Diocese de Anápolis

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Entrevista – Milícia da Imaculada – 2015

Santo André – SP, 09/07/2015

1. Em 14 de agosto de 2015 terá início o Ano Kolbiano, em preparação aos 75 anos do martírio do Frei Maximiliano Maria Kolbe, da Ordem dos Frades Franciscanos Conventuais, Fundador da Milícia da Imaculada.  Nós sabemos que o senhor viveu por um período na Cidade da Imaculada da Polônia. Que período da sua vida o senhor viveu?

Eu vivi na Cidade da Imaculada (Niepokalanów, em polonês) nos anos de 1965 a 1969. Ao todo, passei quatro anos em Niepokalanów, como seminarista menor.

Acho importante traçar um pouco a trajetória deste ingresso, ou seja, o meu itinerário vocacional.

Como criança e adolescente sempre participei da vida paroquial da nossa pequena paróquia no interior da Polônia. Tenho bonitas lembranças desse período. Fiz a catequese e a Primeira Comunhão, sendo preparado pelo pároco, sacerdote já idoso e muito bom. Dele tenho as melhores lembranças da minha vida.

Quando terminei a oitava série, o sacerdote da paróquia vizinha, que nos dava aulas de religião numa casa alugada, pois no tempo do comunismo a religião era proibida nas escolas, abordou o tema do “segundo passo”: quem eu quero ser na vida, e ajudou os alunos a encaminharem os documentos para o segundo grau. Entre outros caminhos, falou da vocação sacerdotal. Era o momento crucial na minha vida. No dia da minha Primeira Comunhão, a minha mãe me fez a mesma pergunta e a sugestão: quem sabe, você não gostaria ser padre? Eu era livre em escolher. Quando disse que gostaria de experimentar e entrar no seminário, a minha mãe me mencionou o Seminário Menor em Niepokalanów. Na verdade, desde jovem até o fim da vida, a mãe era assinante da revista “Cavaleiro da Imaculada”. Assim, nos últimos dias de agosto de 1965 (início do ano letivo na Polônia) o meu pai me acompanhou até Niepokalanów. Foi a minha primeira viagem para um lugar distante, fora da família.

2. O senhor poderia falar sobre esse período?

Teria muitas coisas para lembrar… Resumindo, posso dizer que foi um período em que me sentia bem. A acolhida foi muito fraterna. O reitor e os professores eram pessoas admiráveis. Até hoje o reitor me serve de referência em muitas coisas. A vida era simples em tudo, desde o primeiro dia, quando tivemos que fazer os nossos colchões feitos de grandes sacos enchidos de palha de trigo. Logo entramos na disciplina diária: Missa, aulas, recreio, atividades esportivas, círculos de arte e cultura, oração e avisos do reitor como último ato do dia.

Tinha curiosidade da vida no convento, com dezenas de frades não sacerdotes. Mas, não nos era permitido andar livremente nos lugares de convívio e de trabalho dos frades. Mesmo assim, tivemos contato e pudemos visitar os frades trabalhando. Havia ainda, naquele tempo, as construções de madeira que serviam de moradias e oficinas de trabalho. Era interessante ver frades, de hábito, sendo mecânicos, escultores em mármore, carpinteiros, cozinheiros, lavadeiros, além de tantos dedicados à administração do apostolado da MI. O trabalho era dividido em setores. Era uma organização inteligente, digna das grandes empresas modernas.

Uma coisa que me atraía era visitar, durante os passeios de domingo, a primeira capela e o primeiro conventinho feitos de madeira, transformados em museu. Olhava as coisas, lia os painéis, voltava a ver e ler de novo…

O reitor, de vez em quanto, convidava um irmão que conhecia pessoalmente São Maximiliano Kolbe a nos contar sobre a sua pessoa, sobre os inícios de Niepokalanów, sobre a missão no Japão, sobre a segunda guerra mundial. Desta forma crescia em mim a identidade franciscana e kolbiana.

No convento, ao encontrar as pessoas ou ao atender o telefone a saudação era com o nome de “Maria”. Assim a devoção a Maria se tornava uma das marcas da vida interna dessa comunidade dedicada à espiritualidade e ao apostolado mariano.

