O episódio das bodas de Caná completa uma trilogia de epifanias. Nos dois últimos domingos nós celebramos a Epifania do Senhor (manifestação de Jesus aos magos) e a Festa do Batismo (sua manifestação para o povo de Israel). Nas bodas de Caná também temos uma nova epifania, afirmamos isso através da forma como se conclui o Evangelho de hoje: “Foi este o início dos sinais que Jesus fez, em Caná da Galileia. Manifestou a sua glória, e seus discípulos creram nele” (Jo 2,11).
Jesus, através do seu primeiro milagre, manifesta o seu amor esponsal pela humanidade, pois Ele é o esposo messiânico que veio estabelecer com a humanidade uma nova e eterna Aliança. Jesus cumpre aquilo que a primeira leitura nos diz: “Não mais te chamarão ‘abandonada referindo-se ao povo de Israel e tua terra não mais será chamada ‘deserta’. Teu nome será ‘minha predileta’ e tua terra será a bem-casada, pois o Senhor agradou-se de ti e tua terra será desposada. Assim como o jovem desposa a donzela, assim teus filhos te desposam. E como a noiva é a alegria do noivo, assim também tu serás a alegria do teu Deus” (Is 62, 4- 5). Para exprimir o amor forte e terno, zeloso e misericordioso de Deus para com o povo, os profetas não encontraram uma imagem mais significativa do que a do amor esponsal.
Jesus se une à humanidade pelo mistério da encarnação. Eis porque várias vezes, ao falar do Reino dos Céus, Jesus se refere a um convite a participar das núpcias. São as suas núpcias com a humanidade, celebradas na encarnação e consumadas na Cruz. As bodas de Caná nos falam do amor abundante de Cristo pela Igreja, simbolizado na grande quantidade de água transformada em vinho. O vinho também é uma alusão à consumação desse amor esponsal através do derramamento de todo o seu Sangue na Cruz.
As bodas de Caná revelam o significado do sacramento do matrimônio, pois todo o matrimônio cristão é um sinal do amor esponsal de Cristo pela sua Igreja. É por isso que São Paulo na carta aos Efésios afirma: “maridos, amai vossas esposas como Cristo amou a Igreja e se entregou por Ela” (Ef 5,25) e acrescenta: “por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e os dois serão uma só carne. Este mistério é grande eu digo isto com referência a Cristo e à Igreja” (Ef 531-32). O fato de Jesus estar na festa de casamento é uma confirmação de que o casamento é uma realidade boa e o anúncio de que, daí em diante, será um sinal eficaz (sacramento) da presença de Cristo, significa e comunica a graça (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1613 e 1617).
Que a Eucaristia, que é o sacramento da nova e eterna Aliança, ajude a todos os esposos cristãos a renovar também a sua aliança de amor para caminharem juntos para as definitivas núpcias do Cordeiro, no céu (cf. Ap 19, 7.9).
Pe. Anevair José da Silva Reitor do Seminário Maior Diocesano Imaculado Coração de Maria Imagem: Reprodução/Ruah