Diocese de Anápolis

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Entrevista “ping pong” sobre a Igreja

Curso de Comunicação Social – Jornalismo
Entrevista ping-pong
. Entrevistador: Igor Nery
Entrevistado: Dom João Wilk (Bispo de Anápolis – GO)

 

1. Qual o aspecto principal que a Igreja defende, ou seja, se fundamenta como modelo?

A Igreja se inspira em Jesus Cristo, que disse: “Eu sou o caminho a verdade e a vida”.
“Caminho”, significa o modo de proceder segundo os ensinamentos de Jesus. Jesus é o Mestre. O “código de trânsito” para o cristão é o Evangelho. Significa também reconhecer Jesus como único Salvador.
“Verdade”, significa que no ensinamento de Jesus está a visão correta e complete sobre o ser humano, sobre o mundo e sobre a sociedade. É o que nós chamamos de antropologia cristã: ver o valor da pessoa à luz da Revelação, ou seja, da sabedoria de Deus.
“Vida”, significa viver na comunhão com Deus, pela graça. Nós somos criaturas como as outras, com a diferença de sermos dotados de amor, liberdade, inteligência e, principalmente, de alma imortal. Temos a convicção de que toda pessoa humana é chamada à eternidade. Tomara que seja uma eternidade com Deus, que é o céu.

2. Como a Igreja se posiciona em relação às críticas sobre o período em que esta instituição e o Estado eram a mesma coisa?

Na verdade, nunca a Igreja e o Estado eram a mesma coisa. Havia a união entre o poder civil e o poder religioso.

A Igreja é uma instituição divina, mas vive na história. A verdade é imutável, mas as formas de vive-la são sujeitas às circunstâncias e convicções de cada cultura e momento histórico. Neste sentido, a Igreja passou por duras perseguições por parte do poder civil. Basta lembrar os primeiros séculos da perseguição por parte do poder romano. Depois, a Igreja ganhou a liberdade de culto e foi reconhecida como religião pública e oficial. Na Europa, a Igreja, graças ao trabalho dos missionários, a sociedade toda se tornou cristã. Isto fez com que o cristianismo se tornasse a religião também dos governantes. Isso foi bom em algumas coisas, foi ruim em outras. A Igreja dependia muito das decisões e influências dos governantes. Depois veio a separação da Igreja, e de qualquer religião, do Estado. Em princípios, isto é bom porque à Igreja ser livre quanto ao culto, à nomeação dos bispos e dos párocos. Mas em outros aspectos continua condicionada pelo poder civil.

Hoje, se passa, infelizmente, ao  extremo: se faz a afirmação de que o Estado é laico e em nome da laicidade mal entendida tenta-se combater todos os princípios fundamentais da religião, da vida, do valor da pessoa, da família. A laicidade do Estado não significa um Estado ateu e/ou antirreligioso. Significa que neutro e não interfere nos assuntos da doutrina e da organização interna da Igreja.

Quanto às críticas, sempre existiam e existirão. Se são justas, é motivo de se corrigir. Mas muitas vezes são críticas parciais ou ditadas por uma ou por outra ideologia, nem sempre verídicas. Atos isolados são engrandecidos e os benefícios são silenciados. Assim se falsifica a história.

3. Porque o número de católicos sofreu queda significativa nestes últimos anos?

Isto depende de muitos fatores. É importante dizer que este fenômeno atinge todas as denominações cristãs, tanto católicas, como ortodoxas e de tradição protestante em geral.

Vivemos uma época da crise da fé. Vivemos para o imediato, sem se preocupar com a dimensão espiritual. O materialismo tornou-se uma regra. Em muitos casos, o materialismo e o ateísmo são considerados como verdadeiros dogmas da fé. Em nome da ciência se nega qualquer valor espiritual e sobrenatural. É óbvio que isto não corresponde ao que é verdadeira ciência, pois a ciência são duas realidade distintas e cada uma deve ficar no seu âmbito próprio. Criam-se os novos paradigmas, referências, em claro contraste com a lei natural e a lei divina.

Outro elemento é a busca de novas experiências espirituais. As ideologias, o materialismo e o ateísmo criaram rejeição a tudo que é tradicional. A primeira vítima disso é a fé cristã a as instituições tradicionais, como p. ex. a família.

O terceiro elemento eu citaria o proselitismo, nem sempre honesto, de novas expressões religiosas, especialmente dos grupos evangélicos pentecostais e neopentecostais, que se voltam abertamente contra a Igreja Católica.

4. Como a Igreja tem trabalhado na recuperação e conversão de seus fiéis?

A Igreja continua na sua missão: anunciar a Boa Nova da Salvação. Hoje a Igreja tem um dinamismo pastoral muito grande, apesar das contrariedades que encontra. Ao lado dos sacerdotes trabalham muitos leigos conscientes da sua fé. Entre as pastorais predominam as que trabalham com a juventude e com a família.

No aspecto da evangelização importante papel tem o movimento da Renovação Carismática Católica, com novas formas e expressões de propor a verdade religiosa. Com bastante êxito.

O número de sacerdotes está aumentando, mesmo que em grau insuficiente em proporção ao crescimento da população. Na nossa Diocese, graças a Deus, não se sente muito este problema.

A Igreja procura corresponder aos desafios da cultura moderna, p. ex., utilizando os meios atuais de comunicação.

