Anápolis, 25/10/ 2010
Homilia na celebração dos 30 anos da fundação do Seminário Diocesano
Com a expressão que o Seminário é o “coração da Diocese” somos muito familiarizados. Com isso expressamos a importância que damos à existência e às atividades formativas dos futuros sacerdotes e o lugar que o seminário ocupa no conjunto das dimensões pastorais da Diocese. De fato, é assim. Na Diocese de Anápolis, trinta anos após a sua fundação, o Seminário faz parte das prioridades pastorais, está em primeiro lugar nas preocupações do bispo e dos sacerdotes em geral, é objeto de participação da vida eclesial das paróquias e de numerosos leigos e benfeitores. Chama-se “coração”, porque é centro de atenções e de convergência das forças vivas da Diocese. Mas, não somente de atenções. O coração é órgão vital de cada corpo. Fornece sangue e com isso oxigênio vital a todas as partes do organismo. Sem o trabalho do coração, os corpos não têm como sobreviver. Assim é o seminário: oxigena o corpo eclesial que é a Diocese por meio do processo de formação dos futuros pastores do povo, ministros e apóstolos de Jesus Cristo, na Igreja.
Podemos perguntar: hoje, qual importância a Igreja designa aos seminários? Que tipo de sangue deve ser bombeado nas veias de organismos vivos que povoam a Igreja? Qual é o pensamento atual da Igreja sobre o perfil dos sacerdotes e sobre todo o processo de sua formação?
Penso útil, a fim de responder a essas perguntas, fazer rápidas referências ao documento recentemente aprovado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil: “Diretrizes para a Formação dos Presbíteros da Igreja no Brasil” (CNBB, 2010, doc. 93). O documento foi preparado com muito esmero pela competente comissão, foi discutido em diversas etapas e instâncias, foi aprovado por unanimidade pelos bispos na 47ª. Assembleia Geral da CNBB em 2009. Aguarda somente a necessária “recognitio” da Santa Sé para se tornar referência para todas as casas de formação dos sacerdotes, tanto diocesanas como religiosas. Enquanto aguarda a determinação da Santa Sé para se tornar documento oficial, já serve de base para o funcionamento dos seminários e das casas de formação.
A beleza e a competência do documento são muito grandes. É abrangente e maduro na forma e no conteúdo. Não traz muitas novidades. Traz uma síntese e aperfeiçoa o que até agora se disse e se escreveu sobre a formação dos presbíteros. Expressa o desejo e o pensamento dos bispos que, nas tantas realidades distintas, são vivamente preocupados com o futuro da Igreja. É expressamente permeado pelo espírito do Concílio Vaticano II. É aberto a enfrentar os desafios da nossa época, marcada por tantas crises, distorções, mudanças e angústias. Oferece uma clara “identidade teológica do ministério presbiteral” e sua inserção na cultura atual. Reassume as riquezas da tradição da Igreja no que diz respeito à necessidade e às formas de preparação dos sacerdotes. Serve-se da sabedoria de mestres de espiritualidade do passado e do presente. Sobretudo, é fiel às orientações do Magistério da Igreja em matéria da identidade, da vida e do ministério dos sacerdotes. Fala dos fundamentos teológicos da formação presbiteral, das suas diversas dimensões, como também enumera minuciosamente as etapas de formação e até as matérias que devem fazer parte desse processo. Fala dos espaços e das etapas da formação. Neste sentido, o Diretório reconhece e reafirma a validade dos seminários na sua forma tradicional, mas reconhece a validade de outras experiências, as quais, de acordo com as circunstâncias, podem ser aprovadas, tais como pequenas casas e comunidades de formação e até formas de acompanhamento pessoal. Reafirma a obrigatoriedade de um determinado tempo de permanência na comunidade formativa, ou seja, no seminário, para todos os que aspiram para a graça do sacerdócio.
O novo Diretório dedica muita atenção às cinco dimensões da formação presbiteral: humano-afetiva, comunitária, espiritual, pastoral-missionária e intelectual. Observe-se que, ao afirmar a visão anterior das dimensões da formação, acentua de forma diferente cada uma delas. Coloca em primeiro lugar a formação da pessoa no seu aspecto humano e afetivo, em vista da integridade da pessoa e da preparação amadurecida para a vivência serena da graça do celibato. À dimensão pastoral acrescenta a dimensão missionária. Destaca a dimensão comunitária da formação dos sacerdotes diocesanos.
No tocante da dimensão comunitária, é interessante notar o que se diz: “Em todos os espaços ou ambientes formativos considere-se a dimensão da familiaridade, fazendo com que em todos esses ambientes viva-se como em uma casa. O próprio espaço físico há de ser composto e harmonizado a fim de educar para a convivência familiar e fraterna. (…) O seminário como “casa” proporciona uma estrutura de convivência mais pessoal e humana, onde os conflitos são superados de maneira direta e construtiva. (…) O foco na fraternidade de uma vida em comum é resposta a ser edificada também com discussões e avaliações abertas sobre as dificuldades afetivas e sexuais, de auto-estima e de relacionamento. E mais, coloca-se o fato de que a morada de Deus no coração de cada formando tem a comunidade como mediação”.
Continua, em outro lugar, o Diretório sobre o mesmo assunto: “O seminário-casa é uma infraestrutura qualificada, simples e sóbria, oferecendo a mesa do pão de cada dia, a mesa da convivência e do lazer, a mesa do diálogo, a mesa dos estudos e a mesa eucarística. Estas mesas significam as condições indispensáveis para uma convivência fraterna, saudável e santificadora”.
Expressamos, neste legar, a nossa gratidão aos nossos padres e às paróquias pela consciência do dever de participar com suas contribuições pontuais para a manutenção do seminário nos seus diversos níveis e lugares. É dever reconhecer e agradecer este empenho sereno, perseverante e generoso. É sinal da maturidade eclesial e de participação na obra da edificação do Reino de Deus, comum a todos nós, no espaço a nós confiado.
+ João Wilk, OFMconv.
Bispo Diocesano