Diocese de Anápolis

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Entrevista sobre 10 anos em Anápolis – 2015

Entrevistador: Orisvaldo Pires
14/01/2015

1 – Após dez anos de ministério em Anápolis, como o bispo avalia a evolução espiritual e estrutural da Diocese?

Não é fácil fazer uma avaliação totalmente objetiva e exaustiva. Há muitas coisas para serem mencionadas e apreciadas. Além disso, há sempre o ponto de vista pessoal, no caso do próprio bispo. Outras pessoas podem ter outra visão.

Do ponto de vista espiritual, estamos tentando dar continuidade ao trabalho dos dois primeiros bispos: Dom Epaminondas e Dom Manoel, valorizar o trabalho de tantos padres que por aqui passaram, assim como das religiosas e dos religiosos. A herança espiritual da Diocese de Anápolis é constituída por tudo que se fez durante a história, desde as origens da evangelização nestas terras. O rosto religioso do nosso povo é formado pelo trabalho de muitas pessoas. Hoje nós colhemos frutos e por isso somos agradecidos aos que nos antecederam.

A criação da Diocese, em 1966, foi um marco muito significativo e promissor. Tivemos dois bispos, Dom Epaminondas e Dom Manoel, que desenvolveram um intenso trabalho pastoral, cada um a sua maneira. Eram dois bispos de estilos diferentes. Este fato enriqueceu a caminhada espiritual dos fiéis. Do outro lado, causou algumas diferenças e até situações conflitantes. Apesar das diferenças, houve uma enriquecedora continuidade. Isto é visível, por exemplo, na participação dos leigos nas pastorais. Muitas lideranças jovens suscitadas por Dom Epaminondas, pastor permeado pelas ideias do Concílio Vaticano II, foram acolhidas e incentivadas por Dom Manoel. Continuam ainda hoje engajadas, já como pessoas adultas. Isto é nossa história e constitui o atual contexto do nosso trabalho. Em linhas gerais, as prioridades traçadas por Dom Epaminondas  e Dom Manoel são nossas prioridades: cultivo das vocações e a formação do clero, engajamento dos leigos, organização e incremento da catequese, família e juventude.

Durante esses dez anos aumentou o número dos seminaristas. Cada ano temos cerca de 60 seminaristas. É fruto do eficiente e bem organizado trabalho da pastoral vocacional e do incentivo por parte dos padres nas paróquias. Nestes dez anos tive a graça de ordenar 42 sacerdotes e 11 diáconos permanentes. Hoje, a maioria do nosso clero são sacerdotes jovens. Também foi criado o Seminário Propedêutico, que é um ano que antecede o ingresso no Seminário Maior, e o Seminário Menor, para os jovens do segundo grau que manifestam a vontade de serem padres. 

Em vista da formação do clero e dos fiéis em geral, estamos enviando padres para estudos superiores, de mestrado e doutorado, no Brasil e no estrangeiro.

Nos nossos tempos verificam-se notáveis mudanças demográficas e econômicas na nossa região. A preocupação pastoral do bispo volta-se para o crescimento das cidades, especialmente Anápolis, Alexânia, Nerópolis, Jaraguá. Surgem novos bairros com fortíssima demanda pastoral. Em atenção a isso, foram criadas 19 novas paróquias, totalizando 52. Graças a Deus, temos padres em número suficiente para atendê-las. Sentimos a dificuldade de conseguir terrenos nos bairros para construir igrejas e capelas e, como é compreensível, a falta de meios financeiros para comprar e depois construir.

A cidade de Anápolis é uma cidade de juventude, uma cidade universitária. Foi criado Setor Juventude, que promove a unidade de iniciativas pastorais e de movimentos juvenis em toda a Diocese. Também, demos atenção à Faculdade Católica de Anápolis – FCA.

