bebida. Jesus nos dá o alimento do céu”. Dentre outras coisas o sacerdote lembrou aos presentes que “quem faz da Eucaristia o centro da sua vida, terá Deus em todo tempo”.
Confira a homilia abaixo
A PROCISSÃO EUCARÍSTICA
Caros irmãos e irmãs:
Há quase cinquenta anos, nessa cidade de Anápolis, as ruas, de todas as direções, norte e sul, leste e oeste, testemunham várias procissões com o Corpo de Cristo, a Hóstia Consagrada, debaixo do pálio litúrgico, com velas e incenso, carregada pelos sacerdotes e diáconos, ministros ordinários da comunhão eucarística, acompanhada por uma grande multidão. Gerações e gerações já fizeram isso. As paróquias dessa cidade fazem suas procissões com um único destino: unirem-se para celebrar a Eucaristia, o Sacramento da Unidade. A Sagrada Liturgia nos privilegia com uma procissão, que poderíamos fazer em volta das nossas paróquias. Mas esse modelo de procissão que seguimos hoje é para fazermos unidade. A Eucaristia faz a unidade da Igreja. É para rezarmos juntos a Eucaristia. Por isso, nós nos chamamos Católicos: Uma só Igreja, uma só Fé, um só Sacramento, um só Povo de Deus. Quem não procura a unidade da Igreja da Católica, não é Igreja.
Embora o costume seja a procissão após a Santa Missa, a Liturgia permite fazê-la antes da celebração eucarística. Na procissão “o povo cristão, acompanhando a Eucaristia através das ruas em rito solene, com canto e orações, dá público testemunho de fé e piedade para com este sacramento” (Cerimonial dos Bispos n. 386). Quando saímos às ruas é a maneira de manifestar publicamente a nossa fé na Sagrada Eucaristia. A procissão lembra a caminhada do povo de Deus, que é peregrino, em busca da terra prometida, fazendo uma só comunidade.
Povo Santo de Deus, o caminho da procissão não é fácil. Tinha subidas e descidas, obstáculos e desvios, sol e sombra. Têm uns que entraram na procissão no meio do caminho, outros saírem no meio do caminho. Têm alguns que olharam a procissão e não entraram. Têm alguns que viram a procissão e se lembraram de Deus. Outros que desprezaram. Alguns “furaram” a procissão, outros dobraram seus joelhos. Mas a procissão chegou ao seu destino: praça Bom Jesus, centro da cidade de Anápolis. Alguns perguntaram: o que é isso? Uma passeata? Uma caminhada? Uma manifestação? Uma marcha? Uma comitiva? Uma corte imperial? Um cortejo do estado? E outros responderam. É uma procissão, a procissão mais importante do ano, a procissão da Igreja Católica, a procissão de Corpus Christi. Ela é uma procissão, porque quem está nela é o Senhor Jesus Cristo, Deus e todo-poderoso em palavras e obras, o Senhor do Céu e da Terra.
Teve seus obstáculos, cansaço, sacrifício. Mas Jesus estava presente. O Santíssimo estava presente. A Eucaristia estava a frente. Com Cristo se vence tudo. Cristo vive, Cristo reina, Cristo impera. Ele passa pelas ruas para abençoar essa cidade, para abençoar as pessoas. Aqui não é simplesmente o centro da cidade. Aqui é centro da Igreja. Aqui é o centro da Fé. Porque quem está no centro é Jesus Cristo Eucarístico. Nessa Igreja da Catedral do Senhor Bom Jesus da Lapa mora Deus. E Deus habita essa cidade, e reside no centro e nos bairros, em todas as igrejas católicas. Nessa procissão, quem veio em primeiro foi Jesus Cristo Eucarístico. A Liturgia de hoje é chamada de Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo e também como é mais conhecida pelas palavras latinas: “Corpus Christi”. É a celebração em que solenemente a Igreja comemora a instituição do Santíssimo Sacramento da Eucaristia. Os fiéis agradecem e louvam a Deus pelo inestimável dom da Eucaristia, na qual o próprio Senhor se faz presente como alimento e remédio de nossa alma.
