Diocese de Anápolis

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Na calada da noite que se escuta o grito da encarnação

Na penumbra de uma noite qualquer, no sussurro da criação, a eternidade se faz tempo, o Deus mistério arregaça as portas da lógica humana e se faz carne, como bem quer! Uma verdadeira discrepancia: como Deus infinito se adentra no finito? Um absurdo: o Criador fazer-se igual a criatura. Uma loucura: O Amor se faz igual ao amado para que o amado se sinta amado! O show da encarnação acontece no mistério da noite, pois é no escuro que brilha mais forte a luz da revelação e na calada da noite que se escuta melhor o grito da encarnação. O céu todo em festa, os anjos cantam glória, se rasga o véu da eternidade e o Eterno se condiciona ao tempo, o Onipresente se limita ao espaço, o Todo Poderoso se mingua na carne. Se todo o mundo escutasse o brado de glória cantado pelos anjos, a algazarra do céu, a festança de cima, não dormiriam na futilidade dos prazeres, mas elevariam a alma ao mais alto do céu, o coração se juntaria ao vozerio angelical e o silêncio noturno gritaria a expectativa da criação, pois é na calada da noite que se escuta o grito da encarnação.

Inusitados expectadores, na simplicidade de um curral, um par de bichos por vigia, e na fragilidade de criança se abriga no colo de Maria. Um Deus menino protegido por José que mesmo sem entender o mistério, no silêncio expressa sua fé. Contemplamos o presépio pequenino, sentimos o drama dos pais tão dedicados e nos enchemos de ternura na simplicidade do Divino e percebemos com grande emoção que é na calada da noite que se escuta o grito da encarnação. Aos olhos as vezes passa desapercebido, achamos que é uma festa a mais e que Deus nos trata como desconhecido. Mas no silêncio da adoração, no mais profundo do nosso coração, encontramos na encarnação o início da salvação. De muitas maneiras poderia ter nos redimido, com uma só palavra tudo estaria rente, mas nenhuma seria tão eloquente e profunda quanto doce e suave que expressasse a essência do Deus amor que é o mistério da encarnação. Um Deus tão grandioso e poderoso que mesmo podendo prescindir de tudo, se preocupa conosco e se revela na fragilidade de um menino que também é Deus amoroso. Para Ele não somos desconhecidos, Ele sabe o nosso nome e por mais que muitas vezes nos esquecemos, na festa de seu nascimento é a Ele que nós reconhecemos.

Parece infantil substituir o nosso Deus tão bondoso por um Papai Noel tão medroso, é senil prescindir do amor para abraçar a dor, trocar a doçura do presépio pela loucura do Papai Noel, se distrair com os enfeites natalinos e não enxergar a presença do Deus menino. O mundo todo grita na festança, bebida em abundância, comida com fartura e o som naquela altura, mas, no mais profundo do coração, como uma intensa recordação sabemos que é na calada da noite que se escuta o grito da encarnação. Podem tentar substituir, intuir e investir, mas nunca será tão grandioso o presente que recebemos: um Deus tão generoso que se doa como tal para nos livrar do mal. Ouro, incenso e mirra não temos para lhe dar, mas entregamos, na simplicidade do nosso presépio um lugar para morar, fazer abrigo e ficar comigo, ter a liberdade de ser quem eres e eu me transformar naquilo que queres. Quando as palavras não conseguem expressar nossa emoção cantamos com todo o coração e na singela poesia da vida celebramos com amor e devoção algo que supera completamente nossa razão e com Nossa Senhora e São José, com os anjos e santos transformamos o sussurro da nossa oração em uma verdadeira canção, pois é na calada da noite que se escuta o grito da encarnação.

 

Pe. Carlito Bernardes
Paróquia Divino Pai Eterno
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