Diocese de Anápolis

Diocese de Anápolis

Diocese de Anápolis

Festa de Sant’Ana – 2013

26/07/2013

Amados em Cristo Irmãos e Irmãs.

A Igreja nos concede a alegria de celebrar a festa litúrgica de Sant’Ana, Padroeira da nossa Diocese, da cidade de Anápolis e do Estado de Goiás. A festa litúrgica é uma oportunidade para louvarmos a Deus pelo inestimável dom da nossa salvação, do qual o santo casal Joaquim e Ana se tornaram instrumentos. Sem esta participação, o curso da história da salvação seria diferente. Pela bondade do espírito, eles se tornaram dignos da benevolência de Deus. Assim, se tornam para nós modelos de imitação cristã. A sua história de dor, de esperança e de fé, é também a nossa história. É no âmbito das nossas lutas, sofrimentos, anseios, projetos, que nós também, pela fé, depositamos a confiança em Deus.

Este ano, a festa da Padroeira se realiza no contexto do Ano da Fé e da Jornada Mundial da Juventude, que nestes dias está se realizando no Rio de Janeiro. Mais de um milhão de jovens do mundo inteiro está mergulhado nesta grande expressão de fé jovem, fé entusiasmada. Não há como não pensar sobre seu significado e alcance. Não há como celebrar a nossa festa sem pensar no que a Igreja quer dizer promovendo esta grandiosa festa e sem as referências diretas ao que o Santo Padre o Papa Francisco propõe para a Igreja toda e para nós concretamente.

1. O lema da JMJ 2013 orienta o rumo: “Ide, fazei discípulos meus entre todas as nações”, (Mt 28,19). Escolhido com bastante antecedência, o lema reflete o programa missionário da Igreja. O recente Sínodo dos Bispos, no Vaticano, refletiu sobre a nova evangelização. A quinta Conferência dos Bispos da América Latina e do Caribe, em 2005, no Santuário Nacional de Aparecida, definiu o programa da Igreja na América Latina com a expressão Missão Continental. Identificou cada cristão como discípulo missionário. A fé só cresce, quando se encontra Jesus, nasce não das ideias bonitas anunciadas, mas da experiência de encontro. O discípulo cresce escutando Jesus em pessoa. Atraído pela sua beleza, o cristão se torna naturalmente testemunha deste encontro.

Outro elemento que se fez frequente é a plataforma que a Igreja está construindo na América Latina: a partir de Cristo, construir uma sociedade justa, fraterna e solidária. Assim, fica expressa a identidade da Igreja: iluminar com a experiência de Jesus as realidades do mundo atual. Isto é a missão da Igreja.

É interessante considerar a pessoa do Papa Francisco nesta caminhada atual da Igreja. Deus o escolheu, na sua insondável Providência, para ser seu instrumento para todos nós. Desde que assumiu o ministério petrino, como Bispo de Roma, o Papa se deixou conhecer como pessoa simples, livre de pompas e de protocolos desnecessários, desejoso de estar próximo ao povo, em contato direto e pessoal. É espontaneamente aceito pelo povo. Ele se torna confiável graças à sua autenticidade, não pelo discurso populista. É um homem tipicamente latino-americano. Faz gestos simples e expressivos, de cordialidade que caracteriza o nosso povo. É homem bom, que espalha paz e confiança. Abraça com carinho as pessoas e se deixa abraçar. É visivelmente consciente da sua condição de Papa, mas faz desta condição um serviço humilde e alegre. O que fala, todos entendem. Fala com simplicidade, mas com grande profundidade. As suas figuras linguísticas bem criativas contém grandes gotas de sabedoria humana, doutrinal e espiritual.

