Diocese de Anápolis

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Homilia na festa de Sant’Ana – 2010

Paróquia Sant’Ana, Anápolis, 26/07/2010

Irmãos e Irmãs em Cristo, devotos da Padroeira Senhora Sant’Ana.

A Igreja celebra hoje a festa do casal São Joaquim e Sant’Ana. Para a nossa Igreja de Anápolis é uma festa bem singular, pois a Senhora Sant’Ana é conhecida e venerada como Padroeira da Diocese, desta Paróquia e da cidade de Anápolis. A Providência Divina quis que a sorte desta cidade fosse marcada prodigiosamente pela devoção popular a esta Santa. Queremos venerá-los, louvar a Deus e pedir a sua poderosa proteção para todos nós, nossas famílias e nossa cidade.

A Sagrada Escritura não fala diretamente de São Joaquim e Sant’Ana. A tradição os identifica com os pais de Nossa Senhora Maria Santíssima e avós do Nosso Senhor Jesus Cristo. Mas os nomes que portam, são nomes frequentemente encontrados na história da salvação e designam pessoas a serviço do plano salvífico de Deus.

O nome “Ana” na etimologia hebraica significa “graça” ou “agraciada”. Com este nome aparecem três mulheres no Antigo Testamento: a mãe do profeta Samuel, a mulher de Tobit e mãe de Tobias (Tb 1, 9) e profetisa Ana, testemunha da apresentação de Jesus no Templo. Esta última é apresentada em paralelo com o velho Simeão, que se alegra porque seus olhos viram a salvação do mundo; aparece como mulher israelita ideal: assídua ao templo, na espera da libertação de Jerusalém. A tradição coloca Sant’Ana entre essas mulheres que fizeram das suas vidas um serviço a Deus.

O nome “Joaquim” significa “homem confirmado por Deus Javé”.

A vida do santo casal Joaquim e Ana é nos conhecida pelo escrito antigo, do segundo século do cristianismo, intitulado Proto-Evangelho de São Tiago. Faz parte dos chamados escritos apócrifos, escritos de caráter popular e edificante, às vezes com histórias pouco fidedignas, mas com uma certa probabilidade histórica. Este livro mereceu muita atenção das comunidades cristãs primitivas. Registra, pois, a antiquíssima tradição sobre os pais de Nossa Senhora.

Diz este documento antigo que Joaquim e Ana eram um casal distinto, temente a Deus, de abundantes posses materiais. Os seus bens dividiam em três partes: uma, destinava para o seu sustento; outra, para o culto divino; e a terceira, para os pobres. Vivia,, porém, tristes e humilhados, por não terem filhos. Já na idade avançada, sonhavam ter descendência, sinal de bênção divina. Joaquim, com o espírito de penitência e de súplica, foi para o deserto, onde permaneceu por quarenta dias. Ana, em casa, ficou entregue a recolhimento e oração. Finalmente, um anjo apareceu a Joaquim: “Joaquim, tua oração foi ouvida. Uma filha te será dada a quem darás o nome Maria”. Também Ana recebeu um aviso do anjo: “Ana, Ana, o Senhor ouviu teu choro. Conceberás e darás à luz, e por toda a terra falar-se-á de tua descendência”. Ao voltar para casa, Joaquim encontrou Ana correndo ao seu encontro, dizendo com alegria: “Agora sei que o Senhor derramou sua bênção sobre o nosso lar; pois eu era como uma viúva, era estéril mas agora meu seio já concebeu, seja bendito o Altíssimo”.

Nasceu-lhes a filha, Maria, nome que significa “amada”, “soberana”, “a pureza”, “a virtude”, a virgindade”. Em cumprimento do voto, os pais consagraram-na a Deus; levaram-na para o Templo, onde foi educada, ficando aí até a idade de puberdade e o noivado com São José.

A tradição não dá notícia da morte de Joaquim e Ana. No entanto, em Jerusalém, encontra-se a igreja dedicada ao santo casal, onde, conforme a tradição popular, encontrava-se a casa e onde Maria teria nascido. Os peregrinos podem descer até a cripta e contemplar as rochas e as cavernas que constituíam parte da habitação. O culto deles foi muito difundido na Igreja desde o século VI. Começou no Oriente, depois passou para o Ocidente, onde se desenvolveu rapidamente. Numerosas igrejas, paróquias, dioceses e pessoas, há séculos, levam os seus nomes. No Brasil, o culto de Sant’Ana chegou junto com os descobridores e se desenvolveu principalmente no Brasil Central. Sant’Ana partilha com a sua Filha o título de “Senhora”: Senhora Sant’Ana.

