Diocese de Anápolis

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Homilia no Corpus Christi – 2017

15/06/2017

VIVER DA EUCARISTIA E SER EUCARISTIA

Queridos irmãos e irmãs em Cristo! Amado Povo de Deus!


Teste de âncora


Estamos aqui reunidos em atitude de adoração para celebrarmos o Mistério do Santíssimo Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Viemos trazendo o Santíssimo Sacramento em procissão, que é uma expressão da nossa condição de peregrinos nesta terra rumo à morada definitiva no céu, onde a Santíssima Trindade nos espera para nos oferecer a comunhão sem fim, numa felicidade que não encontra expressão em palavras humanas e diante da qual a maior felicidade imaginada nesta terra é uma pálida sombra do que viveremos na glória do céu. Caminhamos formando um só povo, que tem os mesmos sentimentos e os mesmos desejos vividos na única fé. Assim é a Igreja, a Igreja viva, que somos nós, fazendo a nossa caminhada no dia-a-dia, indicando a meta definitiva para onde Jesus convida a todos os seres humanos.

A Celebração do Corpus Christi é como que complemento da Quinta-feira Santa: dia da instituição da Eucaristia, do sacerdócio ministerial e do mandamento do amor. Hoje, deixando ecoar a beleza do mistério pascal, de alguma forma completamos e exaltamos os principais aspectos da Eucaristia: Ação de graças, Sacrifício, Presença, Comunhão e Missão.

A palavra “eucaristia” significa “ação de graças”. A Igreja reunida em Assembleia agradece ao Pai celestial pelo dom da redenção, da fé batismal, da vida natural e espiritual, a capacidade de fazer o bem, a promessa de possuirmos a vida eterna. “Eu te agradeço, meu Pai…”, foi uma das expressões que Jesus pronunciou em diversas circunstâncias. Foi Jesus que nos ensinou a agradecer. Por isso, o ato de agradecer é a característica de cada seguidor e discípulo de Jesus, está no DNA de cada cristão. Isto é muito importante para o nosso trabalho interior em relação a Deus e aos irmãos. O povo cristão é o povo agradecido. Percebe e valoriza todo o bem que lhe é concedido fazer e todo bem que acontece ao seu redor: nas coisas, nas pessoas, nos acontecimentos, mesmo naqueles que causam dor, angústia e sofrimento.

O Sacrifício é a principal característica da Eucaristia. Agradecemos ao Pai, dando-lhe o maior presente digno da sua divindade, retribuímos a maior preciosidade que Ele mesmo nos deu: o seu próprio Filho que nos deu a maior prova de amor com o sacrifício e morte na cruz. Com o nosso “obrigado” que celebramos na Missa agradecemos também toda a nossa realidade: vitórias e derrotas, a nossa condição humana, vinculada à matéria perecível, defeituosa e caduca, que nos causa todo tipo de sofrimento. A Eucaristia nos ensina a repetir uma das passagens bíblicas que, pessoalmente, me marcou muito: “Completo na minha carne o que falta às tribulações de Cristo na Cruz em favor do seu Corpo que é a Igreja” (Col 1,24).

Naturalmente, nada falta à Paixão redentora de Cristo quanto ao merecimento. Mas essa se completa enquanto aplicação para a redenção de cada membro do seu Corpo Místico. Uma vez alcançada a redenção, Ela se estende, isto é, toma vulto concreto em cada criatura humana no decorrer dos séculos. É preciso, por desígnio de Deus, que os cristãos, um por um, percorram o mesmo caminho trilhado pelo Senhor, isto é, padeçam em união com Cristo uma parcela da Paixão redentora, assimilando-a a si, a fim de conseguir os efeitos desta no dia da ressurreição dos corpos. Quando um cristão sofre em espírito cristão, isto é, como membro vivo do Corpo Místico, já não é um simples filho de Adão que padece em castigo do pecado, mas é o Cristo que nele sofre para estender a ele a obra da Redenção.