O que o Papa diz é uma proposta para a Igreja toda. Está propondo a experiência da Igreja na América Latina, uma Igreja jovem que vive a sua fé de forma alegre, sensível, emocionante. Do jeito como gosta o Papa Francisco: “Prefiro uma Igreja acidentada, que sai às ruas, do que uma Igreja doente”. Dá uma lição de simplicidade a todos nós: leigos, padres, bispos. Nos dá uma lição de simplicidade e humildade, sem perder o vigor e o conteúdo da verdade religiosa. A renovação da Igreja, que está sendo percebida por muitos como obra do atual Papa consiste não nas simples mudanças de estruturas ou modos. É o novo jeito evangélico para cavar mais profundo no que já temos em matéria de doutrina e de tradição. É o novo jeito de compreender coisas grandes e coisas pequenas.

2. O que nos ensina o Papa na JMJ 2013?

Vida nova com Jesus. “Botar” fé na vida. “Botar” Jesus na vida. Para fazer uma comida gostosa, se diz: bota mais tempero, bota mais isso ou aquilo. Assim, bota Jesus na sua vida e a vida terá mais sabor. Bote fé, bote esperança, bote amor. Bote fé e a sua vida terá um novo sabor. Bote esperança e todos os seus dias serão iluminados. Bote amor e a sua existência será como uma casa construída sobre a rocha.

Aos jovens argentinos pediu: “Por favor, não deixem a fé em Jesus. Tomem Jesus todo, não uma parte de Jesus. É o apelo à integridade da fé, sem preferências exclusivas, sem peneiras. Não diluam a fé”, pediu o Papa.

O Papa pede para colocar Jesus no centro da vida e alerta contra os ídolos de prestígio, do dinheiro e do poder, que dão a felicidade imediata, mas passageira.

Os jovens são um grande potencial e os protagonistas da evangelização. Não são apenas o futuro do mundo e da Igreja, mas o presente. Ao entusiasmo juvenil o papa confia o combate contra o mal. “Procurem ser vocês a praticar o bem, a não se acostumarem ao mal, mas a vencê-lo”.

Na simpática e emocionante visita à comunidade de Varginha, o Papa fez um pronunciamento com forte teor social. Falou de um mundo mais justo e solidário. Falou que a solidariedade é uma palavra quase esquecida, quase um palavrão. Dizia isto, referindo-se ao egoísmo e à corrupção. E pedia: “Não se cansem de trabalhar por um mundo mais justo e mais solidário”.

Lembrou que é preciso “promover uma maior justiça, educando os jovens para os valores que constroem a vida comum, acompanhando quem está em dificuldade e dando esperança ao futuro, olhar o outro com os olhos do amor de Cristo”.

Na mesma comunidade, o Papa falou da acolhida e de relações pessoais mais humanizadas. É a sua concepção de vida. Assim como ele ensina, pratica: é acolhedor, vai ao encontro do outro, não se incomoda, tem tempo e dá atenção às pessoas. No discurso de boas vindas, diante da presidente do País, usou palavras de muita delicadeza. Disse que o povo brasileiro é muito cordial e que por esta porta gostaria que lhe deixassem entrar. “Permitam-me que bata discretamente a esta porta”. Carinho e encontro.

A “lepra das drogas”. Não podia faltar a visita às obras sociais da Igreja presentes no Rio de janeiro. Emblematicamente foi escolhido o Hospital São Francisco, que trata dos dependentes químicos: de droga e de álcool. Num clima de particular e emocionante cordialidade, entre gestos e palavras comoventes da parte do Papa e dos que lhe dirigiam saudações, o Papa falava do flagelo das drogas. Chamou atenção ao sério assunto da legalização do comércio das drogas e categoricamente afirmou: “Não se combate o tráfico de drogas com a liberalização das drogas”. “A chaga do tráfico de drogas, que favorece violência e que semeia a dor e a morte, exige da sociedade inteira um ato de coragem”. Destacou o empenho da Igreja neste espaço da caridade, dizendo que os dependentes não estão sozinhos na luta de encontrar a cura.

Assegurou que o “Senhor está ao lado de vocês e lhes conduz pela mão”. Indicava assim a importância de ter fé, de ter Cristo ao seu lado, no processo de buscar a cura e o retorno à vida feliz.