Outra coisa importante é que, se de um lado diminui o numero dos que se dizem católicos, do outro lado aumenta a qualidade dos que são fieis. Há procura pelos retiros espirituais e encontros de formação.

5. Qual o pensamento da Igreja católica sobre o aborto?

A questão da vida é o principal “campo de batalha” no mundo atual. A Igreja afirma a sua posição a favor da vida, desde a concepção até a morte natural. Cada ser humano concebido é uma nova vida, que precisa ser acolhida, ajudada e protegida, porque é uma vida indefesa. A família é o primeiro e mais importante ambiente em que a vida é concebida e protegida. Mas, a vida tem valor independentemente das circunstâncias em que é concebida ou porque se tornou improdutiva. O aborto e a eutanásia são duas atitudes que atentam contra o valor inviolável da vida.

O aborto, no âmbito religioso é pecado grave; no âmbito civil é crime.

6. Qual o pensamento da igreja quanto ao envolvimento sexual do homem e da mulher fora do casamento?

A Bíblia diz que o ser humano foi criado por Deus: homem e mulher Deus os criou. Depois disse: crescei e multiplicai-vos. Assim foi criada a família. Jesus elevou o amor entre homem e mulher ao valor de sacramento, a ponto de ser sinal do amor com que Deus ama a Igreja e a cada um de nós. O amor de Deus é incondicional, é fiel e permanente. Assim é o matrimônio: tem por base o amor recíproco fiel e permanente, indissolúvel.

A infidelidade matrimonial fere esta lei de Deus. Mas, fere também a dignidade de cada pessoa. Cada um gosta de ser respeitado e considerado, ser único para o outro. A infidelidade fere profundamente a dignidade da pessoa. Diante da liberdade de uniões cria-se a cultura do descartável. E é nada pior do que sentir-se objeto descartável.

7. Na visão católica, qual o principal legado de Deus para a sociedade?

Deus quer ser reconhecido como único Deus: “Feliz a nação, cujo Deus é o Senhor” (Salmo 32,12). O homem, para ser plenamente feliz, deve reconhecer que Deus é o seu único Senhor. Daí decorre a principal mensagem e preceito: amor, paz e justiça.

8. Qual o verdadeiro significado da Páscoa?

A palavra Páscoa significa passagem da morte para a vida. O centro da mensagem cristã é Jesus, que com a morte na cruz nos resgatou do poder do pecado e com a sua ressurreição nos redimiu, resgatou e nos entregou a Deus. Nós vivemos a Páscoa quando passamos do estado de morte para o estado de vida, vida nova em Cristo. Nós vivemos a Páscoa quando deixamos de praticar o mal e começamos a praticar o bem.

9. Qual a importância das reuniões de grupos de jovens?

A juventude é uma das principais atenções pastorais da Igreja. Basta lembrar a Jornada Mundial da Juventude, realizada este ano no Rio de Janeiro, com a presença do Papa Francisco. A JMJ reuniu cerca de três milhões de jovens do mundo inteiro. “Esta é a geração do bem!”, dizia alguém.

Para cada jovem é importante viver com os outros. O individualismo é insuportável, não desenvolve a pessoa. Então, os grupos juvenis da paróquia são espaços de relacionamento. São grupos com perfil definido, voltados para a religião e para os principais valores da vida. Os jovens se alimentam com conteúdos sólidos, que influenciarão as suas vidas. É na juventude que se forma a pessoa adulta. Portanto, a vida terá gosto do alimento que se ingeriu na juventude.

10. Na visão da Igreja no âmbito nacional, porque o Brasil é o país com o maior número de seguidores católicos do mundo?

Porque o Brasil é um dos maiores países do mundo e o Brasil nasceu da fé católica. Nasceu aos pés da cruz, com a primeira Missa rezada no solo do Continente descoberto. A fé, graças ao trabalho dos missionários, crescia junto com o crescimento do País. A Igreja cuidava das almas, da educação, dos hospitais. Onde o povo fundava novos povoados e cidades, levava a fé. A igreja-templo foi o principal edifício de cada cidade ou povoado. A cultura era vivida e transmitida em torno da Igreja e das suas festas religiosas e folclóricas. A fé católica está na raiz da nossa história e da nossa cultura. É preciso lembrar que havia fortes conflitos com o poder do Estado, p. ex., na questão da defesa dos povos conquistados. É preciso que se faça a leitura completa da história, sem unilateralidade e sem preconceitos. O famoso Cônego Trindade, nascido em Jaraguá – GO, na nossa Diocese, resumiu esta questão muito bem, no seu livro “Lugares e Pessoas. Subsídios Eclesiásticos para a história de Goiás”(1948): “O ouro criou lugares, mas um dia esgotou-se. Os prepostos de D. João V não conheciam a nossas gente, mas conheciam as nossas jazidas. O padre, o prelado, o bispo não só vieram, mas se identificaram com a gente da terra. Já velhos e alquebrados, morreram no meio de seu rebanho, abençoando os filhos, cujos pais eles haviam casado. A história dos lugares goianos não se escreve sem o padre batizador”.

Atualmente, há na Igreja um trabalho intenso e de qualidade por parte de sacerdotes, religiosos(as) e de leigos(as) engajados, católicos que não apenas praticam atos religiosos, mas vivem de forma consciente e comprometida a sua fé, no amor profundo a Deus, à Igreja e ao próximo.

 

 

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