 3. Que atividades exercia lá?

Era apenas o aluno de segundo grau. Não usávamos o hábito religioso, porque ainda não éramos nem frades nem postulantes. Éramos apenas “meninos”. O discernimento vocacional, entrar ou não no noviciado, era deixado para o fim do último ano do Seminário Menor. Naturalmente, não era um simples internato; era um seminário com clara visão na futura consagração. Como já mencionei, além da sala de aula, tivemos muitas outras atividades que faziam a nossa vida diária dinâmica e interessante. Não esqueçamos que era um tempo de adolescência, com todos os seus desafios.

4. Dom Wilk, conte para nossos mílites do Brasil sobre a Cidade da Imaculada da Polônia.

Foi fruto da sensibilidade profética e do zelo apostólico de São Maximiliano Kolbe. O profeta é aquele que tem dupla sensibilidade: em relação a Deus e em relação ao mundo. O profeta percebe que o mundo não anda em sintonia com Deus. Desta dupla sensibilidade nasce o desejo de fazer alguma coisa. No caso de São Maximiliano era: “Conquistar o mundo para Cristo, pela Imaculada.” Claro, que para chegar a este ponto havia um longo caminho espiritual. O profeta vive uma tensão: rezar e agir, agir e rezar, agir rezando, rezar agindo.

São Maximiliano, com uma visão profética, via um grande potencial evangelizador nos modernos meios tecnológicos. Enquanto outros os usavam para fins de lucro e divulgação das ideologias contrárias à religião, outros ainda os criticavam como disseminação do mal, São Maximiliano os considerava como excelente meio de uma evangelização nova e eficaz.

Foi com este intuito que começou a editar os primeiros números da revistinha “Cavaleiro da Imaculada”. Depois, superadas muitas dificuldades, veio a ideia de construir um lugar onde os frades viveriam a autêntica pobreza franciscana e se dedicariam ao apostolado por meios da comunicação. Sem dúvida, foi grande pioneiro nas suas ideias e empreendimentos.

Em Niepokalanów viviam centenas de frades. Por isso, a obra ganhou o nome de “Cidade da Imaculada”. Lá se rezava, vivia na pobreza e trabalhava muito.

5. O que Padre Kolbe representa para os frades, religiosos, missionários e leigos que convivem naquele local?

Hoje muita coisa mudou. Mas não mudou o espírito de origem. As antigas construções de madeira não resistiram aos rigores do tempo, a questão das vocações se modificou, a antiga capela e a nova igreja tornaram-se santuário, há um grande fluxo de peregrinos e de pessoas que procuram os retiros espirituais etc. Continua, porém, a principal atividade de evangelização por meio da revista “Cavaleiro da Imaculada”, para os poloneses que vivem na Polônia e em muitos países do mundo Niepokalanów continua como a “central” do movimento da “Milícia da Imaculada”.

É bom dizer que Niepokalanów continua um convento dos frades franciscanos. Lá, quem trabalha na obra são frades, naturalmente, com a ajuda dos leigos e das religiosas. Fora deste centro, como é sabido, surgiram novas modalidades de consagração e de apostolado, como, p. ex. a comunidade missionária de Santo André, com as suas maravilhosas atividades.

6. Que mensagem o senhor daria a nossos mílties na abertura do Ano Kolbiano?

O ideal de São Maximiliano Kolbe continua atual, porque faz parte do ser da própria Igreja: ir pelo mundo e evangelizar, fazer discípulos. Mudam as formas e modalidades, mas fica de pé a verdade de que Maria Imaculada é a primeira discípula e a primeira missionária. Ela é modelo da Igreja e companheira do Povo de Deus peregrino (cf. Lumen Gentium). O Ano Kolbiano nos inspira a identificação com a Igreja, com a santificação e com a missão. A exemplo de São Maximiliano precisamos ser embebidos de espiritualidade e ágeis na ação com os meios que a atual cultura coloca nas nossas mãos, p. ex. o amplo campo da internet e das redes sociais.

Que Maria, Medianeira de todas as graças, alcance para nós, junto ao seu Filho, um renovado desejo de sermos o Evangelho vivo e sempre aberto para todas as pessoas com quem nos encontramos.

+ João Wilk, OFMConv.

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