A Paixão de Cristo nos penetra e transforma a nossa sorte em sacrifício redentor de Jesus. Nada é inútil na vida do cristão, quando tudo é oferecido, por Cristo, com Cristo e em Cristo, a Deus Pai. Tudo adquire o valor da redenção.

Pensando no sacrifício redentor de Jesus nos vem a pensar que o Sacrifício na Cruz foi em expiação dos nossos pecados. Ora, unir a nossa vida à Cruz de Cristo, é também o convite a fazermos da nossa vida repetidos atos de expiação pelos nossos pecados e pelos dos outros. É importante rezar, praticar a caridade e sofrer em expiação dos pecados. Cometemos tantos. Outros também os cometem em abundância. Vivemos o clima de violência no mundo, no nosso País e na nossa cidade. A violência contra o ser humano ou contra a natureza é também violência contra Deus. Com os nossos atos de expiação fazemos como que contrapeso ao infinitamente justo e amoroso Coração do divino Pai. Como Cristo, carregamos em nós os pecados dos outros. É preciso fazer atos de expiação por aqueles que não creem na Eucaristia, a desprezam, ou profanam.

Se no plano físico a morte de Jesus na Cruz foi a mais alta expressão do seu amor por nós, no plano espiritual a mais alta expressão do amor oblativo de Jesus é o perdão: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que estão fazendo” (Lc 23,34). Na nossa união com Cristo pelo Batismo e pela Eucaristia está inscrito o dever de viver a mesma atitude de Jesus: prontos a perdoar. Nós cristãos devemos sempre e de novo aprender a perdoar! Não se é cristão de verdade, se não se é capaz de perdoar. Não nos podemos aproximar a Santa Comunhão, se não há em nós a total disponibilidade de perdoar, a quem que seja e o que quer que seja. O perdão faz-nos morrer a nós mesmos para devolver a dignidade a outra pessoa, cuja imagem foi destorcida em nós pela ofensa que nos fez. A palavra “rancor”, “ódio”, “vingança” e semelhantes, não pertencem ao dicionário cristão.

Eucaristia é presença. Hoje é o dia privilegiado para manifestarmos e renovarmos a nossa fé nesta indiscutível verdade: Cristo está presente, vivo e total, na Hóstia Santa e no Vinho Consagrado. Com esta presença eucarística, Jesus cumpre o que prometeu: “Não vos deixarei órfãos” (Jo 14,18) “Estarei convosco todos os dias, até o final dos tempos” (Mt 28,20). Jesus está presente entre nós de tantas formas; de modo especial na Eucaristia. Cada vez que o sacerdote pronuncia as palavras de Jesus: “Isto é o meu Corpo. (…) Este é o cálice do meu sangue”, diante de nós se repete o milagre que transforma um simples pão na presença viva e real de Jesus. Quando o sacerdote pronuncia: “Eis o mistério da fé”, cessam a lógica e as evidências humanas e se abre o espaço para o espírito que se curva diante do Deus vivo e verdadeiro que está entre nós. E por causa desta presença, Ele é digno de todo louvor e adoração.

São Francisco de Assis era o grande exemplo do culto eucarístico. Por causa desta presença, venerava os sacerdotes, mesmo os pecadores: “O Senhor me deu e ainda me dá tanta fé nos sacerdotes que vivem segundo a forma da santa Igreja Romana, por causa de suas Ordens… E hei de respeitar, amar e honrar a eles (…) como a meus senhores. Nem quero olhar para os pecados deles porque neles reconheço o Filho de Deus. E procedo assim porque do mesmo altíssimo Filho de Deus nada enxergo corporalmente neste mundo senão o seu santíssimo corpo e sangue, que eles consagram e somente eles administram aos outros.” (Testamento 3).

Na segunda leitura de hoje ouvimos as palavras de São Paulo aos cristãos de Corinto (1 Cor 10,16-17): “O cálice que abençoamos, não é comunhão com o Sangue de Cristo? E o pão que partimos não é comunhão com o Corpo de Cristo? Porque há um só pão, nós somos um só corpo”. A Eucaristia é a nossa comunhão com Jesus, de maneira que, ao comungar, entra em nós mesmos Jesus Cristo vivo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, com seu corpo, sangue, alma e divindade (CIC). Se realiza, em anúncio e antecipação, a nossa plena comunhão com Deus, na feliz eternidade.