Falando aos jovens argentinos, o Papa falou também aos anciãos. Não deve ter nem isolamento nem exclusão entre as duas faixas de idade. Antes, as duas devem fazer síntese, uma unidade. Os jovens são a “janela” e o “motor do futuro”. Os anciãos são os “guardiães da memória”, são portadores de experiências que fazem história. O esquecimento dos anciãos na atual sociedade o Papa chamou de “eutanásia silenciosa” pelo descaso e esquecimento. Pediu que os jovens não se deixem excluir e que não deixem que ninguém seja excluído.

Aos bispos e aos padres pediu que não se acomodem, que não sigam a ideia de clericalismo, que sejam “pastores com cheiro de ovelhas”, ou seja, que vão ao encontro das pessoas, em vez de ficar atendendo nos escritórios paroquiais e nas sacristias.

Aos cristãos em geral sugeriu três coisas: guardar esperança, deixar-se surpreender por Deus, ser alegre.

“Quantas dificuldades na vida de cada um, no nosso povo, nas nossas comunidades, mas, por maiores que possam parecer, Deus nunca deixa que sejamos submergidos. Frente ao desânimo que poderia aparecer na vida, de quem trabalha na evangelização ou de quem se esforça por viver a fé como pai e mãe de família, quero dizer com força: Tenham sempre no coração esta certeza! Deus caminha a seu lado, nunca lhes deixa desamparados! Nunca percamos a esperança!”

“Deixar-se surpreender por Deus. Quem é homem e mulher de esperança – a grande esperança que a fé nos dá – sabe que, mesmo em meio às dificuldades, Deus atua e nos surpreende. A história deste Santuário (de Aparecida) serve de exemplo: três pescadores, depois de um dia sem conseguir apanhar peixes, nas águas do Rio Parnaíba, encontram algo inesperado: uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Quem poderia imaginar que o lugar de uma pesca infrutífera, tornar-se-ia o lugar onde todos os brasileiros podem se sentir filhos de uma mesma Mãe? Deus sempre surpreende, como o vinho novo, no Evangelho que ouvimos. Deus sempre nos reserva o melhor. Mas pede que nos deixemos surpreender pelo seu amor, que acolhamos as suas surpresas. Confiemos em Deus! Longe d’Ele, o vinho da alegria, o vinho da esperança, se esgota. Se nos aproximamos d’Ele, se permanecemos com Ele, aquilo que parece água fria, aquilo que é dificuldade, aquilo que é pecado, se transforma em vinho novo de amizade com Ele”.

“Viver na alegria. Se caminhamos na esperança, deixando-nos surpreender pelo vinho novo que Jesus nos oferece, há alegria no nosso coração e não podemos deixar de ser testemunhas dessa alegria. O cristão é alegre, nunca está triste. Deus nos acompanha. Temos uma Mãe que sempre intercede pela vida dos seus filhos, por nós, como a rainha Ester na primeira leitura (cf. Est 5, 3). Jesus nos mostrou que a face de Deus é a de um Pai que nos ama. O pecado e a morte foram derrotados. O cristão não pode ser pessimista! Não pode ter uma cara de quem parece num constante estado de luto”.

À semelhança de outros Papas que visitaram o Brasil, o Papa Francisco confirmou a Igreja na sua tradicional devoção à Maria Santíssima, na visita ao Santuário de Aparecida. Dirigindo-se em prece diante da imagem de Nossa Senhora pediu:

“Mãe Aparecida, ponho em vossas mãos, e levai até o Pai
a nossa e vossa juventude,
a Jornada Mundial da Juventude:
quanta força, quanta vida, 
quanto dinamismo brotando e explodindo
que podem estar a serviço da vida, da humanidade.

Finalmente, ó Mãe, vos pedimos:
permanecei aqui, sempre acolhendo vossos filhos e filhas peregrinos, 
mas também ide conosco,
estai sempre ao nosso lado
e acompanhai na missão
a grande família dos devotos,
principalmente quando a cruz mais nos pesar,
sustentai nossa esperança de nossa fé.

Dom João Wilk, OFMConv.
Bispo de Anápolis

Rolar para cima