Na manhã desta Quinta-feira Santa (28), na Catedral do Senhor Bom Jesus da Lapa, em Anápolis, foi realizada a Santa Missa do Crisma, presidida por Dom João Wilk, onde os santos óleos foram abençoados para os sacramentos da Crisma, Batismo e Unção dos Enfermos e serão utilizados em toda a diocese ao longo do ano. Com a presença calorosa de quase todos os membros do clero, religiosos e religiosas, fiéis e nosso bispo auxiliar Dom Dilmo Franco, foi celebrada na ocasião, não apenas a instituição do sacerdócio, mas também a renovação das promessas sacerdotais pelos nossos padres. Confira a seguir a homilia proferida pelo bispo diocesano:
Caríssimos Irmãos Sacerdotes e Diáconos,
Querido Povo de Deus.
Com muita alegria e gratidão a Deus celebramos esta Missa dos Santos Óleos. É uma oportunidade para darmos graças a Deus pelo dom do Sacerdócio e da Eucaristia. Voltamo-nos, especialmente, aos sacerdotes da nossa Diocese, também com gratidão e alegria, por aquilo que eles são e fazem na Vinha do Senhor. Estão entre eles sacerdotes muito jovens, de média idade e os mais maduros. Todos no mesmo caminho de doação da vida para a glória de Deus, para o bem da Igreja e da salvação das almas.
É o momento, também, de lembrar todo o caminho sacerdotal, seus altos e baixos, virtudes e fraquezas e, a partir daí, suscitar um novo fervor de “usque ad finem” – até o fim.
A cada ano buscamos algum tema da nossa vivência e espiritualidade que possa nos ajudar nos nossos propósitos.
Poucos dias atrás, perguntei a um jovem senhor o que poderia dizer de edificante para os nossos sacerdotes e útil para o povo de Deus. Ele, depois de pensar alguns momentos, disse: fale sobre a presença. E é disto que eu quero falar…
A presença é algo que podemos dar e desejar. É bom sentir a presença de alguém. É bom oferecer a presença para alguém. Dá alegria, paz, sentido de ser alguém. As pessoas que passam seus últimos dias numa casa de acolhimento muitas vezes sentem-se “ninguém” e sofrem quando nem filha nem filho não os visita. Ao contrário, recuperam o seu valor, sua dignidade, quando alguém os vem visitar. Hoje, na época de celular, percebemos grupos de jovens e adolescentes que não conversam, mas estão juntos, partilham vídeos, filmes, notícias ou piadas e quase não falam nada. Criticamos este fenômeno. Mas, dentro deles circula o sangue de presença, não estão sozinhos. A solidão é um sentimento horrível. Gela a alma e o coração.
- Presença ao lado de Cristo.
É um tema bem conhecido, tantas vezes tratado, base da nossa espiritualidade e razão da nossa consagração. Tantas vezes vemos pessoas ajoelhadas ou sentadas na frente do sacrário, na atitude de adoração. Tantos santos experimentaram isso; se perguntarmos, responderiam: eu olho para Ele, Ele olha para mim”.
Cardeal Dom João Braz de Aviz, anos atrás, num retiro do clero deus o seguinte exemplo. O bispo foi visitar um padre. Perguntou onde pode achar o padre. Disseram que na igreja. Foi na igreja, na sacristia e não encontrou o padre. Foi na capela do Santíssimo e, consternado. Viu o padre dormindo no banco, na frente do Sacrário. Acordou-o e, em tom de bronca, disse: como você pode dormir na presença de Jesus? É profanação. O padre, com toda simplicidade, respondeu: Sr. Bispo, os cachorrinhos dormem aos pés dos donos. Não é que precisamos imitar o padre, mas a simples presença pervade a alma…
Jesus gostava de momentos de solidão e de silêncio. No entanto, sentia um forte desejo de presença. São Marcos (14,32-42) nos conta o episódio de Getsêmani, horas antes da paixão. Pediu que os Apóstolos ficassem com ele: “Sinto uma tristeza mortal! Ficai aqui e vigiai!” Por Três vezes foi ao encontro deles, quem sabe buscando o consolo, e três vezes encontrou-os dormindo. “Simão, estás dormindo? Não foste capaz de ficar vigiando uma só hora?” “Ao voltar pela terceira vez, ele lhes disse: Ainda dormis e descansais? Basta! Chegou a hora.”
São fatos e palavras que com certeza mexem com a nossa consciência. Renovemos o nosso amor por Cristo e pelas suas coisas. Afinal, ele é a nossa escolha…
- Presença no presbitério.
O presbitério, que dá sentido a esta celebração, é a nossa nova família. Eu diria que os laços do sacramento da Ordem superam os laços da família natural. Apesar de, na maioria dos casos, vivermos nas nossas paróquias e outras atividades sozinhos, somos família de Ordem sacramental e presença na vida de uns e outros reciprocamente. Na ordem humana as coisas assumem aspectos diversificados e, as vezes difíceis de superar. Então, a Igreja busca diversas maneiras para nos agrupar: dias de formação, confraternizações, retiros, visitas, atenção na doença, reuniões do clero. A Igreja valoriza muito as reuniões do clero e as trata com seriedade. Se alguém falta, os responsáveis se preocupam, telefonam se algo não aconteceu e se preocupam com aqueles que “de plantão” não se fazem presentes.
- Presença no meio do povo.
As pessoas às vezes perguntam qual é o carisma do padre diocesano. As Ordens e Congregações tem o carisma definido pelo fundador(a), conforme o Espírito Santo inspira. Mas e o padre diocesano? É o carisma que o próprio Cristo definiu: Ide, Apascenta. É o carisma de Bom Pastor. Estar no meio do povo, estar presente.
O povo tem grande respeito pelo padre. Considera-o santo, alguém em quem se pode confiar, recorre nos momentos de dificuldade física e espiritual, gosta quando o padre se faz presente formalmente e informalmente, p. ex. durante a festa, quando só passa de barraca a barraca, dá ânimo, aprecia, brinca. As equipes se sentem percebidas, valorizadas, apreciadas. Mas não é só isto. O povo gosta de ver o padre presente, saber que é de suma importância a sua presente na catequese. Padres, não deixem a catequese somente a cargo dos catequistas. Façam se presentes, escutem os catequistas e os catequisando. Busquem modos de agrupar jovens e adolescentes por meio de diversas atividades. Por exemplo, na Itália, ao lado de cada paróquia existe um campo de futebol ou sala de cinema. A gama das atividades edificantes e construtivas é grande. Se os jovens vão ter como oportunidade de vida na Igreja só a Missa e a catequese, logo vão desanimar e cada vez mais vamos perde-los para os outros grupos religiosos, para a indiferença, drogas etc.
Podemos dizer: já temos muito trabalho. Então, façamos uma escala de prioridades, que nos ajudará a organizar a nossa vida pastoral.
Caríssimos. Com sinceridade do coração agradeço todos vocês pela doação e esmero pastoral. Peço perdão pelas minhas imperfeições e prometo rezar por cada um de vocês e peço que rezem por mim.
Tenham feliz e frutuoso Tríduo Sacro e Feliz Páscoa!
Em Cristo e com Maria,
Dom João Wilk.
*Foto: Rosivaldo Moreira