Cristo veio, Cristo vem e Cristo virá
Podemos definir o Natal em três palavras: Cristo veio, Cristo vem e Cristo virá. Celebramos nesta grandiosa festa um acontecimento histórico. Deus escolheu um momento da história, para interromper e mudar a história, não tanto por fora, mas por dentro, pois a humanidade que ansiosamente estava esperando a realização das promessas de Deus, finalmente encontrou-se com a comunhão com Deus.
Cristo veio
Deus mesmo desceu ao nível mais baixo da humanidade, se fez pobre, criança indefesa para levar pelo seu crescimento o homem ao pleno encontro com Deus. Neste sentido, o aparato externo das festas do Natal nos traz a memória desses acontecimentos. Não tem Igreja que não haja o presépio, que atrai crianças, adolescentes e adultos. Alguns admiram a criatividade em preparar os presépios. Porém, o olhar de muitos, principalmente os das crianças e dos adolescentes, se voltam para a manjedoura onde está o menino e todo o conjunto dos que o assistiram.
Podemos dizer que foi a primeira liturgia de adoração de Deus feito natureza. Jesus veio para salvar a humanidade, mas também para resgatar toda a criação para que de novo possa cantar os louvores do Senhor. O Papa Francisco recentemente nos escreveu uma carta universal, a encíclica sobre a salvaguarda da natureza. O mundo foi dado por Deus para Sua glória, para nosso bem e para nossa felicidade. A beleza do mundo é a glória do Senhor. Assim como o homem vivente com dignidade é a glória do Senhor!
Cristo vem
Não podemos nos inscrever somente no passado lembrando um fato-acontecimento, porque Cristo é a presença contínua em nossa história: “não os deixarei órfãos” (Jo 14,18), “estarei convosco até o fim dos tempos” (Mt 28, 20). O tempo do advento nos preparou a aprender ir à Belém de hoje, aos lugares onde Jesus possa se encontrar.
Jesus se revela para nós no mistério de sua consagração, no mistério da doação, do despojamento da sua majestade divina, se igualando com a nossa condição de pequenez, com as nossas misérias. Hoje encontramos Cristo na mesa do altar, onde com as palavras do padre que são repetição das palavras de Jesus na última ceia, nasce o Menino Jesus, Deus Salvador, na hóstia e no vinho consagrados.
O que Deus tem para dizer aos nossos corações nos atrai, consola e eleva. Deus vem a nós na vivência autêntica da nossa fé, da nossa religião. Deus vem a nós nos mais pobres e necessitados. E quem de nós não é, em algum aspecto, pobre e necessitado? Uns de bens materiais, outros de saúde, de ordem moral, da alegria de viver, da compreensão, das fraquezas humanas de temperamento e de caráter… São tantas fraquezas, tantas misérias, onde encontramos Jesus. E deste modo podemos dizer: Cristo nasce na manjedoura do nosso coração, na gruta da nossa existência.
Cristo virá
O natal nos revela os tempos futuros. Jesus tinha prefigurado e profetizado que haverá uma segunda vinda, não mais na forma de uma pobre criança, mas como juiz glorioso. O nosso encontro já está marcado com Jesus, juiz e misericordioso. Mas, a justiça de Deus será a justiça dos nossos atos. O livro do Apocalipse afirma que diante do Juiz justo, nossa própria consciência indicará o lugar que devemos ocupar. A fé em Jesus Cristo, nos valores sobrenaturais, nos inspira o sentimento de caridade. Fé e vida andam inseparáveis!
O Natal também nos lembra nosso futuro sobrenatural , nossa salvação. Há um futuro diante de nós: a eternidade. Mas que depende desse espaço de tempo que estamos vivendo. Não há tempo para perder. Não há tempo para procurar outras felicidades, a não ser a felicidade plena, a felicidade de vida cotidiana em comunhão com Deus, segundo Sua vontade, na alegria da fé que Ele nos dá.
No curso da história Jesus Cristo sempre foi contradição às ideologias que proclamavam a felicidade do homem de forma, infelizmente, parcial e superficial. Hoje, Jesus continua também sinal de contradição na nossa incompreensão de Sua vontade, da aceitação dos ensinamentos da Igreja. Mas, há sinal de contradição na perseguição sem precedentes aos cristãos no mundo inteiro. Quantos mártires, quantas Igrejas destruídas… O terrorismo ameaça a salvação! O terrorismo da guerra, das bombas, mas também o terrorismo das ideologias de toda espécie, que são diferentes e, às vezes, contrastantes entre si, mas unida num propósito de eliminar o cristianismo, de eliminar Deus de nossa vida, das nossas consciências, do nosso futuro.
Mas, quem é consciente enfrenta as contradições com espírito forte e decidido, consciente que é preciso ficar do lado do bem, lutar pelo triunfo do bem. Praticando o bem nós combatemos todos os sinais e manifestações do mal. A vitória sobre o mal não consiste na força das armas, nem dos músculos. A força contra o mal é a ternura e a fraqueza de uma criança. Da fraqueza de uma criança ao triunfo de Deus e o triunfo do Bem.
Unamo-nos aos cânticos dos anjos nos campos de Belém “Glória da Deus e paz aos que são do seu agrado”. Um cântico que une o céu e a terra, elevando ao céu, louvor e glória, e aos homens na terra, votos de paz, de esperança e de amor. No mundo conturbado pelas guerras de armas e de valores e contravalores, escutemos no silêncio deste dia o doce nome Príncipe da paz e lhe supliquemos o dom da verdadeira paz.
Irmãos e irmãs tenham um santo e feliz Natal e um abençoado e próspero ano novo. Fiquem com Deus.
Dom João Wilk
Natal 2015 (?)