 

Perguntamos: qual a mensagem de vida e de fé aprendemos festejando mais uma vez o santo casal?

 

  1. Mensagem do temor de Deus. Como bom casal de Israel, Joaquim e Ana eram pessoas de fé, de oração, de fidelidade ao Deus amado e Onipotente. No domingo passado ouvimos como Jesus ensinou aos discípulos a orar: “Dizei assim: Pai nosso”. Um dos primeiros pedidos a fazer Jesus ensina: “santificado seja o teu nome”. Nas circunstâncias em que vivemos, a mensagem da fé e do temor de Deus se faz tão clara e tão importante, para nós que desejamos ser discípulos e missionários de Jesus, da sua verdade e do seu amor.

 

  1. Mensagem da caridade. O santo casal Joaquim e Ana sabiam planejar a sua vida e seus bens. Hoje a Igreja nos ensina, na doutrina social, que os bens criados por Deus são destinados para a felicidade de todos, na espiritualidade de fraternidade. Joaquim e Ana destinavam uma parte para o seu bem-estar, uma para a promoção do culto divino e uma para os pobres. Que lindo exemplo, que receita eficaz, a ser seguida por cada um de nós. Sem dúvida, é um caminho de santificação: num mundo marcado pela egoísmo e pala ganância, pela competição e muitas vezes por desonestidade, saber partilhar, ser fraterno, pensar no outro, ser feliz com a felicidade do próximo.

 

  1. Mensagem de confiança em Deus. Somos nós que fazemos a nossa história, com nossos projetos e esforços, mas Deus a edifica. “Sem mim nada podeis fazer” – dizia Jesus. A confiança na presença providente de Deus em nossos esforços é capaz de nos devolver paz e tranquilidade, superar angústias e inquietações, preservar a harmonia e a concórdia na família, valorizar a vida e estabelecer a justa escala de valores entre aquilo que somos e aquilo que temos.

 

  1. Mensagem de família. A celebração desta festa possui um claro direcionamento familiar. Na cultura do Antigo Testamento, a família era a sede, o espaço da bênção de Deus. Mais uma vez estamos a confirmar que a família é base da existência e da felicidade de cada pessoa humana, uma obra de Deus. Na atual cultura, somos forçados a descer à raiz da nossa identidade humana e afirmar o valor da família como realidade querida por Deus e criada como estatuto próprio, básico, fundamental do sentido de ser “pessoa humana”. A Bíblia, nas suas primeiras frases, expressa a coroação da obra criadora de Deus e fala da grande felicidade de Deus que olha e acha bonito o que fez: “Façamos o ser humano à nossa imagem e segundo nossa semelhança”. “Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou. Homem e mulher ele os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a!”

Diante da cultura atual que se agita em propor novos modelos e novos valores, tão distantes daqueles que Deus estabeleceu para os seus semelhantes, somos convidados a afirmar com clareza e convicção quem nós somos e quem queremos ser. A Igreja, atenta aos movimentos da nossa época que visam desestabilizar os valores e distorcer as identidades, sente-se impelida a intensificar a catequese fundamental sobre a dignidade da pessoa humana, sobre os princípios básicos que não podem ser esquecidos, sobre o amor e a família. Todos, Igreja e Estado, comunidade paroquial e comunidade civil, devemos unir os esforços para ajudar a família como instituição e ajudar as nossas famílias nesta hora de tanta fraqueza e de tantos perigos. A sociedade se desintegra quando se desintegra a família. E a desintegração gera amargos frutos de violência, de agressões, de abusos de todo tipo, de falta de respeito e de tranquilidade. Muitas coisas devem ser repensadas para não perder o pouco que ainda sobrou, e trazer de volta, anunciar com coragem e clareza a boa notícia da família, o “Evangelho da Família”.

 

Nas eleições iminentes, somos chamados ao exercício da nossa cidadania. Seja exercício de cidadania cristã. O voto tem suas consequências. O voto é expressão do nosso direito, mas também da nossa consciência cidadã e cristã; do nosso desejo também. É preciso avaliar e medir para escolher para os governantes e legisladores pessoas que se identificam com as convicções autenticamente humanas e cristãs, que tenham no seu currículo e no seu programa respeito e defesa da vida, da família, dos autênticos direitos humanos, da defesa da infância, adolescência e juventude. Que o progresso que se propõem a promover, seja, em primeiro lugar, um progresso na medida da dignidade verdadeira das pessoas, sujeitos e primeiros destinatários do progresso material e econômico.

 

+ João Wilk, bispo de Anápolis – GO

 

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