Lembro-me daquele sacerdote que, certa vez, participou da solene santa missa, na Catedral de Notre-Dame de Paris no dia 26 de junho de 2011, que coincidiu com a solenidade de Corpus Christi. Celebrava-a o Cardeal Vint-Trois. É bom lembrar que aquela bela igreja gótica fora construída durante dois séculos e vira, ao longo de sua história, a coroação de Enrique VI em 1431 e a beatificação de Joana D’Arc em 1909. Naquele 26 de junho de 2011, ao som do órgão maravilhoso e do aroma do incenso, entrava em solene procissão um grupo de sacerdotes presidido pelo bispo local para celebrar a sagrada liturgia da missa. A fumaça do incenso ganhava várias tonalidades por causa dos raios do sol filtrados em diversas cores pelo colorido dos vitrais; a suavidade do órgão levava os participantes à sinfonia dos anjos; a voz dos quatro cantores – afinadíssimos – transportava a assembleia à mística Jerusalém das belas vozes que não podem ser ainda escutadas pelos pobres mortais; o espaço da igreja, bem construído e muito bem-disposto, colocava o Povo de Deus junto aos anjos e santos e, misteriosamente, perto da Santíssima Trindade.
O espaço de nossas igrejas são expressão da ekklesía, isto é, da Igreja, do Povo santo chamado a celebrar, um lugar no qual estão presentes Deus e as criaturas: “o espaço litúrgico, sem perder seu caráter significativo, é avaliado por seu destino estável para as celebrações litúrgicas” (Julián López). O documento do Concílio Vaticano II sobre a Sagrada Liturgia afirma que na construção de nossas igrejas deve ser observada a funcionalidade tendo em vista tanto a celebração das ações litúrgicas quanto a participação ativa dos fiéis nas sagradas celebrações (cf. SC, 124c). A Igreja, ao longo dos séculos, conheceu vários estilos arquitetônicos: o românico, o gótico, o barroco, o neo-clássico etc. Estilos que a ajudaram a expressar, de acordo com a índole de uma época, um Povo adquirido para o louvor e glória de Deus (cf. Ef 1,14). “Também em nossos dias e em todos os povos e regiões a arte goze de livre exercício na Igreja, contanto que sirva com a devida reverência e a devida honra às exigências dos ritos e edifícios sagrados” (SC, 123).
É bem conhecida uma frase do “Idiota”, obra de Dostoievsky: “a beleza salvará o mundo”. São João Paulo II, depois de citar essa frase do escritor russo afirma que “a beleza é chave do mistério e apelo ao transcendente” (Carta aos artistas, 16). A beleza do Mistério entra na nossa história trazendo a glória de Deus e salvando-nos. Dessa maneira, se entende que tudo o que é belo apresenta-se como vestígio ou até mesmo semelhança de Deus. Sejam nossas igrejas belas e expressivas da beleza que salva o mundo, que é Jesus Cristo nosso Senhor.
Pe. Dr. Françoá Costa