Diocese de Anápolis

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Entrevista – Semana Santa e Páscoa – 2008

Pe. Walter Trautenberger, 25/03/2008

1. Dom João, como foi a celebração e participação desta Páscoa, com a Semana Santa toda, na diocese de Anápolis, em relação às anteriores?

Tenho impressão de que aumenta o número de participantes de ano em ano. O nosso povo está descobrindo os valores religiosos e cresce na espiritualidade do mistério pascal. Isto, acredito, é fruto de uma ação pastoral mais sistemática dos nossos padres e agentes de pastorais, da catequese e da participação dos nossos fieis em pastorais e movimentos, verdadeiras escolas de participação, comunhão e espiritualidade.

2. O que faz a Semana Santa ser tão especial e diferente das outras épocas do ano?

A Páscoa é o coração do Ano Litúrgico. É a celebração central do mistério da nossa salvação. Os três dias grandes (Tríduo Sacro) que antecedem a Páscoa e suas celebrações são, na verdade, três graus de uma única celebração pascal, dos diversos aspectos do mesmo mistério. Por isso se recomenda aos fiéis uma participação ativa em todos estes dias, porque só assim se tem uma dimensão completa da fé em Cristo que nos salvou com sua Paixão, Morte e Ressurreição. É bom lembrar que o valor salvífico não se limita à morte de na cruz, mas está presente em todos os momentos e mistérios da vida de Jesus. No Tríduo Sacro tudo isso chega no auge como expressão do amor infinito de Deus Pai por nós, na doação incondicional do seu Filho: doação na Eucaristia, doação no serviço, doação no sacerdócio ministerial, doação na extrema humilhação, doação na morte da cruz, doação da vida nova na ressurreição.

3. Teve alguma coisa, algum acontecimento, que marcou o senhor profundamente nestes dias?

Gostaria de citar mais de uma: houve grande procura das confissões, graças também ao “mutirão” das confissões nas quatro regiões pastorais da Diocese, a participação numerosa nas celebrações da Quinta-feira Santa e na Sexta-feira Santa e, para lamentar, ainda pouca participação na Vigília Pascal do Sábado Santo. Há anos estou observando este fenômeno e vejo que é um desafio para a nossa evangelização.

4. Qual é o significado exato da liturgia da Sexta-feira Santa, chamada “Adoração da cruz”? Muitas pessoas acham que estejam venerando e adorando um pedaço de madeira, e têm dificuldades com isso, já que não foi a madeira que nos salvou, mas o sacrifício de Jesus?!

Sim, a expressão litúrgica é exatamente “adoração da cruz”, não “veneração”. A liturgia da Sexta-feira Santa tem três partes: liturgia da Palavra, adoração da cruz e a Santa Comunhão. A cruz é levada solenemente e aclamada com “Eis o lenho da cruz, do qual pendeu a salvação do mundo”. O povo exclama: “Vinde, adoremos!”. A Igreja apresenta a cruz olhando “para dentro” do mistério. Não se fica no aspecto exterior do lenho, nem do sangue e da morte, mas percebe-se que naquela cruz esteve suspensa a Salvação do mundo. A cruz é o lugar onde se deu o destino do homem e do mundo. A cruz é o lugar da luta entre a vida e a morte. Jesus, na cruz, lutou até o fim para a nossa salvação. Aí ele nos amou de forma radical e decidiu o nosso destino. A cruz, então, não é objeto qualquer, mas espaço da nossa salvação. São Paulo diz: “Toda a nossa glória está na cruz de Jesus”.

5. O que podemos fazer para levar os fiéis a participar mais do momento principal de toda a Quaresma e Páscoa, que é a Vigília Pascal?

A primeira evangelização da América Latina e do Brasil evidenciou o aspecto da Paixão e da morte de Jesus na cruz. Parece que não se deu devido valor ao fato principal, ou seja à Ressurreição. Cabe a nós, então, procurar meios para levar a fé do povo da etapa da Paixão para a etapa da Ressurreição. Precisamos enfatizar mais isto nas pregações, durante a Quaresma, na catequese das crianças e dos jovens, nas dramatizações da Semana Santa.

Uma outra coisa parece-me importante destacar: o aspecto litúrgico e de piedade popular das celebração. O nosso povo gosta das procissões. As procissões são expressões válidas da fé devocional, mas contém também um certo valor litúrgico, de forma que nas procissões se encontram a dimensão popular e a dimensão litúrgica da fé. Quem sabe, praticar uma procissão do Senhor Ressuscitado na manhã, antes da Missa da Páscoa, seria uma boa pedagogia para despertar interesse pelo valor da Páscoa da Ressurreição.

6. Como podemos viver bem a graça pascal nestes 50 dias, até a festa de Pentecostes?

É Tempo Pascal. Tempo de viver a vitória de Jesus sobre a morte. À luz do Documento de Aparecida, esforçar-se por ler os “sinais da morte” e os “sinais da vida”, em nós e ao nosso redor. Crer na Ressurreição de Jesus é apostar na vitória do bem sobre o mal. Viver a Páscoa no dia a dia significa alimentar a vontade para praticar o bem, viver a esperança, fugir do mal e não deixar-se condicionar pelas suas manifestações. Uma vida de oração nos fornecerá sempre uma boa luz para isso. A participação ativa nas Missas dominicais nos fará descobrir o domingo como Dia do Senhor Ressuscitado, a “Páscoa semanal”.

+ João Wilk, OFMConv.

 

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