No Livro de Gênesis (Gn 14,18-20), que ouvimos na Liturgia da Palavra nessa noite, nos leva a refletir na preparação e realização da Eucaristia. Escutamos sobre Melquisedec, rei de Salém, um sacerdote do Deus Altíssimo, que só o encontramos nessa passagem com Abraão. Ele trouxe, para oferecer em ação de graças por Abraão, pão e vinho. Quando Jesus instituiu a Eucaristia, ele usou como matéria pão e vinho, para ser seu Corpo e Sangue e tornar-se Sinal da Eucaristia. Para celebrar a Eucaristia é preciso preparar o pão e o vinho que serão consagrados para a nossa comunhão. Isso acontece porque Jesus é o Sumo e Eterno Sacerdote. É o sacerdócio dele que faz o milagre. Por isso para celebrar a Eucaristia é preciso do sacerdote. Nós celebramos a Eucaristia pelo sacerdócio do Bispo. Ele tem a plenitude do sacerdócio para ser o próprio Cristo e nos dar o pão que vem do céu. Os sacerdotes participam do sacerdócio do Bispo para realizar as missas nas paróquias.
Como isso pode acontecer? Caríssimos, na carta de São Paulo aos Coríntios, conta aquilo que lhe foi revelado sobre a instituição da Eucaristia. Apresenta Cristo Sacerdote no ato de instituir a Eucaristia, Sacrifício do Novo Testamento. A narração é a transmitida pelo Apóstolo conforme a tradição e o que ele mesmo “recebeu do Senhor” (1Cor 11,23). Como Melquisedec, Jesus oferece “pão e vinho”, mas suas palavras realizam o grande milagre: “Isto é o meu Corpo que é dado por vós… Este cálice é a Nova Aliança no meu Sangue” (1Cor 11,24-25). Não mais pão, e, sim, o verdadeiro Corpo de Cristo; não mais vinho, e, sim, o verdadeiro Sangue.
Contudo, a Eucaristia é o sacrifício do Cordeiro, verdadeira comida e verdadeira bebida. Jesus nos dá o alimento do céu. No Evangelho de Lucas (Lc 9,11-17) fala da multiplicação dos pães. Mas essa passagem mostra Jesus fazendo os gestos da ceia eucarística. Ele dá o alimento àquela multidão, e dá o alimento que é a Eucaristia para todos nós. Ele diz aos apóstolos: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Lc 9,13). É reverência para a realidade da Eucaristia, como banquete em que estamos à mesa: é o argumento do Evangelho do dia sob a transparente figura da multiplicação dos pães. Jesus toma os pães, ergue os olhos ao céu, benze-os, parte-os e os distribui, gestos estes que repetirá no cenáculo quando transubstanciar o pão em seu Corpo, e gestos que repetirá aqui na nossa frente nessa celebração eucarística. Nessa Santa e Divina Liturgia, veremos Cristo tomar o pão, erguer os olhos, benzer, partir e distribuir. Essa distribuição é outro gesto particular que nos chama a atenção: multiplicam-se os pães nas mãos de Jesus Cristo, e delas passam às dos discípulos, que os distribuem à multidão. Igualmente será sempre ele que fará o milagre eucarístico. Mas se servirá dos sacerdotes que serão os ministros e tesoureiros da Eucaristia para dar a todos nós.
Povo de Deus, assembleia santa, povo sacerdotal, jamais proclamaremos suficientemente a nossa gratidão pela maneira espantosa com que Cristo perpetua em todos os tempos e lugares, em favor de todos os homens o seu sacrifício redentor (Lc 22,19-20), A EUCARISTIA, com que Ele se torna concretamente o Pão vivo que desceu do céu (Jo 6,51), a Carne e o Sangue que nos dão a vida eterna (Jo 6,53-58) e garantem a sua Presença no meio de nós, até a consumação dos séculos (Mt 28,20 e Jo 6,56).
Terminada essa celebração eucarística, alimentados com o Pão que vem do céu, vamos voltar para nossas casas. Não em procissão, porque agora Jesus não vai à frente de nós. Não. Ele vai dentro de nós, após recebê-lo na Comunhão. Lembre-se disso: ele vai dentro de nós. Quem faz da Eucaristia o centro da sua vida, terá Deus em todo tempo. Que o Bom Jesus esteja a nos acompanhar e a que a Santíssima Virgem Maria, a nos guardar.
Pe. Rogério Moraes
Pároco da Catedral