“Cantai ao Senhor, bendizei o seu nome,
anunciai dia após dia a sua salvação.
Entre os povos narrai a sua glória.”
(Sl 96,2-3)
Caríssimos irmãos e irmãs em Cristo.
Muito amados diáconos que almejam ser, pelo poder de Deus e da Igreja, servos do Senhor, partícipes do seu sacerdócio eterno.
Cada ordenação sacerdotal é um momento de alegria e gratidão a Deus para toda a Igreja, para a Diocese e, especialmente, para estes diáconos. Um dia inesquecível nas suas vidas, uma esperança para a Igreja que conta com eles para a realização da sua missão de continuadora da obra salvífica de Jesus Cristo a favor de toda a humanidade.
Para a nossa reflexão, vamos seguir a pista da Palavra de Deus proclamada hoje. Não queremos tecer reflexões de caráter teológico, pois estes aspectos já foram explorados nos últimos eventos da Diocese, nas aulas de teologia, no retiro espiritual. Da Palavra de Deus queremos colher alguns aspectos da consagração sacerdotal, muito importantes e úteis para o novo estilo de vida que eles escolheram e para o qual se decidiram.
1. Servos e mensageiros da glória de Deus.
Na primeira leitura, do profeta Daniel ouvimos: “Tronos foram instalados, e um ancião se assentou, vestido de branco… Havia milhões a seu serviço, inumerável multidão de pé diante dele.” (Dn 7, 9-10).
Estas palavras nos projetam para uma realidade marcada pelo mistério, porém real, que precisa ser levada ao conhecimento do todas as pessoas, para que a coloquem como o valor supremo da sua vida, edifiquem a sua felicidade nesta consciência, vivam a sua vida de tal forma que toda ela se torne um hino de louvor a Deus: “Homo vivens, gloria Dei” (o homem vivente é glória de Deus). Isto vale para todas as pessoas humanas. Vale também para a criação toda, pois tudo leva a marca do poder e da bondade do seu Criador.
Os cristãos não só proclamam a glória de Deus como seres viventes, mas são associados pelo Batismo à vida divina. Entre os cristãos ocupam um lugar especial e insubstituível aqueles que foram escolhidos e se tornaram ministros dos mistérios divinos. Por isso, o sacerdote, em primeiro lugar é uma pessoa consagrada a Cristo, vive exclusivamente em sua função, proclama com a própria vida a sua glória e a sua salvação. Isto faz com que, antes de ser ministro dos seus mistérios, ele mesmo vive a glória de Deus. E este é também o caminho da sua salvação e santificação.
O mundo de hoje precisa tanto de ver as pessoas consagradas a Deus, de jovens alegres e inteligentes, testemunhando que têm um ideal acima de qualquer outro.
2. Servos da humanidade.
“Bendizei o seu nome, anunciai dia após dia a sua salvação. Entre os povos narrais a sua glória”, ouvimos no Salmo de meditação (Sl 96).
O primeiro serviço do sacerdote à humanidade é ser proclamador dos mistérios divinos, da verdade sobrenatural. Portanto, nos ensina a Igreja, que o primeiro dever dos padres e dos bispos é serem proclamadores da Palavra, os evangelizadores.
Isto acontece em primeiro lugar nas próprias paróquias, onde os batizados estão caminhando na fé, praticam o culto de adoração a Deus e crescem na espiritualidade. Mas há uma urgência de evangelizar os batizados, que nem sabem bem o que significa ser cristão, de procurar e evangelizar os católicos afastados, de buscar os que não creem para o recinto de Jesus Cristo. Assim, o sacerdote discípulo de Jesus, enquanto molda a sua vida na Pessoa e na sabedoria de dEle, é missionário. Deve ter o espírito missionário. Estar preocupado com a divulgação do Reino de Deus, para que todos conheçam e glorifiquem a Deus.
3. Testemunhas da verdade.
“Não foi seguindo fábulas habilmente inventadas (…), mas sim, por termos sido testemunhas oculares da sua grandeza”, nos proclamou São Pedro (1, 16) na segunda leitura. Por isso, é fundamental que o sacerdote acredite firmemente naquilo que é e naquilo que faz. Seja firme na doutrina cristã, sempre em comunhão com o ensinamento oficial da Igreja. Sabemos o quanto, nos dias de hoje, a Igreja sofre pelas incompreensões, pelos ataques diretos e indiretos provenientes de pessoas interesseiras, de declarados inimigos da fé, de grupos de pressão interessados em propor ao mundo os modelos de vida diferentes do ensinamento de Cristo. O sacerdote também deve ser proclamador firme da verdade, saber até sofrer pela fidelidade ao depósito da fé. Naturalmente, precisa de toda a prudência, para não expor a doutrina em ridículo, verificar se é doutrina ou são ideias pessoais, ter atitude de respeito de diálogo com o diferente, pois a lei básica do cristão é a caridade, o amor.
4. Coragem em apostar na pessoa de Jesus.
No Evangelho, temos a narrativa de um dos maiores acontecimentos narrados pelos Evangelistas: a Transfiguração. Jesus, vendo os apóstolos assustados com o que viram, disse-lhes: “Não tenhais medo”. Às vezes a perspectiva da vida sacerdotal nos assusta, diante do grande e sublime dom, diante do qual nos sentimos pequenos e incapazes, medrosos se fizemos uma escolha certa ou se seremos capazes de perseverar. Também a nós Jesus diz: “Não tenhais medo”. Basta confiar na vocação, estimar este dom não como o nosso favor a Deus e à Igreja, mas como vontade de Deus a nosso respeito. A coragem de crer é necessária tanto nas dificuldade do ministério, como diante das tentações e crises que atingem, como qualquer outra pessoa, também os sacerdotes. Se Cristo chama, dá também a graça de cumprir a missão e de fazer da sua escolha a escolha definitiva, para toda a vida, renovada a cada dia.
5. Queridos ordenandos, tudo isto eu desejo a vocês. Vocês demonstram a maturidade humana e espiritual: pela idade que tens, pela formação que receberam, pelo desejo de serem realmente sacerdotes. Sejam corajosos, perseverem, formem a comunidade sacerdotal com o presbitério e com o bispo (o de hoje e os do futuro).
Que Deus Vos ajude nesta empreitada!
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
Dom João Wilk, OFMConv.
Bispo de Anápolis – GO
06-08-2011