Diocese de Anápolis

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Sétimo dia Dom Manoel Pestana Filho

Missa do Sétimo Dia em sufrágio da alma de Dom Manoel Pestana Filho 
Bispo Emérito de Anápolis

Anápolis, 14 de janeiro 2010

Queridos irmãos e irmãs.

Ouvimos a palavra de Deus que nos iluminou e nos confirmou na fé em Deus que, como Pastor, cuida de nós com zelo e carinho. Ouvimos que na vida temos tarefas a serem cumpridas com perseverança e fidelidade, até o fim. Ouvimos da importância de estar em atitude de vigilância, mantendo as nossas lâmpadas acesas, ou seja, sempre atentos à hora do Senhor e sempre prontos para cumprir a sua vontade.

Estas luzes da Palavra de Deus queremos aplicar à pessoa do Dom Manoel Pestana Filho, na memória do seu passamento. Várias vezes ouvi dos sacerdotes e das pessoas em geral lembranças e frases ditas pelo Dom Manoel. Pessoalmente, conheço Dom Manoel desde 1979. Para falar da sua pessoa, recolhe esses testemunhos… 

Nestes momentos de dor humana, reunidos celebramos o mistério Pascal de Cristo, que ilumina e enche de esperança o nosso coração profundamente sentido pela partida de Dom Manoel Pestana. Talvez hoje a Diocese de Anápolis esteja celebrando um dos acontecimentos mais comoventes de toda a sua história. A data 08 de janeiro de 2011 (seu dies natalis) marca para sempre a nossa vida e fará parte da nossa história de fé.

Foram mais de três décadas de presença e serviço a esta Igreja particular que ele muito amou. Seu lema era: In Te projectus! (Projetado em Ti!). EsTe lema era o seu ato de fé em Deus diante da missão recebida (várias vezes ele mesmo partilhou a angústia que experimentou ao receber a comunicação de sua nomeação como Bispo de Anápolis pelo Papa João II naquele dia 30 de novembro de 1978). In Te projectus foi o seu programa, foi a sua profissão de fé e amor. Assim traduziu a sua fé e confiança em Deus, viveu e ensinou com o testemunho de sua vida em todos esses anos de ministério. Foram 25 anos e meio de ministério episcopal conduzindo a Diocese. E depois de sua renúncia, permaneceu conosco, trabalhando, servindo e sofrendo com humildade pela Igreja. A história desta nossa jovem Diocese, depois de Dom Epaminondas falecido há sete meses, é praticamente a história de sua vida entre nós. Somos seus continuadores. 

Por isso, hoje, no sétimo dia do seu falecimento, uma vez mais estamos aqui para encomendar a Deus, nosso Pai de Misericórdia, a alma de nosso Dom Manoel, para que o Senhor conceda sua paz a quem serviu tão intensa e generosamente à Igreja em todos esses anos. E a Dom Manoel, render-lhe a nossa homenagem de gratidão. Espontaneamente trazemos ao coração a memória de todo bem e de tantos acontecimentos de sua vida que marcaram a vida de milhares de pessoas. Desde o momento da notícia do seu falecimento, na manhã de sábado passado, o nosso coração está tomado pela memória de sua vida. Agora, mais do que nunca, tudo é recordado e revivido de forma misteriosamente nova. Nós, e um número incontável de pessoas que devem a fé à sua oração e pregação, recordamos e damos testemunho de sua vida, de suas palavras, de tantos encontros, de tantos e tantos momentos de sua presença pessoal na vida de cada um de nós. Emergem da nossa alma e da memória do nosso coração belos e gratos testemunhos de sua passagem intensa e marcante.

Lembramos o que dele ouvimos repetidas vezes, as palavras de São Francisco de Sales: “A gente não sabe o bem que faz quando faz o bem”. E acrescentava: “Ninguém sabe o mal que faz quando deixa de fazer o bem” ou “Ninguém sabe o mal que faz quando faz o mal”. Éramos, deste modo, exortados a acreditar na força extraordinária do bem, a acreditar no Evangelho, e a lutarmos não só contra a tentação da omissão, do descompromisso, da tristeza e do desânimo, do pessimismo, mas também a combater o mal, a combater a “cultura da morte” que tanto o angustiava.

Há alguns anos, aqui nesta mesma Catedral, onde ele tanto rezou, onde ele pregou com sabedoria, profundidade e coragem o Evangelho, onde tantas vezes depôs sobre o Altar os seus sofrimentos, conhecidos só pelo Bom Jesus, onde também celebrou com alegria grandes e edificantes acontecimentos, uma vez, com humildade, testemunhou: “Quero dizer a vocês que desde o primeiro momento em que eu soube que era Bispo de Anápolis, nenhum dia passou sem que pelo menos duas vezes eu me recolhesse em oração por todos vocês. E por isso, de repente, quando me encontro com alguém, eu me sinto assim como que diante de um velho conhecido que eu nunca tinha visto: nós já nos víamos quando nos uníamos a Deus, e na Graça nos encontrávamos”.

É por isso que temos muito a lhe agradecer. Sabemos que ele está presente e de um modo novo nos vê e nos ouve. Na nossa liturgia professamos que a sua vida não foi tirada, mas transformada. Como Santa Teresinha: não morreu, entrou na Vida! Unânimes, dizemos: muito obrigado por ter-nos carregado não apenas nos seus ombros, mas no seu coração de Pastor durante todos os dias de sua vida entre nós. Comove-nos esse testemunho: “nenhum dia passou sem que pelo menos duas vezes eu me recolhesse em oração por todos vocês”.