No sentido das estruturas organizativas e físicas, merecem destaque a construção e as reformas de várias igrejas, capelas e casas paroquiais. De modo particular quero mencionar a construção da nova residência dos bispos e do Centro Pastoral João Paulo II. É uma grande edificação que abriga a Cúria Diocesana, escritórios das pastorais, lugar reservado ao museu de história e arte sacra, um auditório para as nossas assembleias e encontros de formação dos agentes de pastorais. Iniciamos a construção da capela do Seminário Maior.

Não posso deixar de mencionar a dimensão missionária. Além do projeto Diocese em Missão, que consiste na evangelização de casa em casa, assumimos a ajuda pastoral nas dioceses de Rubiataba-Mozarlândia – GO, Limoeiro do Norte – CE e na França. 

2 – Quais são as principais atividades da Igreja Católica previstas para 2015?

Seguir o ritmo do trabalho pastoral de cada dia já é um grande empenho: celebrações, festas, atendimento dos fiéis, assistência às pastorais, obras de caridade. Evitamos criar novas atividades sem uma evidente necessidade. Mas, fazendo o que é ordinário, tentamos ir em sintonia com as propostas pastorais do Papa e da Conferências dos Bispos do Brasil, p. ex. Novenas de Natal, Campanha da Fraternidade, Campanha para a Evangelização, eventos temáticos, p. ex. mês vocacional, mês missionário, Semana Nacional pela Vida e o Dia do Nascituro. No nosso campo concreto, continuamos com o projeto Diocese em Missão e com os programas do Triênio de preparação para o Jubileu de Ouro da fundação da Diocese, em 1966. 

3 – Como será celebrado o segundo ano do Triênio de preparação ao Jubileu?

O tema do segundo ano do Triênio é: “Jesus Cristo Filho de Deus e a Catequese”. Só para lembrar, no primeiro ano o tema foi: “Deus Pai e a Família”; no terceiro ano será: “Espírito Santo e a Missão”. Com esta formulação queremos aprofundar e nos inspirar no mistério da Santíssima Trindade e seus reflexos na nossa pastoral.

A última Assembleia Diocesana propôs as seguintes iniciativas:

– dar formação teológica aos catequistas,
– promover semanas bíblicas, gincanas, olimpíadas para os jovens da catequese da Crisma,
– as homilias sejam mias catequéticas,
– envolver os catequizandos na liturgia,
– celebrar o Dia do Catequista em nível diocesano,
– dinamizar os movimentos e pastorais para serem mais anunciadores,
– usar os meios de comunicação e redes sociais para maior divulgação dos conteúdos catequéticos,
– introduzir no currículo da catequese a prática das missões populares e da caridade,
– promover eventos culturais com os conteúdos catequéticos: festival de teatro, danças, filmes, vídeos etc. Deus permita que consigamos tudo isso. Será uma boa contribuição para a evangelização.

4 – Qual a mensagem da CNBB na Campanha da Fraternidade deste ano?

Será a 51a. Campanha da Fraternidade. É promovida durante a Quaresma, tempo forte de meditação da Paixão do Senhor e da conversão. A Igreja entende que é preciso converter-se para o Evangelho na vida pessoal, mas também na vida comunitária e social, ou seja, fazer com que a sociedade deixe de praticar o que é abominável aos olhos de Deus e aprenda a viver dignamente, com respeito a todos, segundo o Evangelho.

Este ano, 2015, a CF tem como tema a Igreja na sociedade, com o lema: “Eu vim para servir”. É um resumo das palavras de Jesus: ”O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos” (Mc 10, 45).

É a concretização do que o Papa Francisco nos ensina com as palavras e gestos pessoais. 