Esta comunhão divina causa um efeito também entre nós. Unidos em Cristo, formamos um só corpo: somos muitos num só corpo (cf. 1 Cor 10,17), somos um organismo só. A Eucaristia nos faz Igreja, nos faz um único Povo de Deus. Reunidos em assembleia litúrgica, a comunhão se faz visível. Mas, quando estamos dispersos e dedicados a nossos afazeres diários, continuamos membros do mesmo Corpo Místico de Cristo. Viver da Eucaristia e ser Eucaristia implica em sermos a Igreja comunidade; uns responsáveis pelos outros, tanto no campo espiritual como material. A santidade de uns santifica os outros. O pecado de uns interfere na beleza de toda a Igreja. Os primeiros cristãos viviam Eucaristia também no aspecto material, praticavam a partilha. Hoje, mesmo em tempos diferentes, continuamos responsáveis uns pelos outros, tanto no plano espiritual, como moral e material. Daí, que vem o nosso empenho pela luta pelos valores morais a serem defendidos e preservados na nossa sociedade, pela justiça social, para que não haja necessitados entre nós, engajados na participação ativa em diversas estruturas da vida social.

Este ano a Diocese vive o seu Jubileu de Ouro – 50 anos da fundação. Em diversos momentos celebramos o Jubileu das Pastorais e classes dos fiéis para colher graças que o bom Deus derrama sobre nós por esta ocasião. Hoje, na festa do Corpus Christi, celebramos o Jubileu dos Leigos. Na Carta Pastoral “Alegra-te, ó Mãe Igreja”, escrevia da missão dos batizados na Igreja e na sociedade. Graças a Deus são muitos leigos engajados nas pastorais e serviços. Merecem o nosso agradecimento e ardente convite para continuarem a participar na vida da Igreja, para a sua santificação e salvação. Quero também, neste momento, lembrar a necessidade de uma maior presença e atuação dos leigos católicos na sociedade. Por vezes nos deparamos com o espírito de crítica ou resignação diante das coisas que andam mal. Mas isto não basta. Não podemos nos deixar por derrotados pelo mal. Devemos agir e comprovar que o bem sempre vence. Participar da construção da sociedade, das diversas instâncias da vida social, não significa fugir do espírito da fé. Pelo contrário, é a fé colocada em prática. Lembremos que a fé sem obras é morta. Lembremos que da caridade e dos atos a favor dos outros seremos julgados no final dos tempos. Em nome da fé, devemos estar mais presentes na vida social.

Neste sentido, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, por sugestão dos Bispos do nosso Regional Centro Oeste, proclamou o dia de hoje como dia de Oração pelo Brasil. com o lema: “A paz começa no seu coração”. Diante das crises que assolam tantos setores da vida do País, a nossa primeira atitude é a oração, a súplica a Deus Pai que tenha misericórdia do nosso Brasil. Que se recupere o temor de Deus e, a partir disso, que se restaure a honestidade, a justiça, o respeito, a responsabilidade, a moralidade. Que se restabeleça a paz nos corações e se devolva a esperança e a confiança, há tempo roubadas pelo sistema que permite a corrupção, o egoísmo, a exploração e a impunidade. Que cesse a violência que amedronta a todos e dissemina medo por todo que é canto. Que se restaure a decência, senso de responsabilidade, inclinação natural para fazer o bem e inibir o mal. Que a vida seja respeitada e defendida em todas as suas etapas, desde a concepção até o decurso natural. Que as crianças, os adolescentes e os jovens tenham uma adequada educação e a esperança de um futuro seguro e promissor. Que se garanta à família o caráter de primeira célula da sociedade, onde se semeia e cultiva homens e mulheres felizes.

Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo!

+ João Wilk,OFMConv.

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