Diocese de Anápolis

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Homilia de Dom João na Ordenação sacerdotal 2021

Ordenação sacerdotal João Paulo Avelar e Marcílio Cardoso
12 de outubro de 2021

Amados irmãos e irmãs em Cristo, Sacerdotes e diáconos,
Queridos Diáconos João Paulo Avelar Mendonça
e Marcílio Cardoso Filho.

Paz e graça a vós!

Com ação de graças, estamos celebrando mais uma ordenação sacerdotal de dois jovens que responderam ao chamado divino de servi-Lo com amor na dedicação e abnegação. Um chamado tanto mais importante quanto o momento presente que vive a humanidade e a Igreja.

De um lado, temos: guerras; reinado do dinheiro; corrida atrás do poder que não conhece limites de respeito humano e freios da dignidade; arrogância das ideologias; inversão de valores humanos e cristãos; rápidas mudanças e conquistas tecnológicas; convicção crescente de que Deus não existe ou, no mínimo, é desnecessário; estranha tensão e divisão entre os homens e mulheres da Igreja; supremacia das disputas políticas sobre a fé; escândalos entre os padres, bispos e até cardeais…

De outro lado, temos o sopro de esperança que faz a Igreja, sobretudo, a navegar em águas turbulentas, abrindo as velas para o vento do Espírito e da fé, embora das barcas frágeis e titubeantes. Estamos vivendo os tempos interessantes: hoje, solenidade de Nossa Senhora da Conceição Imaculada, a Aparecida, Padroeira e Imperatriz do Brasil, Ano de São José, Esposo de Maria, Pai adotivo do Salvador, Patrono da Igreja, espelho de virtudes, homem temente a Deus; a abertura do Sínodo na Igreja do mundo inteiro, sobre a sinodalidade, ou seja, sobre como “caminhar juntos” como único e unido Povo de Deus, cumprindo a sua missão de evangelizar…

Como ser sacerdote no meio de tudo isso?

Perguntei algumas pessoas o que seria bom dizer aos novos sacerdotes. Ouvi em resposta: diga alguns conselhos a partir da sua experiência de 70 anos de vida e quase 50 anos de sacerdócio…

Aí que está a dificuldade…. Nunca me senti modelo para ninguém; talvez pelo contrário. Mas, quem sabe, pelo menos tentei viver nos caminhos da Igreja…

1. Em primeiro lugar, a constante consciência de que Deus olhou para a humildade do seu servo: porque eu? Porque eu? A vocação está na esfera da vontade de Deus. Isto deve ser um dos elementos da nossa fé: sempre crer e repetir: eu fui chamado, Deus me escolheu, sou diferente de tantas outras pessoas. Humanamente, somos frágeis, mas, como São Paulo, nunca esquecer: “minha graça te basta”.

2. Um sacerdócio que nunca sentimos completo em nós.

Entendamos: como dom de Deus, é completo, como “tesouro no vaso de barro” está em processo de constante busca e amadurecimento. E aqui, da nossa parte, é preciso confiar e vigiar, para que o “vaso de barro”, por algum descuido, coisas que fazem parte da nossa natureza humana, não se rompa. Viver bem o momento presente, pois o passado e o futuro pertencem a Deus.

3. De entre o povo chamado, para o povo enviado… O próprio rito da ordenação nos diz isto. Nas vésperas da minha ordenação sacerdotal, em Roma, um jovem da paróquia onde fazia experiência pastoral, me deu carona até o Seminário. Conversa vai, conversa vem, perguntei: que tipo de padre o povo deseja. Sem hesitação, me disse: um padre próximo ao povo. O povo é o lugar da nossa vida e da nossa missão. Porém: no meio do povo, mas não confundido com o povo. Os leigos precisam de padre, não um leigo a mais na massa. Um sacerdote que carrega existencialmente a graça do sacerdócio em si, é reconhecido, mesmo que não use o traje clerical. Do seu ser emana algo que toca os corações.

4. Clericalismo não! Algumas poeiras da história fizeram inverter o sentido do sacerdócio. De sacerdote-servo, criaram sacerdote-prestígio, status. Vários sacerdotes da autoridade espiritual passaram para o autoritarismo, um estranho poder sobre os fiéis. As pobrezas apostólicas transformaram em bem-estar material. Infelizmente. O sacerdote tem uma dignidade muito alta que nenhuma pessoa possui. Por isso merece da parte de todos o reconhecimento e estima. O nosso povo, de fato, tem uma estima e uma fé muito grande nos sacerdotes, com expressões e sinais externos. Isto não nos leve, porém, a sentirmo-nos senhores acima dos “simples” leigos.

Vivamos com simplicidade, amantes da pobreza evangélica, com o necessário para viver e trabalhar com eficiência e dignidade. Tomemos como exemplo o Cardeal Conrado Krajewski, encarregado pelas obras de caridade do Papa. Ele tem à sua disposição uma equipe de colaboradores, mas é ele mesmo que vai para o encontro dos pobres de Roma, leva ajuda e luta pelo seu mínimo bem-estar. Não tem medo nem vergonha. Ser Cardeal não lhe impede de ser pequeno entre os pequenos.

5. Estar em comunhão com a Igreja. Como mencionei no início, a Igreja vive momentos difíceis. Se levantam as vozes até contra o Papa. De que “lado” nós nos colocaremos? A comunhão com a Igreja se realiza em três níveis:

– Presbitério local. Os padres não trabalham sozinho e independentemente. Formam uma comunidade fraterna com outros padres e executam os programas pastorais traçados em conjunto. Entre os padres encontram apoio, conselho e consolo. Estão atentos para aqueles que, quem sabe, precisam de ajuda.

– Comunhão com o Bispo. Prestemos atenção à crise da autoridade que assola as esferas civis e eclesiásticas. É fruto do individualismo e do relativismo. A Igreja não é nem democracia, nem ONG; é comunhão em Jesus Cristo. Portanto, as relações entre as pessoas são vistas à luz da fé, não de conveniências humanas. Existe a ordem de obediência no que tange realidades sobrenaturais e o governo temporal da Igreja.

– Comunhão com o Papa. Foi da vontade de Jesus colocar um ponto de unidade na comunidade. “O que ligares na terra, será ligado no céu…”

A figura do Papa para nós é sagrada. É dom do Espírito Santo para toda a Igreja. Não condicionemos a nossa adesão aos ensinamentos do Papa conforme a pessoa que nos agrada ou não. Às vezes podemos ter dificuldade de compreender os ensinamentos e gestos, mas não sabemos o que o Espírito Santo quer nos dizer pelas palavras do Papa nos determinados tempos e circunstâncias. Tenhamos sempre presentes as palavras de São Francisco de Assis na Regra de Vida dos Frades: “Frei Francisco promete obediência e reverência ao Senhor Papa Honório e a seus sucessores…” (Regra, 1, 2). Eram tempos de numerosas seitas e contestações. Todos procuravam viver a pobreza evangélica, mas contestavam os sacramentos e a hierarquia. São Francisco, para não correr nenhum risco de se desvincular da Igreja, recorreu para debaixo do manto do Papa e pediu a aprovação do seu modo de vida baseado na observância do Evangelho.

6. Por fim, queridos ordenandos, tenham a Mãe de Jesus como própria Mãe. Quem ama Maria, não perde Jesus de vista! Hoje, Solenidade de N. Sra. Aparecida, façam o ato filial de consagração àquela que foi dada por Deus ao povo brasileiro como Mãe, Rainha e Imperatriz do povo Brasileiro. Confiem n’Ela!

Louvado seja Jesus Cristo!

Dom João Wilk, bispo de Anápolis.

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