Em que consiste o serviço da Igreja na sociedade? Em primeiro lugar, o serviço da Igreja é o anúncio do Reino de Deus, apresentar Jesus como único Salvador, anunciar a dimensão espiritual do ser humano e a sua vocação para a eternidade, dar toda a assistência religiosa para que os fiéis alcancem esta meta. No entanto, Jesus, com a sua vinda ao mundo, nos ensinou um modo novo de viver. Disse que o Reino de Deus está no meio de nós, ou seja, Jesus Salvador está à nossa disposição e o Reino de Deus se faz visível quando os valores do Evangelho, do bem, da justiça, da paz, da dignidade se tornam visíveis. A partir disso, a Igreja servidora se faz presente na sociedade como fermento na massa. Ela não é alheia, ausente da sociedade, mas permeia a sociedade e a transforma. A Igreja não é dominadora, mas servidora, mesmo que alguns possam achar assim, quando a Igreja cobra certos valores: família, respeito pela vida desde a concepção até o seu fim natural, quando se opõe ao aborto e à eutanásia, quando se posiciona do lado dos pobres e defende a igualdade e a verdadeira democracia. É importante dizer que a Igreja não são apenas os seus dirigentes, mas as comunidades dos que creem e seguem Jesus Cristo inseridos nos seus meios de vida, são cidadãos crentes. A Igreja contribui para a construção da sociedade a partir de um projeto concreto: Jesus e o seu Evangelho. Portanto, a presença da Igreja na sociedade é algo muito dinâmico, assim como são dinâmicos os desafios que a sociedade enfrenta. É o diálogo, escuta, participação ativa dos leigos cristãos na política, numerosíssimas obras de caridade e de assistência social, as pastorais sociais etc.

5. O que já foi possível perceber da característica pastoral do Papa Francisco, que em março completa dois anos de pontificado?

O Papa Francisco contribui com a Igreja do mundo inteiro com a sua sensibilidade e sabedoria latino americana. Leva a leveza e a espontaneidade, que as pessoas apreciam muito e os “sábios” nem sempre conseguem compreender. Dos seus pronunciamentos percebe-se que é homem que assimilou o Evangelho e tem uma profunda espiritualidade. A sua incrível criatividade nas expressões e gestos, revela a alma transformada por Jesus Cristo. Apesar de notáveis diferenças de estilo entre o Papa São João Paulo II e Bento XVI, há uma coerência e continuidade quanto à doutrina, expressa de forma diferente, que o povo gosta e entende. São João Paulo II falava da “cultura da morte” e da “civilização do amor”. Bento XVI falava da “cultura do relativismo”. Francisco fala da “cultura do descartável” e da “cultura do encontro”. São ideias complementares, que manifestam a preocupação pela situação do mundo em todos os seus sentidos.

Os meios de comunicação querem manipular o Papa Francisco. Opõe a sua espontaneidade à seriedade do Papa Bento XVI. Criam simpatia em torno da espontaneidade do Papa e de algumas das suas expressões para, assim parece, desautorizar a doutrina da Igreja e o ensinamento dos papas anteriores. Isto tornou-se perceptível nos comentários sobre o último sínodo dedicado à família. Não fiquemos preocupados com a doutrina sobre a família. A Igreja não vai desistir daquilo que é o ensinamento de Jesus. Mas, diante das novas culturas e problemáticas que envolvem a família a Igreja se pergunta: como ajudar, como acompanhar para levar as pessoas ao ideal, sem descartar ninguém.

É bom destacar o esforço do Papa Francisco pela paz, o diálogo entre as religiões e o seu modo simples e direto de dizer a verdade, sem causar constrangimento.

O Papa Francisco dá muita atenção aos pobres e ao encontro pessoal com as pessoas. Alguns acham que isso é “populismo”, “pauperismo”, até “comunismo”. O Papa mesmo, com serenidade, responde: dar atenção aos pobres não é questão de ser “comunista” ou “populista”; é imperativo do Evangelho. 

Tenhamos certeza que o Espírito Santo, por meio dos cardeais que o elegeram, tem algo importante para dizer à Igreja e ao mundo. Nós o seguimos com filial sentimento e obediência.

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