Dom Manoel dizia que “o maior prêmio, o maior presente que um sacerdote pode receber é que, de repente, ele descubra que não está dando a sua vida em vão. Porque, realmente, é dar a vida, entregar-se ao cuidado dos irmãos é não dar a vida em vão; porque, na verdade, a gente sente quantos rezam, quantos creem Deus, quantos confiam na sua Graça, quantos se abrem para os irmãos na caridade, na compreensão, na fraternidade, na humildade. Então, a gente descobre, que tudo isso valeu a pena!”

E nós, irmãos, que fomos especialmente os destinatários de sua doação em todos esses anos, o que podemos dizer? O tempo passou e as graças do seu ministério se superabundaram. Estamos aqui para confirmar que de fato a sua vida entre nós não foi em vão. Nos confortam e nos dão estímulo aquelas suas palavras: “vale a pena entregar a nossa vida ao cuidado dos irmãos”. Por ter-nos ensinado isso com o exemplo de sua vida, nós lhe agradecemos! Hoje de maneira especial, os sacerdotes que lhe conheceram, que foram acolhidos no Seminário da Diocese, que foram formados pelo seu ensinamento, lhe agradecem com as mais sentidas preces. E sentem com toda a alma a sua partida. Quantos agora recordam o dia de sua ordenação pela imposição de suas mãos! As primeiras responsabilidades recebidas, os seus conselhos nas dificuldades, a sua paciência, a sua paternidade. Isso tudo não foi em vão! E os Seminaristas de agora, bem como aqueles que a Providência nos encaminhará no futuro, sabem e saberão do quanto Dom Manoel amou, com palavras e obras, as vocações. Todos nós sabemos que a preocupação pelo Seminário foi um dos grandes motivos de sua vida desde o início. Os Seminaristas também lhe agradecem e oram pela sua recompensa eterna. Os religiosos e as religiosas, presentes aqui e também distantes, em outras terras, lhe recordam com gratidão e ternura, nestas tristes horas da despedida, nestes poucos instantes que nos separam do momento em que seu corpo mortal foi confiado à terra em espera da Ressurreição. Tantos pais e tantas mães de família vieram para rezar e agradecer a sua dedicação à família. Tantas lutas! Tantas uniões salvas! Tantas vidas salvas por causa de sua oração e incansável dedicação à defesa da vida, da família, do matrimônio! Muitos jovens desta Diocese nasceram depois que seus pais ouviram a sua pregação do Evangelho da Vida. São memoráveis os seus ensinamentos. Recolho umas palavras que são uma espécie de testamento à família: A família é hoje o grande campo de batalha entre a vida e a morte, a verdade e a mentira, o bem e o mal. Salvar a família é assegurar o futuro. Santificá-la é renovar a Igreja e o mundo. Porque é a família que constrói os homens e os cristãos. Tudo o que se faz pela família é muito pouco; tudo o que se fizer sem a família é quase nada”. E ainda: “Disse Jesus: a vitória que vence o mundo é a nossa fé. Deus está conosco. Façamos tudo para salvar e evangelizar a família! (…) Devemos semear, lançar a nossa pequena semente, sem jamais nos cansarmos (Santa Gianna B. Molla). (…) Só assim seremos os mais preciosos apóstolos de que a Igreja hoje precisa para ajudar o mundo a sobreviver!” Muitos aprenderam a rezar a Deus como ele rezava, por estas que eram as grandes intenções de seu apostolado: pela pureza dos jovens, pela inocência das crianças, pela santidade das famílias, pelo conforto dos doentes, pelos pobres, pelos encarcerados, pela recompensa dos nossos benfeitores. E ainda: “Dai pão a quem tem fome, e fome de justiça a quem tem pão”.

Sua preocupação foi sempre ensinar o amor a Deus, conforme o Evangelho, o amor a Eucaristia, ao Papa, a Virgem Maria! Esse era o núcleo de sua pregação: as três grandes devoções brancas! Todos os anos, Dom Manoel dedicava o final e o início do ano à sua família. Antes de viajar, como fazia em todos os anos, enviou a sua mensagem de Natal para tantos de nós. Nas suas palavras de augúrio, expressou de modo simples e profundo o que viria a ser o seu último desejo: “Abri as janelas da alma! Deixai o sol entrar! É tudo luz e alegria! É calor e vida! Não tenhais medo! Ele vem, criança, trazido do azul do céu, o manto de Maria. Luminoso e quente como o seu Coração Imaculado. Quem não acolhe a criança, rejeita Deus. Abri vossos corações!” Ano Novo cheio de bênçãos e santidade! (Dom Manoel Pestana – Bispo Emérito de Anápolis).

Como já testemunhei, na nossa recente Visita ad Limina ao Santo Padre o Papa Bento XVI, à cidade de Roma, num momento de afetuosa acolhida, o Papa ao ver-me, exclamou: “Anápolis! Diocese piedosa!” E em seguida, perguntou: “E Dom Manoel, como está?” Então lhe falei, dentro da brevidade do tempo, sobre Dom Manoel. O Santo Padre concluiu, dizendo: “Leve a Dom Manoel a minha saudação!” Assim que cheguei, comuniquei a Dom Manoel essa viva e afetuosa recordação do Santo Padre e sua bênção. Agora que estamos profundamente interpelados pelo fato de sua silenciosa partida, essa bênção assume um significado de reconhecimento e coroamento de uma vida generosa de um servo bom e fiel, de alguém que podia dizer como São Paulo: “Quanto a mim, já fui oferecido em libação, e chegou o tempo de minha partida. Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé” (2Tm 4, 6-7).Dom Manoel, Irmão e Pastor, descanse em paz! Celebre na sua vida em Deus o triunfo do Imaculado Coração de Maria! Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Dom João Wilk,
Bispo Diocesano
 

 

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